"Guardiões" da Amazônia preservam essência de sua casa sagrada
Yolanda Salazar.
La Paz, 27 abr (EFE).- Os "guardiões" da casa grande, como os povos indígenas da Bolívia chamam a Amazônia, preservam sua floresta sagrada da mudança climática com uma gestão sustentável de espécies como o lagarto e de recursos como o incenso e o cacau, que são a essência da sua forma de vida.
A gestão territorial de povos indígenas em áreas da Amazônia boliviana conseguiu fazer com que seu habitat sofra muito menos com o desmatamento, entre outros perigos que ameaçam o pulmão do mundo.
A Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre (WCS, na sigla em inglês) se aproximou durante mais de 18 anos dos povos leco e tacana, que se encontram no norte de La Paz, e registrou em 17 publicações de estudos sua contribuição na conservação.
"O que nós queremos fazer com este material é dar visibilidade ao grande valor da gestão territorial indígena e sua visão", explicou à Agência Efe o diretor do programa de conservação Grande Paisagem Madidi-Tambopata da WCS, o inglês Robert Wallace.
"Têm um papel proativo e realmente merecem um reconhecimento porque estão comprometidos com o seu lugar, a conservação e o melhoramento dos seus meios de vida", indicou.
A concepção da natureza como "uma força sagrada" e a proteção da biodiversidade os transformam nos "guardiões" das florestas.
"Para nós a floresta é a nossa casa grande e, de acordo com a nossa filosofia, devemos respeitá-la e cuidá-la, mas ao mesmo tempo, o monte cuida de nós porque nos dá plantas medicinais e alimento", disse à Agência Efe o grande capitão leco, Ovídio Durán.
Durán, também representante da Central Indígena do Povo Leco de Apolo (CIPLA), contou que desde a época de seus ancestrais há uma relação entre o homem e a natureza que chega até o campo "espiritual" que os impulsiona a viver em harmonia com os demais seres vivos.
É por isso que a gestão do seu território se baseia nos "planos de vida" que se desenham entre as 21 comunidades da área para definir o desenvolvimento produtivo, a educação, o cuidado com o meio ambiente, o fortalecimento da sua identidade e o uso sustentável dos seus recursos.
Uma das mais importantes é a antiga tradição da coleta do incenso, que é uma resina extraída de uma árvore endêmica do norte de La Paz, duas vezes ao ano, mas, ao mesmo tempo, realizam ações para sua preservação.
Durán afirmou que a mudança climática afetou os povos locais com intensas chuvas e inundações, mas estes estão conscientes de que com seu trabalho estão contribuindo "em nível mundial" com a preservação de uma área amazônica "muito importante para a humanidade" para fazer frente a este problema.
"Poucos têm a sorte de ver o quão valiosa é a floresta. É uma necessidade de vida podermos manter e cuidar com muita dedicação da natureza", acrescentou.
Da mesma forma, o povo indígena tacana realiza sua própria gestão territorial, que tem um plano de uso sustentável do lagarto, na qual definem zonas de proteção e um censo de quantos exemplares há no território e só caçam uma vez por ano.
"A fauna e flora do nosso território são muito importantes, são uma fonte de vida e estamos conscientes de que conservando as florestas e as espécies vamos viver melhor nós e as futuras gerações", disse à Efe o presidente do Conselho Indígena Tacana, Constantino Nay.
As comunidades decidem a divisão por zonas do seu território para definir para que servirá esse espaço, que pode ser para o aproveitamento de cacau, madeira, gado, do turismo e das fontes de água, entre outros usos.
Uma das grandes contribuições deste povo indígena é a redução do desmatamento no seu território, que de acordo com a WCS é quatro vezes inferior que em outras jurisdições da região onde a gestão territorial não é realizada.
"As pessoas, o mundo deve estar consciente do significado da natureza e apoiar a conservação, esperamos que nossa gestão territorial possa ser um exemplo para outros povos da Bolívia e região", afirmou o vice-presidente do povo tacana, Diego Uzquiano.
O material foi apresentado nesta semana em La Paz e está disponível em espanhol, inglês e português.
Os estudos da WCS refletem o valor ambiental, econômico e sociocultural destes povos indígenas e abordam questões como sua contribuição na conservação de fontes de água, florestas, fauna silvestre, medicina tradicional, revalorização da cultura e uso sustentável do cacau e do incenso, entre outros.
