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Costa Rica e Madagascar viram refúgio para políticos romenos corruptos

29/04/2018 06h00

Raúl Sánchez Costa.

Bucareste, 29 abr (EFE).- Sem acordo de extradição com a Romênia, Costa Rica e Madagascar têm se tornado refúgio para alguns dos políticos foragidos do país, acusados ou condenados por corrupção.

Um dos exemplos é a ex-ministra de Turismo e Desenvolvimento Regional Elena Udrea, condenada a seis anos de prisão por abuso de poder e corrupção, que está na Costa Rica desde fevereiro.

Uma equipe de jornalismo investigativo do "Rise Project" descobriram o paradeiro de Udrea. Mais tarde, um cidadão publicou fotos da ex-ministra no Facebook. Ela estava com uma amiga, Alina Bica, ex-promotora, condenada duas vezes em primeira instância.

"Não entendo toda essa histeria sobre fuga. Se tirasse férias ou visitasse um amigo seria a mesma coisa. Não estou me escondendo", disse Udrea em entrevista à "Romania TV".

Udrea espera o julgamento de um recurso contra sua condenação em maio. Na entrevista, a ex-ministra contou que não leva a vida de luxo que tinha em Bucareste na Costa Rica.

"Quem sabe imagina que a Costa Rica é um país do terceiro mundo deve saber que não permite o mesmo na Romênia. É muito difícil comprar uma casa ou um carro. A comida no supermercado custa três ou quatro vezes mais", afirmou Udrea.

Apesar das críticas, a ex-ministra entrou com um pedido de asilo na Costa Rica. Mas outro destino também tem atraído os políticos romenos com problemas na Justiça: Magadascar.

O polêmico ex-prefeito social-democrata Radu Mazare, que responde a sete ações por corrupção, anunciou em dezembro que passaria uma longa temporada no país.

"Na Romênia não há uma justiça correta, independente, objetiva e imparcial. Por esse motivo, decidir solicitar asilo político em Madagascar. Quando houver uma justiça real na Romênia, retornarei", afirmou o ex-prefeito em carta.

O excêntrico prefeito, conhecido por ser amante dos esportes aquáticos, destinou parte da fortuna que ganhou na Romênia para abrir um complexo turístico em Madagascar.

As fotos de Mazare na praia geraram uma onda de indignação na imprensa e na sociedade romena. Todos assistem estupefatos às fugas desses políticos e não escondem a preocupação de que outros sigam o mesmo destino.

A Romênia não tem acordos de extradição com a Costa Rica e Madagascar. Para ter os políticos de volta, o país deverá recorrer à Convenção da ONU contra a Corrupção. Os pedidos de asilo, no entanto, podem complicar as chances de isso ocorrer.

"Há normas nas leis de imigração que estabelecem que qualquer pedido de extradição é suspenso durante o período de resolução da solicitação de asilo", explicou à Efe o jornalista Cristian Pantazi, que faz parte da equipe de investigação da "G4 Media".

Dependendo das leis de cada país, os pedidos de asilo podem demorar mais de um ano para serem avaliados.

Por enquanto, a única reação do governo da Romênia foi retirar as credenciais do embaixador da Costa Rica e entrar em contato com as autoridades de Madagascar.

"O vazamento de condenados ou de acusados que esperam seus vereditos por casos de corrupção projeta, infelizmente, a imagem de um país deficiente. Essas pessoas estão rindo das instituições", afirmou Pantazi.

Pela primeira vez da adesão à União Europeia em 2007 a Romênia apresenta retrocessos na luta contra a corrupção. A Justiça do país chegou a ser elogiada pela Comissão Europeia por processar mais de mil políticos, como ministros, deputados e prefeitos.

Uma reforma judicial aprovada no fim do ano passado pelo parlamento foi criticada por especialistas. Eles consideram que as medidas atrapalham a independência da Justiça e suavizam as penas por corrupção. A reforma foi alvo de grandes protestos.

"A promotoria anticorrupção é a única que segue lutando contra essa praga. As demais abdicaram", ressaltou o analista político Mihai Mitrica.

O governo dos sociais-democratas pediu a renúncia da promotora anticorrupção, Laura Kovesia, uma das figuras mais populares do país, ao afirmar que ela conduz investigações políticas.