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"Homem-Aranha" imigrante salva criança em Paris e ganha cidadania francesa

28/05/2018 16h48

Luis Miguel Pascual.

Paris, 28 mai (EFE).- Quando alguns meses atrás Mamoudou Gassama chegou à França em busca de um futuro melhor do que o que podia ser oferecido por seu país natal, o Mali, não pensava que um gesto heróico, gravado por um pedestre e divulgado nas redes sociais, mudaria seu destino.

O jovem, de 22 anos, transformou-se em um herói após, na tarde do último sábado, escalar com incrível velocidade quatro andares de um edifício em Paris para conseguir evitar a queda de um menino de 4 anos que estava pendurado do lado de fora da varanda do apartamento em que mora.

Ao contrário das pessoas que assistiam à cena impávidas na rua enquanto um vizinho tentava, impotente, salvar a criança pela varanda vizinha, Mamoudou não hesitou em se lançar ao resgate.

Com uma ação digna de um herói e que o levou a ser chamado pelas principais autoridades francesas de "Homem-Aranha", em cerca de 30 segundos ele escalou a fachada do edifício até chegar ao local em que o menino estava.

O feito o levou hoje ao Palácio do Eliseu, onde o presidente da França, Emmanuel Macron, quis ouvir dele próprio a incrível história antes de lhe oferecer a cidadania francesa.

Além da nacionalidade, Macron o convidou a integrar o Corpo de Bombeiros - "para que possa repetir diariamente o seu gesto de coragem", segundo palavras do político.

Além de vários pedidos de entrevista, Mamoudou recebeu uma ligação do presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita.

Um dos imigrantes ilegais que estava destinado a batalhar para permanecer no país de seus sonhos, o jovem africano viu assim se abrirem as portas para construir uma nova vida. Em 2013, ele deixou o país de origem com destino à Europa, como fazem milhares de pessoas a cada ano.

Primeiro, passou por Níger e Líbia antes de chegar à Itália em 2014. Lá, foi interceptado na primeira tentativa, mas conseguiu entrar no país na segunda. Como não conhecia ninguém em solo italiano, partiu para a França, onde outros compatriotas já lutavam para sobreviver.

O jovem malinês contou ao presidente francês que estava assistindo a um jogo de futebol em um bar do distrito 18 de Paris quando ouviu gritos na rua.

Ao ver a cena, foi ao resgate da criança, que tinha ficado sozinha no apartamento enquanto o pai foi fazer compras. Segundo o procurador de Paris, François Molins, o homem demorou a voltar para casa porque teve a ideia de jogar Pokémon Go.

O menino, que primeiro foi entregue ao serviço social, será devolvido ao pai, que se disse muito arrependido, segundo Molins.

Mamoudou também virou foco de discussões sobre a questão migratória na França. Nas redes sociais, foram muitos os pedidos para que ele ganhasse a cidadania francesa, o que acabou acontecendo.

Porém, Macron ressaltou que a oferta da nacionalidade foi uma oferta excepcional, porque, segundo suas palavras, "a França não pode dar papéis a todas as pessoas que vêm do Mali ou de Burkina Fasso".

Associações de ajuda a imigrantes ilegais no país criticam a rigidez da política do presidente em relação a imigrantes.

"Mamoudou é um herói, e temos que agradecê-lo, mas há centenas de milhares de pessoas que permanecem na escuridão, sem outro horizonte que não seja o desprezo ou a morte", escreveu o vereador David Belliard, de esquerda.

Já o eurodeputado de direita Nicolas Bay, embora tenha reconhecido o heroísmo do imigrante, destacou que "é preciso devolver todos os clandestinos a seus países".

"Agora, se me disserem que regularizarão este e expulsarão todos os restantes, eu aprovo", acrescentou.