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Cubanos processam Organização Pan-Americana da Saúde por Mais Médicos

30/11/2018 18h33

Miami, 30 nov (EFE).- Quatro médicos cubanos processaram nesta sexta-feira, em Miami, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPS) por facilitar a "rede de tráfico humano" e "escravidão" que, segundo eles, havia por trás do programa Mais Médicos no Brasil.

"Há uma organização internacional (a OPS), filiada com as Nações Unidas, que se tornou a principal força para permitir que Cuba exportasse os seus cidadãos para que fizessem trabalhos de escravidão em um país estrangeiro", argumentou o advogado Samuel J. Dubbin em entrevista coletiva.

De acordo com os relatórios apresentados no processo, os médicos cubanos receberam menos de 10% do dinheiro que o Brasil pagava a Cuba pelos serviços, enquanto a OPS, com sede em Washington, e o governo cubano receberam o restante.

Esses mesmos documentos indicam, segundo os autores do processo, que a OPS arrecadou mais de US$ 75 milhões através do Mais Médicos e cerca de US$ 1,3 bilhão tiveram como destino os cofres cubanos utilizando contas bancárias dos Estados Unidos.

Segundo um estudo realizado pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia, em 2015 havia cerca de 37 mil médicos cubanos que trabalhavam em 77 países, a maioria deles na América Central, Brasil e Venezuela. Calcula-se que as autoridades de Cuba arrecadaram US$ 11 bilhões ao ano graças ao "tráfico humano", de acordo com o estudo.

Ramona Matos, Tatiana Carballo, Fidel Cruz e Russela Rivero são os quatro médicos cubanos que iniciaram a batalha jurídica no tribunal do Distrito Sul da Flórida. A expectativa é que a iniciativa ganhe a adesão de outros profissionais da saúde que participaram de missões como o Mais Médicos.

Neste mês, o governo de Cuba anunciou a decisão de retirar os mais de 11 mil colaboradores do programa Mais Médicos em resposta às exigências do presidente eleito Jair Bolsonaro.

Matos tem mais de 30 anos de carreira como médica. Em 2014, ela aceitou viajar para o Brasil para trabalhar no programa.

"Antes de viajar, perguntamos quanto iriam nos pagar, mas não nos disseram até um dia antes de seguirmos para o Brasil", relatou a médica.

Depois de tudo, o contrato assinada por Matos e os demais profissionais da saúde que viajaram com ela tinha "condições pouco humanitárias", segundo argumentaram.

"Eles nos pagariam US$ 1 mil, dos quais US$ 400 nos dariam no câmbio, e US$ 600 iram para uma conta nossa no banco de Cuba", afirmou Matos, que já no Brasil descobriu que trabalhavam no programa profissional de outros países e percebeu a diferença salarial e as restrições dos cubanos.

"Os médicos cubanos eram controlados pelo funcionário do governo de Cuba, não nos deixavam sair do lugar, não podíamos visitar Brasília, tínhamos que ficar lá, enquanto os outros podiam sair", afirmou.

Carballo, outra das autoras do processo, exerce a profissão há 50 anos e vive exilada no sul da Flórida, após ter desertado da missão do Brasil.

"Quando chegamos ao aeroporto, muita gente gritava 'Escravos!' para a gente e eu não entendia por que, até que me dei conta da realidade", ressaltou.

Os advogados dos quatro médicos não sabem exatamente a quanto chegará o valor total do processo, já que ainda se desconhece quantos profissionais da saúde que passaram pela mesma situação vão aderir na ação.