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Eurodeputado diz que Brasil soube atender êxodo venezuelano, mas tem limites

27/06/2018 22h11

Carlos A. Moreno.

Pacaraima (Roraima), 27 jun (EFE).- O governo brasileiro soube responder adequadamente à "catástrofe social" provocada pela saída de milhares de venezuelanos do seu país, mas terá limitações para atender aos refugiados caso o atual fluxo aumente, afirmou nesta quarta-feira um porta-voz do Parlamento Europeu.

"A estrutura que foi montada por enquanto está atendendo ao problema, mas tem limites. Se há um crescimento do fluxo é provável que o Brasil não tenha capacidade", disse à Agência Efe o eurodeputado português Francisco Assis, representante da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) no Parlamento Europeu.

Assis lidera uma delegação do Parlamento Europeu que ontem visitou diferentes abrigos para refugiados que o Brasil construiu em Boa Vista, capital de Roraima, e que nesta quarta-feira se deslocou até Pacaraima, na fronteira entre os dois países e por onde passa toda a migração venezuelana, para avaliar a situação no terreno.

Em Pacaraima, a delegação visitou as instalações provisórias montadas pelo exército para atender os cerca de 700 venezuelanos que ingressam diariamente ao Brasil por esta passagem fronteiriça, dos quais 400 solicitam refúgio ou residência provisória no país.

Nestas instalações funcionam escritórios da Polícia Federal (que controla as migrações) e outras instituições brasileiras, assim como de organismos internacionais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Os ocupantes dos dois ou três ônibus com venezuelanos que chegam na primeira hora de cada dia à fronteira passam pelos diferentes escritórios, começando por um no qual são vacinados contra diferentes doenças, principalmente sarampo, antes de poder ingressar oficialmente ao Brasil.

O enorme complexo montado com madeira e com barracas de campanha faz parte da chamada Operação Acolhida, implementada pelo governo brasileiro neste ano e que busca atender a cada vez mais crescente chegada ao Brasil de venezuelanos que fogem da crise política, econômica e social do seu país.

"Além de verificar que há um significativo fluxo migratório fruto de uma crise humanitária na Venezuela, constatamos que há uma resposta satisfatória, que consideramos correta e adequada, das autoridades brasileiras e das diferentes organizações de apoio", declarou o eurodeputado.

"Claro que surgirão outros problemas que esperamos que tenham resposta e sejam resolvidos, mas o Brasil, de qualquer forma, precisará de apoio para atender esta situação", completou.

Sem esse apoio, acrescentou, o problema pode se transformar em uma crise humanitária no Brasil devido ao fato de que, sem a obtenção dos documentos necessários para continuar sua viagem, os venezuelanos "terão que viver nas ruas e enfrentariam situações de miséria, fome e total exclusão".

Essa situação já é vivida por numerosos venezuelanos que estão acampados nas ruas desta pequena cidade fronteiriça devido ao fato de que não contam com os documentos necessários para continuar sua viagem, razão pela qual, como pôde constatar a Efe, já é normal ver pessoas dormindo em tendas improvisadas e preparando sua comida à vista de todo o mundo.

Segundo o chefe da missão do Parlamento Europeu, as autoridades brasileiras também estão conscientes de que a solução para o problema não se limita ao que possa ser oferecido aos venezuelanos no estado de Roraima.

"É necessário promover outras iniciativas para permitir a internalização, que é enviar estas pessoas a outras regiões do Brasil com mais capacidade de absorção do ponto de vista do mercado de trabalho e das estruturas existentes", comentou Assis.

Apesar de o governo brasileiro já ter enviado 527 venezuelanos às cidades de Manaus, Cuiabá e São Paulo, as autoridades de Roraima se queixam de que sua capacidade de ação está muito limitada por ser um dos estados mais pobres do país e que outras regiões e municípios se negam a abrir suas portas.

Assis afirmou que quando retornar Bruxelas se reunirá com os eurodeputados que viajaram esta mesma semana à Colômbia, país para o qual emigrou a maior parte dos dois milhões de venezuelanos que deixaram o país desde 2005, para elaborar um relatório com recomendações à União Europeia (UE).

"Redigiremos um relatório que de forma objetiva e clara denuncie e descreva a situação. E, se houver necessidade, a União Europeia concederá apoios porque há fundos disponíveis para situações desta natureza", afirmou o legislador ao referir-se à ajuda aos refugiados venezuelanos no Brasil que a UE tramita atualmente, até agora limitada a 5 milhões de euros.