Contraditório legado de Peña Nieto é marcado por reformas e corrupção
Manuel Soberanes Cobo.
Cidade do México, 28 jun (EFE).- O presidente do México, Enrique Peña Nieto, entregará o poder ao vencedor do pleito de 1º de julho como um personagem profundamente contraditório, cujo governo promoveu grandes reformas, mas que termina um mandato com imagem manchada pela corrupção e a violência.
Desde o início de sua gestão, em 1º de dezembro de 2012, que levou outra vez ao poder o tradicional Partido Revolucionário Institucional (PRI) após uma ausência de 12 anos, Peña Nieto forjou uma aliança com as principais forças de oposição, chamada de Pacto pelo México, para realizar reformas constitucionais de grande envergadura.
Entre elas destacava-se uma emenda constitucional que abriu o setor energético à iniciativa privada depois de mais de sete décadas de monopólio estatal.
Algumas reformas se transformaram em motivo de protestos sociais, como ocorreu com a educacional, que estabelece um sistema de avaliação para a contratação, permanência e promoção de professores e à qual se opõe tenazmente um setor do magistério.
Ao mesmo tempo, Peña Nieto acumulava elogios de personalidades estrangeiras que visitavam o México, de cujos discursos desapareceram as expressões de preocupação com a violência vinculada ao combate ao crime organizado e às violações aos direitos humanos que marcaram o governo de Felipe Calderón (2006-2012).
Mas tudo começou a desmoronar em 2014, com a revelação de dois incidentes que revelaram que o país tinha mudado pouco.
O primeiro foi a morte de 22 supostos criminosos em 30 de junho no município de Tlatlaya, no Estado do México, dos quais oito foram assassinados por militares após um confronto armado, segundo o Ministério Público mexicano.
O segundo, de maiores repercussões, foi o desaparecimento de 43 estudantes da escola rural para professores de Ayotzinapa em 26 de setembro do mesmo ano em Iguala, no estado de Guerrero.
Os desaparecimentos causaram grandes protestos, já que os familiares rejeitam a versão oficial de que os jovens foram detidos por policiais locais e entregues a um grupo criminoso, que os teriam assassinado e incinerado seus corpos em um lixão.
Pais e organizações internacionais denunciaram irregularidades nas investigações e exigiram que seja debatida a possível participação do Exército e da Polícia Federal nos crimes. Além disso, consideram impossível que 43 corpos tenham sido queimados no lixão.
A estes eventos somou-se em novembro daquele ano a publicação de uma reportagem sobre uma luxuosa mansão da esposa de Peña Nieto, Angélica Rivera. O escândalo aqueceu ainda mais os ânimos, e começaram a brotar casos de corrupção.
Segundo a reportagem, a propriedade foi construída por uma empresa que ganhou vários projetos de infraestrutura no Estado do México quando Peña Nieto era o governador.
Longe de acalmar as águas, o presidente as agitou mais ao afirmar em diversas ocasiões que o problema da corrupção no México é "uma fraqueza de ordem cultural", o que foi interpretado por muitos como uma desculpa para não combater o problema dentro de sua administração.
Depois destes casos, surgiram várias revelações sobre massacres por parte de forças de segurança, além de novos escândalos de corrupção que envolvem personagens ligados ao presidente e governadores do seu partido.
A violência também foi um problema constante. O México terminou 2017 com 25.339 assassinatos, um número sem comparação em duas décadas que representa um aumento de 18,91% em relação ao ano anterior e que, na opinião de especialistas, mostra a fraqueza do modelo de segurança e das instituições do Estado.
Em vista da queda de sua popularidade - algumas pesquisas indicam que apenas 20% dos mexicanos aprovam sua gestão -, o presidente se entrincheirou nas supostas conquistas de suas reformas, e não há um ato público em que não as mencione.
Além disso, o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), José Ángel Gurría - um membro do PRI que ocupou cargos ministeriais na década de 1990 -, elogiou repetidamente as reformas em matérias de energia, finanças e telecomunicações.
Mas, apesar dos resultados macroeconômicos razoavelmente favoráveis de sua administração, parece provável que o legado de Peña Nieto seja identificado mais com palavras como Tlatlaya e Ayotzinapa, corrupção ou violência generalizada do que com os efeitos das reformas.
