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Santos diz deixar Colômbia melhor e em paz, mas admite que queria ter feito mais

Juan Manuel Santos assumiu a presidência da Colômbia em 2010 - Jhon Paz/Xinhua
Juan Manuel Santos assumiu a presidência da Colômbia em 2010 Imagem: Jhon Paz/Xinhua

Jaime Ortega Carrascal

Em Bogotá

22/06/2018 13h26

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que deixará o cargo em 7 de agosto, disse nesta sexta-feira (22) que se sente satisfeito por entregar a seu sucessor, Iván Duque, um país em situação "melhor" que a de oito anos atrás, quando assumiu o governo, especialmente devido à assinatura do acordo de paz com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

"Fico muito satisfeito de entregar um país em paz, um país sem Farc. Um país com muito menos pobreza, com a pobreza extrema reduzida pela metade, um país menos desigual", disse Santos em entrevista à Agência Efe, na qual fez um balanço de sua gestão.

Santos reconheceu que gostaria de "ter feito mais", já que, apesar dos avanços, ainda há "muita pobreza" no país e é necessário "reduzir a taxa de desemprego", apesar da criação de 3,5 milhões de vagas. Ele também ressaltou que ainda é preciso fazer muitas melhorias em áreas como saúde e educação, entre outras.

Sempre restam coisas a fazer, esta é a frustração de qualquer governante, mas o importante é que estamos entregando um país muito melhor do que o que recebemos há oito anos. Acredito na vontade de qualquer governante, e estou muito satisfeito."

O presidente, que falou com a Efe após sua primeira reunião com Duque sobre a transição de governo, disse que seu sucessor deve "trabalhar sobre a base que foi construída", apesar de seu triunfo nas eleições de domingo ter sido baseado no discurso de opositor, como candidato do Partido Centro Democrático, controlado pelo ex-presidente Álvaro Uribe.

Colômbia - Jaime Saldarriaga/Reuters - Jaime Saldarriaga/Reuters
Ivan Duque assumirá a presidência do país
Imagem: Jaime Saldarriaga/Reuters
"Acredito que o que convém ao país é uma transição tranquila, uma transição sem contratempos, sem dificuldades", disse Santos sobre o processo iniciado com Duque, com quem ele trabalhou no passado.

Em seu encontro de hoje, Santos aconselhou Duque, levando em conta que seu mandato é de quatro anos, a "não se envolver em temas que vão lhe custar muito desse tempo, que podem minar sua governabilidade" e, portanto, deve escolher os assuntos prioritários e levá-los adiante.

Sobre a relação com seu sucessor, Santos espera que seja mínima porque, ao contrário de seu antecessor Álvaro Uribe, não pensa em "intervir na política" quando deixar a presidência.

"Serei mais como Belisario (Betancur, presidente entre 1982 e 1986 que, assim que deixou o cargo, deixou a política para se dedicar à cultura)", declarou.

Sobre o vínculo de Duque com Uribe, Santos manifestou o desejo de "que o presidente eleito seja quem tome as decisões, seja ele quem governe e não se deixe manipular ou ser influenciado por ninguém".

"Não sei realmente a esta altura o que vai fazer o ex-presidente Uribe (...) Espero que ele deixe o presidente eleito governar sem interferências. Sinto que isso é do interesse do país, do interesse do governo que vai assumir e do interesse da democracia colombiana".

Em contraste com o uribismo, uma força que ocupou o cenário político colombiano neste século 21, Santos não deixa um movimento em torno de sua figura.

Não, não haverá um 'santismo', porque não sou um caudilho, não é do meu interesse ficar preso ao poder, não quero buscar um pedaço de poder no próximo governo e, desde já, digo clara e taxativamente: o 'santismo' não existe e não existirá."

A respeito do acordo de paz com as Farc, ao qual Duque quer fazer "modificações", Santos acredita que "não corre nenhum tipo de risco".

"O presidente eleito confirmou para mim que vai continuar com o processo de paz e é o que ele tem que fazer, já que não há muita margem de manobra ali (...) Ele me disse que, se há algumas mudanças para melhorar os acordos, que estas sejam feitas, mas de forma pactuada", assinalou Santos.

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O presidente colombiano explicou que no Centro Democrático há uma discussão interna sobre a viabilidade de ex-guerrilheiros das Farc culpados de crimes de lesa-humanidade ocuparem as dez cadeiras no Senado e na Câmara de Representantes que lhes foram concedidas pelo acordo, mas ressaltou que caberá à Jurisdição Especial para a Paz (JEP) decidir "caso a caso", e que vê "pouca margem para mudar o que já está estipulado".

Em relação aos diálogos de paz que acontecem em Cuba com a outra guerrilha do país, o Exército de Libertação Nacional (ELN), Santos afirmou que quer deixar para seu sucessor "um caminho claro para continuar com os acordos", mas que a decisão de seguir em frente será de Duque.

"Ainda temos um mês e meio de governo, esse diálogo será reiniciado na próxima semana. Pode ser que resulte em um cessar-fogo ou em um projeto de acordo, o que seria maravilhoso. Vai depender das partes, nossa vontade é que seja assim, mas não poderia garantir, porque isso também depende muito da posição do ELN", disse.

Sobre o futuro imediato, Santos está muito feliz com seu papel de avô e pensa em dedicar boa parte de seu tempo para cuidar de Celeste, sua primeira neta.

"Claro que tive muitas ofertas de muitas universidades para dar aulas, conferências. Está certo que tenho uma proposta muito boa de uma empresa de prestígio para dar palestras ao redor do mundo, e também é certo que não vou interferir no próximo governo", concluiu o presidente em fim de mandato.