Também preservam a gastronomia, o idioma, a música e as histórias que passam de geração em geração para que não caiam no esquecimento. EFE
ysm/cs/rsd
(foto)
La Paz, 27 abr (EFE).- Os "guardiões" da casa grande, como os povos indígenas da Bolívia chamam a Amazônia, preservam sua floresta sagrada da mudança climática com uma gestão sustentável de espécies como o lagarto e de recursos como o incenso e o cacau, que são a essência da sua forma de vida.
A gestão territorial de povos indígenas em áreas da Amazônia boliviana conseguiu fazer com que seu habitat sofra muito menos com o desmatamento, entre outros perigos que ameaçam o pulmão do mundo.
A Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre (WCS, na sigla em inglês) se aproximou durante mais de 18 anos dos povos leco e tacana, que se encontram no norte de La Paz, e registrou em 17 publicações de estudos sua contribuição na conservação.
"O que nós queremos fazer com este material é dar visibilidade ao grande valor da gestão territorial indígena e sua visão", explicou à Agência Efe o diretor do programa de conservação Grande Paisagem Madidi-Tambopata da WCS, o inglês Robert Wallace.
"Têm um papel proativo e realmente merecem um reconhecimento porque estão comprometidos com o seu lugar, a conservação e o melhoramento dos seus meios de vida", indicou.
A concepção da natureza como "uma força sagrada" e a proteção da biodiversidade os transformam nos "guardiões" das florestas.
"Para nós a floresta é a nossa casa grande e, de acordo com a nossa filosofia, devemos respeitá-la e cuidá-la, mas ao mesmo tempo, o monte cuida de nós porque nos dá plantas medicinais e alimento", disse à Agência Efe o grande capitão leco, Ovídio Durán.
Durán, também representante da Central Indígena do Povo Leco de Apolo (CIPLA), contou que desde a época de seus ancestrais há uma relação entre o homem e a natureza que chega até o campo "espiritual" que os impulsiona a viver em harmonia com os demais seres vivos.
É por isso que a gestão do seu território se baseia nos "planos de vida" que se desenham entre as 21 comunidades da área para definir o desenvolvimento produtivo, a educação, o cuidado com o meio ambiente, o fortalecimento da sua identidade e o uso sustentável dos seus recursos.
Uma das mais importantes é a antiga tradição da coleta do incenso, que é uma resina extraída de uma árvore endêmica do norte de La Paz, duas vezes ao ano, mas, ao mesmo tempo, realizam ações para sua preservação.
Durán afirmou que a mudança climática afetou os povos locais com intensas chuvas e inundações, mas estes estão conscientes de que com seu trabalho estão contribuindo "em nível mundial" com a preservação de uma área amazônica "muito importante para a humanidade" para fazer frente a este problema.
"Poucos têm a sorte de ver o quão valiosa é a floresta. É uma necessidade de vida podermos manter e cuidar com muita dedicação da natureza", acrescentou.
Da mesma forma, o povo indígena tacana realiza sua própria gestão territorial, que tem um plano de uso sustentável do lagarto, na qual definem zonas de proteção e um censo de quantos exemplares há no território e só caçam uma vez por ano.
"A fauna e flora do nosso território são muito importantes, são uma fonte de vida e estamos conscientes de que conservando as florestas e as espécies vamos viver melhor nós e as futuras gerações", disse à Efe o presidente do Conselho Indígena Tacana, Constantino Nay.
As comunidades decidem a divisão por zonas do seu território para definir para que servirá esse espaço, que pode ser para o aproveitamento de cacau, madeira, gado, do turismo e das fontes de água, entre outros usos.
Uma das grandes contribuições deste povo indígena é a redução do desmatamento no seu território, que de acordo com a WCS é quatro vezes inferior que em outras jurisdições da região onde a gestão territorial não é realizada.
"As pessoas, o mundo deve estar consciente do significado da natureza e apoiar a conservação, esperamos que nossa gestão territorial possa ser um exemplo para outros povos da Bolívia e região", afirmou o vice-presidente do povo tacana, Diego Uzquiano.
O material foi apresentado nesta semana em La Paz e está disponível em espanhol, inglês e português.
Os estudos da WCS refletem o valor ambiental, econômico e sociocultural destes povos indígenas e abordam questões como sua contribuição na conservação de fontes de água, florestas, fauna silvestre, medicina tradicional, revalorização da cultura e uso sustentável do cacau e do incenso, entre outros.
Também preservam a gastronomia, o idioma, a música e as histórias que passam de geração em geração para que não caiam no esquecimento. EFE
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