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A história de uma trágica divisão

26/04/2018 07h02

Seul, 26 abr (EFE).- Separadas há 65 anos por uma das guerras mais sangrentas da história, as duas Coreias terão nesta sexta-feira sua primeira cúpula em 11 anos, o que abre a esperança para uma paz permanente para a península dividida pelos países.

Esta reunião, que será realizada na localidade de Panmunjeom e na qual se verão cara a cara o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, é o primeiro encontro deste tipo desde a cúpula intercoreana de 2007 e acontece após um ano onde a tensão na península alcançou níveis nunca vistos.

Após a II Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos e a União Soviética repartiram entre si a Península da Coreia, colonizada pelo Japão desde o início do século 20, traçando uma divisa ao longo do paralelo 38. A parte norte ficou nas mãos de Moscou, e a sul com Washington.

Os soviéticos colocaram a cargo da Coreia do Norte um guerrilheiro coreano que lutou contra a invasão japonesa na região chinesa da Manchúria e se chamava Kim Il-sung. Com ele nasceu em setembro de 1948 a República Popular Democrática da Coreia (nome oficial da Coreia do Norte) e uma das dinastias de ditadores mais longevas e peculiares da história recente, que agora é liderada por seu neto Kim Jong-un.

A sangrenta Guerra da Coreia começou quando o exército norte-coreano, com o aval de Moscou, invadiu o sul em 25 de junho de 1950 com o objetivo de reunificar um país dividido. Um sonho que o regime norte-coreano ainda mantém como um dos seus princípios ideológicos.

As forças dos Estados Unidos lideraram uma coalizão da ONU para defender o Sul na sua luta contra o Norte comunista, que tinha o apoio da China e da União Soviética.

O conflito durou três anos e acabou em 27 de julho de 1953 com terríveis consequências humanitárias e a assinatura de um armistício que voltou a fixar a fronteira em torno do paralelo 38.

A devastação foi total na Coreia e, segundo os historiadores, o número de civis que morreu na disputa foi de cerca de três milhões, a maioria do Norte, o que representaria entre 12% e 15% da população que tinha o território naquela época.

Segundo a versão norte-coreana deste conflito transmitido através da propaganda oficial, se tratou de uma disputa iniciada pelo Sul e os invasores americanos que responde oficialmente ao nome de "Grande Guerra de Libertação da Mãe Pátria".

Desde então, se sucederam quase sete décadas de ataques e provocações armadas por parte de ambos Estados, assim como de negociações fracassadas e tensões em torno do programa nuclear norte-coreano.

Em 1991, ambos países assinaram um acordo de reconciliação e não agressão, ao que se seguiu depois uma declaração conjunta sobre a desnuclearização da península coreana.

A da próxima sexta-feira será a terceira cúpula intercoreana da história, depois das que aconteceram em Pyongyang nos anos 2000 e 2007, na década conhecida como a era da "política do sol", que marcou a fase de maior aproximação até o momento entre os dois países.

Estas cúpulas envolveram o falecido líder e pai de Kim Jong-un, Kim Jong-il, e os também falecidos ex-presidentes do Sul, Kim Dae-jung e Roh Tae-woo, respectivamente, ambos liberais como Moon.

A cúpula entre Seul e Pyongyang será realizada em um clima de aproximação entre ambos países, e se terminar com sucesso, poderia concluir com um tratado de paz que substitua o armistício de 1953 - também conhecido como Paz de Panmunjom - e um plano concreto para a desnuclearização da península.

O encontro também servirá para preparar o terreno em relação à cúpula entre Washington e Pyongyang, que poderia acontecer no final de maio ou no início de junho, mas para a qual ainda não se fixou nem data nem local.