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Por mão-de-obra, chineses estudam multar casais com poucos filhos

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Imagem: iStock

19/08/2018 10h33

A China, país que durante décadas submeteu milhões de a controles de natalidade por apenas um filho, agora busca métodos opostos para incentivar os casais a terem mais filhos, com uma polêmica proposta divulgada nesta semana que cogita a aplicação de multa a quem não engravidar.

O hipotético plano, publicado em 14 de agosto no jornal oficial da província de Jiangsu (leste), tem como autores dois economistas da Universidade de Nanquim (Liu Zhibiao e Zhang Ye) e gerou uma onda de críticas nas redes sociais chinesas.

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A ideia de Zhang e Liu inclui por um lado abolir o atual sistema que permite aos casais chineses ter dois filhos (algo que pedem várias forças no país e que poderia acontecer ainda este ano ou em 2019), mas suscita controvérsias perante o chamado "fundo de maternidade", que seria imposto a todas as pessoas menores de 40 anos.

De acordo com o plano, este grupo deveria fornecer uma porcentagem de seu salário periodicamente enquanto não tivessem filhos ou somente um, embora uma vez que concebessem o segundo, poderiam retirar esse fundo (e se isto não ocorrer, receberiam o dinheiro ao se aposentar).

O plano circulou amplamente na China, onde governo e especialistas buscam formas para aumentar a natalidade para evitar o perigoso envelhecimento da população, que acarretará em falta de mão de obra e problemas no sistema de previdência, e muitos criticaram o mesmo.

"Não nos tratam como humanos e nem como mulheres, mas como recursos de fertilidade", opinou a escritora feminista Hou Hongbin.

"A reprodução deveria ser um direito do cidadão, não uma obrigação", afirmou outro comentarista em redes sociais.

Alguns reflexionam sobre a forte coerção que o Estado chinês quer exercer sobre a demografia, tanto agora como nos tempos da "política do filho único".

"Não há muito tempo, se ocorresse uma segunda gravidez, seria preciso abortar. Agora é preciso pagar por um segundo filho que nem sequer tenho", denunciou outro usuário na rede Weibo.

A proposta também recebeu críticas de veículos de imprensa oficiais como a televisão estatal "CCTV", que a chamou de "irracional e falta de bom senso" e do jornal "Global Times", ligado ao Partido Comunista.

Um plano assim "só diminuiria o desejo das pessoas de ter mais crianças", afirmou a esse jornal o pesquisador Yi Fuxian, da universidade americano de Wisconsin-Madison.

O regime comunista está começando a se preocupar pelo fato de que o relaxamento das políticas de planejamento familiar, permitindo um segundo filho a todos os casais, não está tendo o efeito esperado, já que em 2017 houve 630 mil nascimentos a menos que em 2016, o primeiro ano em que a medida foi aplicada.

O mesmo Diário do Povo, principal porta-voz do Partido Comunista, destacou recentemente que a promoção de nascimentos devia se transformar em uma política de Estado, uma afirmação que também suscitou críticas entre os internautas do país.