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Xiitas afegãos desafiam o terrorismo para celebrar a Ashura

20/09/2018 10h03

Baber Khan Sahel.

Cabul, 20 set (EFE).- Os membros da minoria xiita no Afeganistão concluem nesta quinta-feira vários dias de rituais em mesquitas e templos por ocasião da Ashura, festividade religiosa mais importante para esta comunidade e alvo habitual do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

Nos dias anteriores, homens, mulheres, crianças e idosos se reuniram em santuários e mesquitas para comemorar a morte do imame Hussein, neto do profeta Maomé, que foi morto no ano 680 d.C. pelo califa Yazid I, um fato que marca o começo do cisma entre os dois principais ramos do Islã.

Essas mostras de dor aconteceram hoje com a reunião de centenas de xiitas na frente de um de seus principais santuários em Cabul, quando os devotos chicoteiam o próprio corpo para imitar o martírio de Hussein.

"Sei que nós, os xiitas, estamos ameaçados e que os terroristas sedentos por sangue estão esperando a oportunidade de nos matar, mas mesmo assim minha família e eu decidimos participar dos rituais", disse à Agência Efe Haji Nazir Khair-Khowa, um homem de 60 anos que mora na região de Taimani, em Cabul.

Os participantes das celebrações, nas quais alguns batem vigorosamente no peito ao ritmo dos tambores, têm consciência de que os atentados contra a minoria xiita são frequentes no Afeganistão há dois anos, e têm como alvo principalmente mesquitas, manifestações, encontros civis e inclusive escolas.

A minoria muçulmana xiita da etnia hazara sofreu um grande atentado no dia 5 de setembro quando um terrorista suicida detonou os explosivos que levava junto ao corpo no meio de um grupo de lutadores que tinham se reunido em uma academia da capital.

Esta ação foi seguida por uma segunda explosão com carro-bomba perto da entrada do centro esportivo, com o objetivo de matar àqueles que foram prestar ajuda às vítimas. No total, 26 pessoas morreram, enquanto quase cem ficaram feridas.

Embora não haja dados oficiais do número exato de ataques e vítimas que os ataques terroristas causaram na comunidade xiita no Afeganistão, habitualmente reivindicados pelo EI, líderes desta minoria afirmam que os mortos são contados em centenas.

"Apenas em 22 ataques, estimamos 3 mil vítimas. Entre 800 e 900 mortos e o resto feridos em ataques contra os xiitas", disse à Agência Efe um parlamentar hazara, Arif Rahmani.

O porta-voz da Polícia de Cabul, Hashmat Stanekzai, relatou à Efe que o Governo enviou a Polícia local e centenas de soldados das forças militares para garantir a segurança das mesquitas xiitas e monumentos de Cabul, assim como nos bairros habitados por esta minoria religiosa.

Além disso, centenas de jovens xiitas se armaram para proteger, de forma temporária, as áreas religiosas contra suicidas e outros ataques.

"Alguns destes jovens xiitas possuem suas próprias armas, incluindo espingardas para caçar, e cerca de 500 foram armados pelo Ministério do Interior, mas em geral estão sob a supervisão das forças de segurança", explicou Stanekzai.

Apesar das medidas, Rahmani assegurou que está "extremamente" preocupado com a segurança de seus correligionários, especialmente nas mesquitas mais movimentadas onde milhares de pessoas se reúnem.

"Soubemos que o inimigo está fazendo um esforço para criar várias tragédias durante a Ashura, e infelizmente nossas forças de segurança não são completamente capazes de preveni-las. Rezamos para que Deus nos ajude a comemorar a Ashura de forma pacífica", declarou o parlamentar.

Na segunda-feira, a principal agência de inteligência afegã anunciou a detenção de 26 supostos membros do EI que planejavam realizar atentados em Cabul durante a Ashura.

"A resistência do imame Hussein foi pela justiça e um triunfo do sangue sobre a espada. Portanto, porque deveríamos nos render contra os terroristas que não podem evitar que celebremos a Ashura?", disse à Efe, Raziq Attaee, de 18 anos. EFE.