Cidade do México, 28 jun (EFE).- O presidente do México, Enrique Peña Nieto, entregará o poder ao vencedor do pleito de 1º de julho como um personagem profundamente contraditório, cujo governo promoveu grandes reformas, mas que termina um mandato com imagem manchada pela corrupção e a violência.
Desde o início de sua gestão, em 1º de dezembro de 2012, que levou outra vez ao poder o tradicional Partido Revolucionário Institucional (PRI) após uma ausência de 12 anos, Peña Nieto forjou uma aliança com as principais forças de oposição, chamada de Pacto pelo México, para realizar reformas constitucionais de grande envergadura.
Entre elas destacava-se uma emenda constitucional que abriu o setor energético à iniciativa privada depois de mais de sete décadas de monopólio estatal.
Algumas reformas se transformaram em motivo de protestos sociais, como ocorreu com a educacional, que estabelece um sistema de avaliação para a contratação, permanência e promoção de professores e à qual se opõe tenazmente um setor do magistério.
Ao mesmo tempo, Peña Nieto acumulava elogios de personalidades estrangeiras que visitavam o México, de cujos discursos desapareceram as expressões de preocupação com a violência vinculada ao combate ao crime organizado e às violações aos direitos humanos que marcaram o governo de Felipe Calderón (2006-2012).
Mas tudo começou a desmoronar em 2014, com a revelação de dois incidentes que revelaram que o país tinha mudado pouco.
O primeiro foi a morte de 22 supostos criminosos em 30 de junho no município de Tlatlaya, no Estado do México, dos quais oito foram assassinados por militares após um confronto armado, segundo o Ministério Público mexicano.
O segundo, de maiores repercussões, foi o desaparecimento de 43 estudantes da escola rural para professores de Ayotzinapa em 26 de setembro do mesmo ano em Iguala, no estado de Guerrero.
Os desaparecimentos causaram grandes protestos, já que os familiares rejeitam a versão oficial de que os jovens foram detidos por policiais locais e entregues a um grupo criminoso, que os teriam assassinado e incinerado seus corpos em um lixão.
Pais e organizações internacionais denunciaram irregularidades nas investigações e exigiram que seja debatida a possível participação do Exército e da Polícia Federal nos crimes. Além disso, consideram impossível que 43 corpos tenham sido queimados no lixão.
A estes eventos somou-se em novembro daquele ano a publicação de uma reportagem sobre uma luxuosa mansão da esposa de Peña Nieto, Angélica Rivera. O escândalo aqueceu ainda mais os ânimos, e começaram a brotar casos de corrupção.
Segundo a reportagem, a propriedade foi construída por uma empresa que ganhou vários projetos de infraestrutura no Estado do México quando Peña Nieto era o governador.
Longe de acalmar as águas, o presidente as agitou mais ao afirmar em diversas ocasiões que o problema da corrupção no México é "uma fraqueza de ordem cultural", o que foi interpretado por muitos como uma desculpa para não combater o problema dentro de sua administração.
Depois destes casos, surgiram várias revelações sobre massacres por parte de forças de segurança, além de novos escândalos de corrupção que envolvem personagens ligados ao presidente e governadores do seu partido.
A violência também foi um problema constante. O México terminou 2017 com 25.339 assassinatos, um número sem comparação em duas décadas que representa um aumento de 18,91% em relação ao ano anterior e que, na opinião de especialistas, mostra a fraqueza do modelo de segurança e das instituições do Estado.
Em vista da queda de sua popularidade - algumas pesquisas indicam que apenas 20% dos mexicanos aprovam sua gestão -, o presidente se entrincheirou nas supostas conquistas de suas reformas, e não há um ato público em que não as mencione.
Além disso, o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), José Ángel Gurría - um membro do PRI que ocupou cargos ministeriais na década de 1990 -, elogiou repetidamente as reformas em matérias de energia, finanças e telecomunicações.
Mas, apesar dos resultados macroeconômicos razoavelmente favoráveis de sua administração, parece provável que o legado de Peña Nieto seja identificado mais com palavras como Tlatlaya e Ayotzinapa, corrupção ou violência generalizada do que com os efeitos das reformas.
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