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Grynspan: "América Latina foi bem ao se abrir para o mundo"

13/11/2018 18h45

Rafael Cañas.

Madri, 13 nov (EFE).- A secretária-geral ibero-americana, Rebeca Grynspan, alerta contra as tentações protecionistas e de antiglobalização na região e defende que a América Latina "foi bem ao se abrir para o mundo".

Em entrevista à Agência Efe antes da Cúpula Ibero-Americana, que terá início na próxima quinta-feira, Grynspan disse acreditar que o evento "será um sucesso" e mostrará uma região que dá novos passos conjuntos em integração, na igualdade de gênero e na luta contra a mudança climática.

O encontro de chefes de Estado e Governo na cidade de Antigua, na Guatemala, será "histórico" pela presença de 17 governantes, já que "não há nenhum espaço" que reúna tantos líderes da região, nas palavras da diplomata.

A cúpula chega em uma fase de crescimento global das tendências nacionalistas, populistas e protecionistas. Para Grynspan, esse discurso "não é a retórica principal" na América Latina, uma região que "teve os seus melhores anos de crescimento tentando se integrar inteligentemente ao mundo".

A costa-riquenha, que lidera a Secretaria Geral Ibero-Americana (Segib) desde 2014, ressaltou que a organização chega à edição guatemalteca do evento "com os deveres cumpridos".

Grynspan explicou que serão apresentadas iniciativas propostas na última cúpula, como o Observatório para a Mudança Climática de La Rábida, na província de Huelva, na Espanha; políticas de deficiência e a plataforma de compartilhamento entre professores, estudantes e pesquisadores.

A secretária-geral ressaltou também que em Antigua haverá "uma agenda muito concreta e muito ambiciosa" nas políticas de gênero, com ênfase na modificação ou eliminação das leis que dificultam o empoderamento econômico das mulheres.

O longo e complicado processo de integração da região é uma questão fundamental para a chefe da Segib. Segundo ela, a "América Latina precisa de mais integração", mas trata-se de uma "promessa" que não foi resolvida.

No entanto, Grynspan advertiu que o modelo da União Europeia (UE) não pode ser levado para a região.

"Eu nunca esperaria a ideia de reproduzir uma União Europeia na América Latina", frisou.

Em vez disso, a secretária-geral aposta em uma integração "de baixo para cima" e mais pragmática, com menos peso institucional do que na UE e mais ação para a mobilidade da sociedade civil, as instituições educativas e as empresas.

"As multilatinas fizeram muito mais em termos de integração comercial do que muitas das iniciativas de integração que tivemos na região", afirmou.

Grynspan se mostrou muito esperançosa com o recente início da cooperação entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul, o que "ajudaria muito a integração da região".

A diplomata também disse esperar que muitos dos acordos de nova geração entre a UE e países latino-americanos (como o já fechado com o México, além do que se negocia com o Chile) ajudem a equiparar padrões técnicos, de saúde ou legislativos na América.

Otimista em toda a entrevista, Rebeca Grynspan não escondeu que aposta na recuperação da economia latino-americana após dois anos de crescimento negativo devido, sobretudo, à forte redução no crescimento e no comércio internacionais.

"As guerras comerciais e o protecionismo não ajudam no crescimento da região", ressaltou, além de lembrar que nos primeiros 15 anos deste século a América Latina tirou 80 milhões de pessoas da pobreza e reduziu a desigualdade "como nunca antes na sua história".

A cúpula na Guatemala acontecerá em meio à grande repercussão dois movimentos migratórios: a saída de venezuelanos que fogem da crise no país natal e a caravana de pessoas que deixaram Honduras rumo aos Estados Unidos.

Filha de imigrantes poloneses, Grynspan destacou a solidariedade latino-americana que amparou seus pais - que tiveram que deixar a terra de origem - e pediu "uma resposta regional" para o desenvolvimento, o que deve incluir em um comunicado especial da cúpula.

Uma causa crescente da emigração é a mudança climática, motivo pelo qual a Segib quer mostrar apoio trabalhando com empresas, governos locais e o mundo acadêmico.