Fundamentalismo islâmico veta vacina com partes de porco na Indonésia
Ricardo Pérez-Solero Llosa.
Jacarta, 24 set (EFE).- Funcionários do Ministério da Saúde da Indonésia encontraram uma recepção nada calorosa quando chegaram a um povoado da ilha de Célebes, durante uma campanha de vacinação rejeitada por parte da população muçulmana porque a vacina contém vestígios de porco.
Os moradores de Popayato, na província de Gorontalo, receberam os agentes com facões e são um dos exemplos que o subchefe do gabinete presidencial, Yanuar Nugroho, mencionou para alertar do risco de descumprir os objetivos do programa contra o sarampo e a rubéola.
"Alguns (enfermeiros) foram ameaçados com facões porque os pais disseram que não queriam (vacinar os filhos), que é haram (proibido pela lei islâmica)", disse Yunuar recentemente ao jornal local "Tempo".
A Indonésia começou em 2017 a primeira fase do programa de vacinação contra estas duas doenças em 35 milhões de crianças de entre nove meses e 15 anos na ilha de Java, onde vivem mais da metade dos 260 milhões de habitantes do país.
O ministério de Saúde, apoiado pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), realiza desde agosto deste ano a segunda fase no resto do país, que a princípio termina este mês.
Segundo dados da OMS de setembro, a Indonésia está entre os dez primeiros países do mundo com mais casos de sarampo e é o primeiro da lista no sudeste asiático, sem contar com a Índia, em número de casos de rubéola, ambos registrados nos últimos 12 meses.
No entanto, o Conselho de Ulemás da Indonésia (MUI) expressou dúvidas sobre a vacina poucos dias antes de começar o programa e recomendou aos muçulmanos que esperassem até que a organização religiosa a catalogasse como "halal" (aprovado no Islã).
Finalmente o MUI analisou a vacina e emitiu uma fatwa em 20 de agosto para permitir seu uso, argumentando riscos de saúde e a falta de alternativas, embora não a tenha denominado "halal".
Cerca de 90% dos indonésios são muçulmanos e praticam em sua maioria uma forma moderada do Islã, mas as facções fundamentalistas atrasaram a vacinação em províncias como Aceh, a única regida pela "sharia" - ou lei islâmica -, ou nas Ilhas de Riau (ambas a oeste).
O secretário do MUI nas Ilhas de Riau, Ustadz Santoso, disse ao jornal "Jakarta Post", dois dias depois de sua organização emitir a fatwa, que, "se a vacina é tão importante, então pedimos ao governo para criar uma (vacina) 'halal' e segura para os muçulmanos" e negou que haja risco de um surto de rubéola em sua região.
Durante um simpósio sobre a vacina realizado em Jacarta, a ministra da Saúde, Nila Moeloek, considerou que a dispersão geográfica do país é uma das dificuldades para a campanha.
O presidente do MUI, Marouf Amin, que concorre como vice na chapa do presidente da Inmdonésia, Joko Widodo, nas eleições gerais de abril de 2019, lamentou a falta de progresso da vacina, que "é de apenas 48%", disse durante o debate transmitido ao vivo.
A médica do Unicef Kenny Peetosutan, que colabora na campanha de vacinação, afirmou que o objetivo é atingir 95% das 32 milhões de crianças incluídas na segunda fase de vacinação.
"Com esta alta cobertura, esperamos que não haja oportunidade para que o vírus seja transmitido de pessoa para pessoa, mas tem que ser em todos os níveis, não só em nível nacional, se não em cada província, em cada município e subdistrito a cobertura tem que ser igualmente alta", disse à Agência EFE Peetosutan.
Segundo a médica, a alta taxa de vacinação garante imunidade também para os que não podem se vacinar, como idosos, pessoas tomando determinada medicação e mulheres grávidas.
Em Aceh, a cobertura atinge atualmente 7% da população, disse ao portal de notícias local "Detik" o secretário da Associação Indonésia de Pediatria, o médico Aslinar, que como muitos indonésios utiliza um só nome.
O Ministério da Saúde ignorou os pedidos enviados pela EFE de fornecer dados atualizados sobre a cobertura da campanha.
O sarampo pode causar danos cerebrais e inclusive a morte, enquanto a rubéola pode provocar más-formações congênitas, abortos e a morte prematura do feto se a mãe contrair a doença durante a gravidez.
