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Ajuda da UE à Grécia faz 8 anos, mas melhora na economia não é vista nas ruas

22/06/2018 10h11

Ana Mora Segura e Yannis Chryssoverghis.

Atenas, 22 jun (EFE).- Após oito anos de recessão, a economia grega está crescendo, é isso o que o governo e os credores comemoram. No entanto, nas ruas a sensação é de que tudo continua igual ou, em alguns casos, pior.

A falta de empregos e a precariedade são imperantes. Apesar de os números do desemprego terem diminuído 7% nos últimos três anos, se mantendo em cerca de 20% - mas em 55% no caso dos jovens -, muitos dos que estão empregados precisam se conformar com um salário mínimo, que depois dos cortes ficou em 586 euros (cerca de R$ 2.400).

Um dado que parece positivo para todos os que trabalham em tempo parcial. A Grécia foi o primeiro país da União Europeia a ter mais gente em "emprego de tempo parcial involuntário" do que o contrário.

Ao todo, 70,2% da população está nessa modalidade, na qual a pessoa trabalha menos horas por semana do que o habitual por lei, mas não por escolha própria. Nessa categoria a Grécia é seguida por Chipre (67,4%), Itália (62,5%) e Espanha (61,1%).

Anna Dimitriu trabalha em uma loja de malas e acessórios para viagem no centro de Atenas há 22 anos. Para ela, atualmente, não existe qualquer indicador claro de que a situação possa melhorar ao final dos programas de resgate.

"Não vi melhora nem na minha vida pessoal e nem no comércio. Estamos em pleno período turístico e a situação é pior do que em anos anteriores. Em geral, nos três últimos anos as vendas caíram", declarou Anna à Agência Efe.

Segundo a vendedora, nesta época o normal era que em meia hora três ou quatro clientes entrassem na loja. Durante os 30 minutos que duraram a entrevista ninguém entrou.

Muito perto dali, o Mercado Central de Atenas vende frutas, verduras e carnes e nas ruas existem muitas lojas que oferecem todo tipo de produto típico e artigos para a casa. Embora seja um dos locais mais populares para fazer compras na cidade, a decadência é visível.

A família Damigu tem um estabelecimento que vende vários tipos de pães e cereais há cinco gerações, mas a previsão é de que os mais jovens não consigam seguir com o negócio. Bastante chateada, Maria Damigu disse que as vendas estão no nível mais baixo que ela já viu.

"Vejo a situação do mercado piorando e me dá vontade de chorar. Todo mundo acha que os gregos têm dinheiro, mas o único que temos são as pensões. A ver o que vai acontecer quando acabar", lamentou.

Em sua opinião, a saída do resgate não significa nada e as palavras do governo, que ela apoiou, sobre a melhora da economia não são verdadeiras.

"Não existe esperança. A única opção que os jovens têm é emigrar. Isso me deixa muito triste. Não posso oferecer aos meus filhos qualquer perspectiva de futuro, apesar de a minha família trabalhar aqui há cinco gerações. Me sinto traída. Zombaram do povo", argumentou.

Makis Agorakis, funcionário da loja ao lado, pensa um pouco diferente. Ele acredita que o fim da assistência financeira traga novos empregos, mas não está de todo convencido.

"Na Grécia a pobreza existiu e seguirá existindo. O meu nível de vida começou a piorar já no governo de Samaras (Antonis Samaras, primeiro-ministro de 2012 a 2015), mas nos últimos anos vi certa melhora", contou Makis, que argumenta que o governo de Alexis Tsipras não podia ter feito diferente porque "os programas de resgate já estavam assinados".

A algumas ruas dali o cenário é ainda mais desolador. Longe do burburinho do mercado e dos turistas, não é raro encontrar edifícios abandonados e lojas fechadas.

Apesar do ambiente degradado e dos anos de dificuldade, Grigorios Iconomidis decidiu investir sua pensão e algumas economias em uma lojinha de vinhos, licores e outros produtos típicos.

"Decidi abrir a loja porque era a minha forma de enfrentar a crise", explicou ele, que após cinco anos de esforço decidiu montar o negócio.

Rindo, Grigorios contou que, apesar de muitas vezes terem falado para ele que a ideia não era boa, o tempo mostrou o contrário. Apesar de achar que teve um pouco de sorte, em sua opinião os jovens que emigraram - mais de meio milhão desde 2008 - vão voltar.

"Vão voltar aos poucos, quando o crescimento da economia retomar mesmo", previu este pequeno empreendedor que pede "políticas sérias e responsabilidade para que os gregos possam realmente progredir".