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Remédios derivados de maconha já podem ser receitados no Reino Unido

01/11/2018 13h10

Paula Baena Velasco.

Londres, 1 nov (EFE).- A legislação que permite a prescrição de remédios derivados de maconha entra em vigor nesta quinta-feira no Reino Unido, mas, segundo os especialistas, o acesso a estes tratamentos continuará sendo "limitado".

A nova legislação, que foi anunciada pelo ministro do Interior, Sajid Javid, em julho deste ano, prevê que serão contemplados os adultos com náuseas causadas por quimioterapia, com rigidez muscular por esclerose múltipla e as crianças com formas raras ou severas de epilepsia.

A este último grupo pertencem os menores Billy Caldwell e Alfie Dingley, cujos midiáticos e polêmicos casos incentivaram esta mudança legislativa este ano.

As duas crianças, de 13 e sete anos, combatem suas doenças com remédios derivados destes psicotrópicos que suas mães têm que adquirir no exterior.

A situação de Caldwell repercutiu depois que a segurança do aeroporto de Heathrow requisitou os remédios do menino em junho deste ano, adquiridos previamente no Canadá, enquanto o mesmo teve que ser internado por complicações derivadas da falta de tratamento.

Os veículos de imprensa informaram sobre o caso, que causou uma grande repercussão no Reino Unido, e isso fez com que o ministro de Interior concordasse em devolver à criança a substância e decidisse revisar a legislação.

O caso de Dingley também foi notório no país, depois que sua mãe denunciou à imprensa que o governo tinha se comprometido a conceder uma licença extraordinária que permitisse ao garoto ter acesso aos medicamentos no Reino Unido mas, três meses depois, o documento não foi efetivo.

Sua mãe, Deacon, comemorou a notícia da mudança legislativa e disse que é "um dia transcendental para todos os pacientes e para as famílias que têm crianças que estão sofrendo e querem ter acesso à maconha medicinal".

No entanto, na nova guia elaborada pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) para os médicos do país estes remédios só devem ser prescritos "quando houver provas publicadas de seus benefícios e tenham sido esgotadas outras opções de tratamento".

Na prática, segundo o neurologista do hospital St George de Londres Waqar Rashid, a maioria dos médicos vai continuar sem prescrever estes tratamentos porque "muitos deles não foram testados ou autorizados da mesma maneira que os remédios convencionais".

Por isso, Rashid alertou que se "ocorrer algum efeito secundário ou dano, embora leve", o médico pode ter "complicações legais".

É por isso que, segundo sua opinião, "dizer que a partir de agora será possível prescrever estes remédios não é tão correto. Só um grupo muito seleto de profissionais poderá fazê-lo".

Apesar de o governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, ter se apressado em dizer que este não é um primeiro passo no caminho para legalizar a maconha para fins recreativos, a realidade é que esta mudança propiciou uma maior aceitação entre a opinião pública sobre a descriminalização total desta droga.

Assim ficou demonstrado em uma pesquisa elaborada pelo instituto Populus publicada nesta semana no jornal "The Independent", na qual 59% do britânicos se mostravam a favor.

Segundo Liz McCulloch, diretora de política do "think tank" Volteface, que encomendou o estudo, "em apenas seis meses a opinião mudou significativamente a favor da legalização" da maconha.

Algo que, na sua opinião, se deve a "uma reação ao recente desenvolvimento dos eventos em torno da maconha medicinal", à crescente "consciência" dos danos causados pelo mercado ilícito e à recente "legalização desta droga no Canadá".