Jacarta, 24 set (EFE).- Funcionários do Ministério da Saúde da Indonésia encontraram uma recepção nada calorosa quando chegaram a um povoado da ilha de Célebes, durante uma campanha de vacinação rejeitada por parte da população muçulmana porque a vacina contém vestígios de porco.
Os moradores de Popayato, na província de Gorontalo, receberam os agentes com facões e são um dos exemplos que o subchefe do gabinete presidencial, Yanuar Nugroho, mencionou para alertar do risco de descumprir os objetivos do programa contra o sarampo e a rubéola.
"Alguns (enfermeiros) foram ameaçados com facões porque os pais disseram que não queriam (vacinar os filhos), que é haram (proibido pela lei islâmica)", disse Yunuar recentemente ao jornal local "Tempo".
A Indonésia começou em 2017 a primeira fase do programa de vacinação contra estas duas doenças em 35 milhões de crianças de entre nove meses e 15 anos na ilha de Java, onde vivem mais da metade dos 260 milhões de habitantes do país.
O ministério de Saúde, apoiado pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), realiza desde agosto deste ano a segunda fase no resto do país, que a princípio termina este mês.
Segundo dados da OMS de setembro, a Indonésia está entre os dez primeiros países do mundo com mais casos de sarampo e é o primeiro da lista no sudeste asiático, sem contar com a Índia, em número de casos de rubéola, ambos registrados nos últimos 12 meses.
No entanto, o Conselho de Ulemás da Indonésia (MUI) expressou dúvidas sobre a vacina poucos dias antes de começar o programa e recomendou aos muçulmanos que esperassem até que a organização religiosa a catalogasse como "halal" (aprovado no Islã).
Finalmente o MUI analisou a vacina e emitiu uma fatwa em 20 de agosto para permitir seu uso, argumentando riscos de saúde e a falta de alternativas, embora não a tenha denominado "halal".
Cerca de 90% dos indonésios são muçulmanos e praticam em sua maioria uma forma moderada do Islã, mas as facções fundamentalistas atrasaram a vacinação em províncias como Aceh, a única regida pela "sharia" - ou lei islâmica -, ou nas Ilhas de Riau (ambas a oeste).
O secretário do MUI nas Ilhas de Riau, Ustadz Santoso, disse ao jornal "Jakarta Post", dois dias depois de sua organização emitir a fatwa, que, "se a vacina é tão importante, então pedimos ao governo para criar uma (vacina) 'halal' e segura para os muçulmanos" e negou que haja risco de um surto de rubéola em sua região.
Durante um simpósio sobre a vacina realizado em Jacarta, a ministra da Saúde, Nila Moeloek, considerou que a dispersão geográfica do país é uma das dificuldades para a campanha.
O presidente do MUI, Marouf Amin, que concorre como vice na chapa do presidente da Inmdonésia, Joko Widodo, nas eleições gerais de abril de 2019, lamentou a falta de progresso da vacina, que "é de apenas 48%", disse durante o debate transmitido ao vivo.
A médica do Unicef Kenny Peetosutan, que colabora na campanha de vacinação, afirmou que o objetivo é atingir 95% das 32 milhões de crianças incluídas na segunda fase de vacinação.
"Com esta alta cobertura, esperamos que não haja oportunidade para que o vírus seja transmitido de pessoa para pessoa, mas tem que ser em todos os níveis, não só em nível nacional, se não em cada província, em cada município e subdistrito a cobertura tem que ser igualmente alta", disse à Agência EFE Peetosutan.
Segundo a médica, a alta taxa de vacinação garante imunidade também para os que não podem se vacinar, como idosos, pessoas tomando determinada medicação e mulheres grávidas.
Em Aceh, a cobertura atinge atualmente 7% da população, disse ao portal de notícias local "Detik" o secretário da Associação Indonésia de Pediatria, o médico Aslinar, que como muitos indonésios utiliza um só nome.
O Ministério da Saúde ignorou os pedidos enviados pela EFE de fornecer dados atualizados sobre a cobertura da campanha.
O sarampo pode causar danos cerebrais e inclusive a morte, enquanto a rubéola pode provocar más-formações congênitas, abortos e a morte prematura do feto se a mãe contrair a doença durante a gravidez.
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