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Frutas e pescado de Fukushima ainda encontram resistência no mercado

30/07/2018 09h57

Agustín de Gracia.

Fukushima (Japão), 30 jul (EFE).- Agricultores e pescadores da região japonesa de Fukushima estão tendo dificuldades em convencer os consumidores de que seus produtos não estão contaminados pelo desastre nuclear de 2011, mas acreditam que, com tempo e paciência, poderão superar esta frustração.

"É preciso mudar a mentalidade do povo", disse Satoko Anzai, que, ao lado de seu marido Chuzaku e do restante da família, administra uma fazenda frutícola de cinco hectares ao norte da cidade de Fukushima.

"As pessoas ainda dizem não a nossos produtos, apesar de mostrarmos evidências de que nosso solo não está contaminado", acrescentou a agricultora, de 69 anos, ao lado de um pessegueiro cheio de frutas que está quase na época da colheita.

Chuzaku, seu marido, é a quarta geração de agricultores da região. A fazenda é administrada pelos quatro membros da família, em um negócio que começou a viver seus piores momentos após o desastre da usina nuclear de Daiichi, em 11 de março de 2011.

Naquele dia, um terremoto de magnitude 9 na escala Richter e um tsunami que elevou as águas em 15 metros destruiu a usina nuclear de Daiichi, que começou a ser construída em 1967, e na qual vários de seus reatores sofreram fusões.

As autoridades ordenaram a evacuação de uma área de 370 quilômetros quadrados, mas, sete anos depois da tragédia, a região vai recuperando o ritmo pouco a pouco, mas será difícil atingir os padrões anteriores a 2011.

A contaminação se espalhou principalmente pelo ar, chegou às camadas subterrâneas e também ao mar, criando um desastre nuclear que continua afetando o país, justamente o único bombardeado com armas atômicas na história.

A produção de pêssegos, cerejas e mirtilos dos Anzai chegou a cair 35%. A terra teve que ser descontaminada, as árvores frutíferas lavadas e, três anos depois, a produção retornou aos níveis anteriores ao desastre.

A família Anzai vive de sua produção e das subvenções das autoridades e as da empresa dona da usina nuclear, mas continua empenhada em convencer seus antigos clientes de que suas frutas não estão contaminadas, e mostra orgulhosa todos os documentos que assim o demonstram.

São angústias também dos pescadores da área de Fukushima, embora as suas sejam piores porque a atividade caiu 16% em relação aos níveis anteriores ao desastre nuclear, e, apesar de haver embarcações suficientes para pescar, são poucos os que querem seu pescado.

"Vai passar algum tempo até que comecem a comprar nosso pescado de novo", lamentou Kazunori Yoshida, diretor da Associação de Cooperativas de Pesca da cidade de Iwaki, ao explicar para um grupo de jornalistas como o setor está vivendo a tragédia.

Dos 200 barcos do porto de Onahama, um dos maiores da região, só podem operar cerca de 50 por dia, por causa de turnos estabelecidos segundo o tipo de captura.

"Não há mercado para 200 barcos", lamentou Yoshida.

No porto de Onahama existe um laboratório que há anos se encarrega de analisar os peixes capturados para rastrear possíveis sinais de contaminação. Os peixes são cortados com cuidado e as pequenas peças depositadas em um medidor de radiação.

Os padrões são muito mais rigorosos que em outros países. Para o pescado e os vegetais, por exemplo, só são permitidos níveis que são 1/12 avos dos valores exigidos nos Estados Unidos e um décimo do Codex Alimentarius internacional.

Também são analisados continuamente verduras, frutas e carne em outro laboratório da cidade de Fukushima.

Para poder percorrer as instalações, os visitantes têm que trocar de calçados três vezes para evitar contaminação externa, e cada amostra é introduzida em unidades de análise que custam cerca de US$ 200 mil cada uma.

Esses testes não têm uma data final. Os controles continuam sendo feitos até que todas as dúvidas tenham sido superadas, a família Anzai possa vender seus pêssegos sem preconceitos e os pescadores de Iwaki saiam para o mar sabendo que seu trabalho terá mercado.