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Natalie Portman exalta "valores judaicos" ao enfrentar direita israelense

26/04/2018 06h01

Maya Siminovich.

Jerusalém, 26 abr (EFE).- A recusa da atriz Natalie Portman a receber o Prêmio Genesis - considerado o Nobel judaico - foi um banho de água fria para o governo e a direita de Israel, que reagiram com duras críticas à decisão, vista por alguns até mesmo como antissemitismo.

Nascida em Jerusalém em 1981 como Neta-Lee Hershlag, Portman cresceu nos Estados Unidos e nunca escondeu o orgulho pelas "raízes israelenses e herança judia", como disse ao anunciar que não compareceria à entrega do prêmio.

A recusa da atriz foi motivada pelo aumento da violência em Gaza e por não querer aparentar que apoia o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que faria um discurso na cerimônia.

"Os maus-tratos com os que sofrem as atrocidades de hoje não estão em linha com os meus valores judaicos. Como me preocupo com Israel, devo me opor à violência, à corrupção, à desigualdade e ao abuso de poder", justificou.

O prêmio de US$ 1 milhão para ser investido em causas humanitárias é concedido a "indivíduos que servem de inspiração às próximas gerações de judeus através de suas excelentes conquistas profissionais e por seu compromisso com os valores judaicos e o povo judeu".

Antes de Portman, o prêmio foi concedido ao violinista Itzhak Perlman, ao ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e ao ator Michael Douglas.

A ministra de Cultura, Miri Regev, lamentou que a atriz tenha caído "nas mãos dos que apoiam o BDS" (movimento de boicote a Israel). Na segunda-feira passada, o parlamentar do Likud, Oren Hazan, declarou que "quem boicota o primeiro-ministro boicota todos nós".

"Portman é uma antissemita. Agora as pessoas dizem: 'olha, até a judia mais ética ataca o Estado judeu.' Se não quer ser parte de nós, que renuncie à sua cidadania", ressaltou Hazan.

O ministro de Energia israelense, Yuval Steinitz, também acredita que a rejeição a receber o prêmio "beira o antissemitismo".

"Por que se incomodaram tanto aqui em Israel? Eu diria que pelo medo da direita radical israelense, que está em uma situação psicológica tão frágil que já não consegue distinguir entre inimigos e amigos. Portman é definitivamente uma amiga de Israel", comentou o professor de sociologia Jerome Bourdon, da Universidade de Tel Aviv.

Rachel Azaria, do partido de centro Kulanu, que integra a coalizão do governo, escreveu no Twitter que a recusa da atriz deve ser um "sinal vermelho" para Israel.

"Ela fala por muitos judeus dos Estados Unidos, especialmente das novas gerações. Perdê-los é um alto preço a se pagar", advertiu.

Não é a primeira vez que Portman expressa críticas contra o primeiro-ministro. Em 2015, a atriz o acusou de fazer comentários racistas e disse estar "muito descontente e decepcionada" com a reeleição de Netanyahu.

No atual clima de violência na fronteira com Gaza, outras vozes israelenses afirmam que a "rebelião" de Portman é pequena.

"Netanyahu é certamente um problema, mas ele não é o problema pelo qual Portman, uma pessoa com boa consciência e sionista, deve fazer ouvir a sua voz", afirmou o jornalista Guideon Levy no jornal "Haaretz", ao advertir que a tendência da esquerda israelense de personificar todos os males em Netanyahu é um desserviço à causa contra a ocupação, que vem de muito antes.

"O problema real que temos em Israel é a ocupação. E assim entendemos a mensagem de Portman", disse Hagit Ofran, do movimento pacifista Shalom Ajshav (Paz Agora).

Essa organização lançou nesta semana uma campanha no Facebook chamada "Estou com ela", ilustrada com uma foto de Portman. A iniciativa busca apoio ao lema: "Porque me importo com Israel e me oponho à violência, à corrupção, à desigualdade e ao abuso de poder", uma frase já pronunciada pela atriz.