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Danny Glover se diz preocupado por efeito Bolsonaro na comunidade negra

O ator Danny Glover pede a liberdade de Lula, em maio de 2018 - Ricardo Stuckert
O ator Danny Glover pede a liberdade de Lula, em maio de 2018 Imagem: Ricardo Stuckert

Sarah Yáñez-Richards

Montevidéu

31/10/2018 17h56

O ator americano e embaixador da ONU para os direitos humanos e assuntos raciais, Danny Glover, disse nesta quarta-feira (31) à Agência Efe em Montevidéu que está preocupado com o efeito que a eleição de Jair Bolsonaro terá na comunidade afrodescendente latino-americana.

Para exemplificar seu temor com uma expansão de ideologias racistas na região, o ator de 72 anos, que está visitando o Uruguai, usou uma frase do líder pacifista do movimento negro Martin Luther King, "Nenhum homem é uma ilha", e acrescentou que isto pode afetar todo o mundo.

"A ideia de criar uma zona de paz para a região é muito importante. Não sei para onde irá tudo agora (...) Temos que estar preocupados com esse movimento, mas acredito que, como dizemos em português, durante a guerra de libertação: 'A luta contínua'", ressaltou Glover.

No final do ano passado, Bolsonaro, que assumirá a presidência em janeiro, comentou que tinha visitado uma comunidade de quilombolas e, entre outras coisas, declarou que essas pessoas "não fazem nada" e que "já nem para procriar servem", o que resultou em uma denúncia por parte do Ministério Público por usar "expressões discriminatórias e que incitam ao ódio".

Outro ponto que inquieta o ator reconhecido por sua luta em defesa do meio ambiente, dos direitos humanos e da justiça social é da defesa da autoridade militar apregoada por Bolsonaro.

"Foi perturbador ver, depois que a vitória foi anunciada no domingo, os militares realizando marchas, isso não é um bom sinal... Mas talvez seja menos do que pensamos que será", afirmou o intérprete do veterano detetive Roger Murtaugh em "Máquina Mortífera".

Glover, que é casado com uma brasileira, também expressou sua inquietação pela perda de força sofrida pelos sindicatos e pelos programas sociais brasileiros desde que o PT deixou de estar no poder.

"Temos que estar atentos ao que está acontecendo. As democracias da América Latina são muito jovens", afirmou.

O ativista americano fez campanha em várias ocasiões para o ex-presidente Lula durante as últimas eleições e inclusive foi visitá-lo na prisão.

Durante sua viagem ao Uruguai com a organização Mundo Afro, o artista se reuniu com o ex-presidente do país, José Mujica, e sua esposa, a vice-presidente Lucía  Topolansky, com quem discutiu sobre a mudança política do Brasil e a situação dos afrodescendentes na região.

"A população do Uruguai é de apenas três milhões de pessoas, mas desempenhou e desempenhará um papel muito importante em temas como os problemas na região e os problemas que afetam os afrodescendentes", disse o ator.

Ainda durante sua visita ao Uruguai, Glover se reuniu com os ministros de Interior, Relações Exteriores e Desenvolvimento Social do país, e participou da assinatura de um acordo entre o Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Inefop) e o Mundo Afro para oferecer oportunidades a pessoas historicamente discriminadas.

O ator também dará hoje uma conferência magistral sobre "reparação simbólica e material para a comunidade afrodescendente em Montevidéu" e na quinta-feira (1º) participará do 1º Encontro Nacional Movimento Juvenil do Mundo Afro em Sarandí Grande, no departamento da Flórida.