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García justifica asilo no Uruguai por "clima de perseguição política" no Peru

18/11/2018 22h45

Lima, 18 nov (EFE).- O ex-presidente do Peru Alan García (1985-1990 e 2006-2011) justificou neste domingo que seu pedido de asilo diplomático na residência do embaixador uruguaio em Lima foi por causa do clima "de perseguição política" que vive seu país, impulsionado pelo desejo do governo de Martín Vizcarra de "aprisionar as instituições".

Assim explicou o próprio García em carta enviada ao presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, e que foi divulgada pelas redes sociais do Partido Aprista de Peruano (PAP), na qual narrou sua visão sobre o que acontece no Peru e rejeitou as acusações de corrupção contra ele vinculados à empresa Odebrecht.

"Hoje, mais uma vez, na minha pátria, as leis e procedimentos se desnaturalizam e são manipulados por interesses políticos como instrumentos de perseguição (...) No meu país, a guerra por aprisionar as instituições e a Promotoria da Nação criou um clima de falta de defesa jurídica, onde nem a verdade nem a ausência de provas valem contra o desejo de usar o procedimento investigatório, extremando abusivamente suas atribuições ilícitas", denunciou García.

Assim, segundo o ex-presidente peruano, as ações da Promotoria contra ele e a ordem judicial de impedimento de saída do país por 18 meses que lhe foi imposta no sábado têm um "propósito político e de perseguição" contra sua pessoa.

García insistiu, como já fez em vezes anteriores, que desde que explodiu o escândalo da Odebrecht, "a atenção foi voltada" para ele à espera de que as "delações estipuladas" entre a empresa e a promotoria mostrassem provas de pagamentos ou subornos.

No entanto, "apesar de especulações gratuitas ou rumores que os adversários e os agentes do governo divulgaram, não existe nem uma só declaração, delação ou prova de ilícito, mencionadas por nenhum depoente peruano ou brasileiro vinculados à companhia brasileira".

García disse que desde que Vizcarra assumiu, após a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski em março deste ano, "um novo tipo de política se instaurou no país, que se baseia no confronto e no cerceamento da ação dos outros poderes do Estado".

Segundo disse, as políticas de Vizcarra que confrontam o Congresso, dominado pelos opositores fujimoristas e por seus aliados do PAP, são somente "um recurso para fortalecer a passageira popularidade do presidente após a vacância".

Além disso, García disse que o conflito entre Vizcarra e o promotor dom país, Pedro Chávarry, acusado de fazer parte de uma organização criminosa que vendia favores dentro do Poder Judiciário peruano, só tem o propósito "de destituí-lo e entregar a instituição a promotores dóceis ao governo".

"Pela primeira vez em um regime, aparentemente democrático, tanto o presidente substituto como seu primeiro-ministro reivindicaram publicamente a cassação pelo Congresso do promotor Chavarry", declarou García.

Segundo seu relato, a recusa do Congresso a este pedido é que levou a Justiça peruana a acusar o fujimorismo de ter recebido financiamento irregular e cometido o crime de lavagem de dinheiro no processo para colocar na prisão sua líder Keiko Fujimori.

Segundo sua opinião, as exigências do Governo para mudar o promotor se devem ao seu interesse "de evitar, como se presume, a sua própria investigação e processo por casos nos quais, ex-ministros do regime Kuczynski, como o atual presidente e primeiro-ministro, estariam comprometidos".

"A Justiça no Peru vive uma situação anômala, e a situação jurídica de um dirigente político opositor está gravemente ameaçada", acrescentou.

García é investigado pelo promotor contra a lavagem de dinheiro José Domingo Pérez de supostamente ter recebido um pagamento da Odebrecht, através de um intermediário, no valor de US$ 100 mil para dar uma conferência no Brasil.

Esse dinheiro, de procedência ilegal, que teria sido lavado através de um testa-de-ferro da empresa, faria parte de um suborno para favorecer a empresa Odebrecht na licitação das obras do metrô de Lima, segundo a Promotoria.

O objetivo do pedido da Promotoria de impedir que García saia do Peru é evitar que evite o processo, como já fez em 1992, quando se exilou na Colômbia e depois viveu na França, até que em 2001 se declarou que uma acusação por suposto enriquecimento ilícito durante o seu primeiro mandato (1985-1990) prescreveu.