Topo

Europa se dispõe a elevar ajuda a venezuelanos no Brasil após constatar crise

26/06/2018 21h51

Carlos A. Moreno.

Boa Vista, 26 jun (EFE).- O Parlamento Europeu está disposto a recomendar uma elevação da ajuda que a União Europeia (UE) ofereceu aos venezuelanos refugiados no Brasil, após constatar a difícil situação em que vivem em Roraima, na fronteira com a Venezuela.

A informação foi confirmada à Agência Efe pelo eurodeputado português Francisco Assis, representante da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) e presidente do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul, após uma visita nesta terça-feira a vários refúgios de venezuelanos em Boa Vista.

Assis lidera uma missão do Parlamento Europeu que iniciou hoje uma visita de três dias ao Brasil para avaliar no terreno a situação dos cerca de 50.000 venezuelanos que fugiram da crise econômica, social e política do seu país e receberam refúgio no país.

O eurodeputado afirmou que a solução para esta crise é uma mudança de regime na Venezuela e que, além de pressionar por uma abertura política e adotar sanções que não prejudiquem mais à população, o Parlamento Europeu recomendou ao Conselho Europeu que envie ajuda para os venezuelanos que fogem do seu país.

"A solução passa por uma mudança de regime na Venezuela porque isso permitirá que estas pessoas possam retornar ao seu país de origem, que é o que mais querem. Não há outra solução e são os próprios venezuelanos os que têm que resolver o problema", destacou.

De acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), mais de dois milhões de venezuelanos abandonaram o seu país desde 2005 com destino a diferentes países.

"A nós nos resta chamar a atenção em nível mundial sobre a gravidade do que está ocorrendo e oferecer alguma ajuda financeira aos refugiados. A União Europeia tem fundos que estão previstos para atender situações desta natureza", acrescentou Assis.

Segundo o eurodeputado português, a UE aprovou inicialmente uma ajuda de 5 milhões de euros para os refugiados venezuelanos no Brasil cuja liberação pode ser assinada no encontro que a delegação europeia terá na quinta-feira com autoridades brasileiras em Brasília.

"Neste momento serão enviados 5 milhões de euros, mas nada impede que mais tarde sejam enviados mais recursos para apoiar projetos em Roraima, porque aqui o problema é mais grave", ressaltou.

Assis afirmou ter constatado que a ajuda é urgente após a visita que fez a Nova Canaã, Tancredo Neves e Jardim Floresta, três dos refúgios construídos pelo governo brasileiro para atender os venezuelanos que chegaram a Boa Vista e que são gerenciados pelo Acnur.

Dos 50.000 venezuelanos que calcula-se que buscaram refúgio em Roraima, número que pode ser maior já que a média nos últimos meses foi de 400 por dia, 25.000 se instalaram em Boa Vista, o que equivale a 7,5% da população total desta cidade que carece de recursos para atender tal êxodo.

Os quatro refúgios visitados pela delegação europeia só têm capacidade para 1.400 pessoas, razão pela qual muitos imigrantes vivem nas ruas enquanto esperam vagas nos abrigos ou que as autoridades os enviem a outras cidades do Brasil, em um processo de "interiorização" ainda incipiente.

Segundo dados oficiais, nos nove centros construídos até agora em Roraima para receber o intenso fluxo migratório vivem 4.200 venezuelanos, enquanto outros 527 foram transferidos às cidades de Manaus, Cuiabá e São Paulo para iniciar sua interiorização.

"Estamos em um momento de tensão e de dificuldades, principalmente porque as autoridades locais têm uma capacidade limitada para atender todas as demandas e é necessário que se diga isto", frisou o eurodeputado.

"O problema supera Boa Vista e Roraima e tem que ser assumido por todo o Brasil. Mas confio absolutamente nos brasileiros e acredito que o Brasil saberá encontrar uma resposta para este assunto, inclusive porque o próprio povo brasileiro é resultado de migrações", acrescentou.

Além de visitar os refúgios, a delegação europeia se reuniu com a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita; com oficiais da Superintendência da Polícia Federal, órgão responsável pela concessão de refúgios, e da Brigada de Infantaria de Selva do exército brasileiro, a qual o governo distribuiu diferentes tarefas para atender aos refugiados.

"A prefeitura oferece 10.800 pratos de comida por dia e matriculou nas escolas públicas 2.300 crianças venezuelanas, além de oferecer-lhes serviços de saúde, mas chegamos ao limite. Não temos orçamento para isso", lamentou Surita diante dos visitantes.

"Chegou o momento em que as outras cidades do Brasil devem aceitar que a solução é a interiorização porque o problema é de todo o país e não só de Boa Vista", acrescentou Surita, que se queixou de posições como a da própria governadora de Roraima, Suely Campos, que defende o fechamento da fronteira e estimula reações xenófobas dos brasileiros.