China sufoca cultura local no Tibete para impor sua identidade
Jèssica Martorell.
Pequim, 7 jul (EFE).- Lentamente, a China continua sufocando a identidade do Tibete colocando atrás das grades todos que sobem o tom para defender a própria cultura e impondo nas escolas o mandarim para criar uma única identidade nacional na qual a língua tibetana não tem vez.
Um dos golpes mais recentes foi a condenação, em maio, a cinco anos de prisão do professor Tashi Wangchuk, pelo crime de "incitação ao separatismo", apesar de ONU, União Europeia e várias ONGs pedirem sua libertação por considerarem que a detenção ocorreu por sua defesa dos direitos humanos.
Antes de ser preso, Wangchuk manifestou preocupação pelo fato de muitas crianças tibetanas não poderem falar fluentemente o idioma nativo, o que contribui para a extinção progressiva da cultura.
"O governo chinês tenta fazer nossa língua e nossa rica cultura desaparecerem para matar a essência do povo tibetano", afirmou à Agência Efe por e-mail o cineasta Dhondup Wangchen, exilado nos Estados Unidos após seis anos preso na China.
Embora a Constituição chinesa diga que "todas as nacionalidades têm a liberdade de usar e desenvolver sua própria língua escrita e falada", a realidade é bem diferente.
Nas cidades tibetanas lojas e escritórios têm placas nos dois idiomas, mas Wangchen contou que as autoridades estão retirando o tibetano do currículo escolar e não estão dando permissão para a construção de novas creches.
"Há cada vez mais professores chineses nas escolas tibetanas e eles estão tendo influência negativa nas crianças, dizendo que não terão futuro se aprenderem o tibetano, mas, que se estudarem chinês, serão brilhantes. A China sabe que a língua é a identidade de uma pessoa e é por isso que está tentando fazer com que desapareça para matar a essência do povo", argumentou.
Outra estratégia para minar a identificação são as escolas Neidi xizang, muitas delas em Pequim, para onde a criança é enviada para estudar longe da família, entre os 11 e os 15 anos.
Neste período de "maior vulnerabilidade" dos jovens, eles tentam "influenciar ou forçar uma cultura que não é familiar e é muito oposta à que conhecem", disse o exilado tibetano.
Organizações como a Human Rights Watch já alertaram sobre que este tipo de medida "agressiva" para "impor uma única identidade nacional e promover o uso do mandarim entre os tibetanos".
Nesse cenário, o cineasta disse temer que a situação piore nos próximos anos. Ele descreveu o país como "muito belo", mas lembrou que foi obrigado a fugir de um lugar onde jornalistas estrangeiros e trabalhadores de ONGs têm acesso praticamente proibido há anos.
Wangchen admitiu ter vontade de voltar, mas não com o clima político atual, já que considera que a situação piorou muito desde que saiu de prisão.
"Tem mais militares e polícia patrulhando, e, se alguém se atreve a se envolver em atividades políticas ou em outros assuntos que Pequim considera sensíveis, eles dificultam a vida na hora de ir ao hospital, abrir uma conta bancária ou viajar, por exemplo", relatou.
A condenação de Tashi Wangchuk não é um caso isolado. Outros pensadores e religiosos continuam presos por defender a identidade dos tibetanos.
O escritor Jo Lobsang Jamyang foi condenado em maio de 2016 a sete anos e meio de prisão. Apesar dos motivos ainda serem um mistério, suspeita-se que a razão possa ser seus escritos criticando as políticas chinesas, conforme explicou a organização Free Tibet à Efe.
A organização também lembrou os casos de Yeshe Choedron, Sonam Lhatso, Khenpo Pagah, Geshe Orgyen e Thardhod Gyaltsen, presos por defender a identidade cultural.
E a intimidação não acaba com a saída de prisão. Apesar de Wangchen ter sido solto em 2014, ele continuou submetido a uma rígida vigilância das autoridades. No final do ano passado, conseguiu fugir da China e pediu refúgio nos Estados Unidos, onde a mulher e os filhos já tinham conseguido asilo político.
Seu crime? Fazer o curta-documentário "Leaving Fear Behind" ("Deixando o medo para trás"), no qual entrevistou sem autorização oficial cerca de 100 tibetanos e depois distribuiu o material entre os jornalistas estrangeiros que cobriam os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
Pequim, 7 jul (EFE).- Lentamente, a China continua sufocando a identidade do Tibete colocando atrás das grades todos que sobem o tom para defender a própria cultura e impondo nas escolas o mandarim para criar uma única identidade nacional na qual a língua tibetana não tem vez.
Um dos golpes mais recentes foi a condenação, em maio, a cinco anos de prisão do professor Tashi Wangchuk, pelo crime de "incitação ao separatismo", apesar de ONU, União Europeia e várias ONGs pedirem sua libertação por considerarem que a detenção ocorreu por sua defesa dos direitos humanos.
Antes de ser preso, Wangchuk manifestou preocupação pelo fato de muitas crianças tibetanas não poderem falar fluentemente o idioma nativo, o que contribui para a extinção progressiva da cultura.
"O governo chinês tenta fazer nossa língua e nossa rica cultura desaparecerem para matar a essência do povo tibetano", afirmou à Agência Efe por e-mail o cineasta Dhondup Wangchen, exilado nos Estados Unidos após seis anos preso na China.
Embora a Constituição chinesa diga que "todas as nacionalidades têm a liberdade de usar e desenvolver sua própria língua escrita e falada", a realidade é bem diferente.
Nas cidades tibetanas lojas e escritórios têm placas nos dois idiomas, mas Wangchen contou que as autoridades estão retirando o tibetano do currículo escolar e não estão dando permissão para a construção de novas creches.
"Há cada vez mais professores chineses nas escolas tibetanas e eles estão tendo influência negativa nas crianças, dizendo que não terão futuro se aprenderem o tibetano, mas, que se estudarem chinês, serão brilhantes. A China sabe que a língua é a identidade de uma pessoa e é por isso que está tentando fazer com que desapareça para matar a essência do povo", argumentou.
Outra estratégia para minar a identificação são as escolas Neidi xizang, muitas delas em Pequim, para onde a criança é enviada para estudar longe da família, entre os 11 e os 15 anos.
Neste período de "maior vulnerabilidade" dos jovens, eles tentam "influenciar ou forçar uma cultura que não é familiar e é muito oposta à que conhecem", disse o exilado tibetano.
Organizações como a Human Rights Watch já alertaram sobre que este tipo de medida "agressiva" para "impor uma única identidade nacional e promover o uso do mandarim entre os tibetanos".
Nesse cenário, o cineasta disse temer que a situação piore nos próximos anos. Ele descreveu o país como "muito belo", mas lembrou que foi obrigado a fugir de um lugar onde jornalistas estrangeiros e trabalhadores de ONGs têm acesso praticamente proibido há anos.
Wangchen admitiu ter vontade de voltar, mas não com o clima político atual, já que considera que a situação piorou muito desde que saiu de prisão.
"Tem mais militares e polícia patrulhando, e, se alguém se atreve a se envolver em atividades políticas ou em outros assuntos que Pequim considera sensíveis, eles dificultam a vida na hora de ir ao hospital, abrir uma conta bancária ou viajar, por exemplo", relatou.
A condenação de Tashi Wangchuk não é um caso isolado. Outros pensadores e religiosos continuam presos por defender a identidade dos tibetanos.
O escritor Jo Lobsang Jamyang foi condenado em maio de 2016 a sete anos e meio de prisão. Apesar dos motivos ainda serem um mistério, suspeita-se que a razão possa ser seus escritos criticando as políticas chinesas, conforme explicou a organização Free Tibet à Efe.
A organização também lembrou os casos de Yeshe Choedron, Sonam Lhatso, Khenpo Pagah, Geshe Orgyen e Thardhod Gyaltsen, presos por defender a identidade cultural.
E a intimidação não acaba com a saída de prisão. Apesar de Wangchen ter sido solto em 2014, ele continuou submetido a uma rígida vigilância das autoridades. No final do ano passado, conseguiu fugir da China e pediu refúgio nos Estados Unidos, onde a mulher e os filhos já tinham conseguido asilo político.
Seu crime? Fazer o curta-documentário "Leaving Fear Behind" ("Deixando o medo para trás"), no qual entrevistou sem autorização oficial cerca de 100 tibetanos e depois distribuiu o material entre os jornalistas estrangeiros que cobriam os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
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