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Eurocâmara reconhece dissidente ucraniano preso na Rússia com prêmio Sakharov

12/12/2018 13h03

Estrasburgo (França), 12 dez (EFE).- O Parlamento Europeu reconheceu nesta quarta-feira com o Prêmio Sakharov à Liberdade de Consciência o cineasta ucraniano Oleg Sentsov, em uma clara mensagem a Moscou, já que o homenageado dissidente cumpre uma pena de 20 anos de prisão na Rússia por supostamente planejar atentados terroristas.

"A palavra é a ferramenta principal das pessoas e frequentemente a única, especialmente quando te tiraram todo o resto", disse Sentsov através de sua prima Natalya Kaplan, encarregada de ler o discurso do intelectual preso.

Sua prima descreveu como "um homem com H maiúsculo" o escritor e cineasta na cerimônia de entrega de um prêmio criado em 1988 para reconhecer as pessoas e organizações que defendem os direitos humanos e as liberdades fundamentais, realizada na sede da Eurocâmara em Estrasburgo, no nordeste da França.

No Parlamento Europeu, Kaplan lembrou a detenção do cineasta nascido há 42 anos na Crimeia, território ucraniano anexado pela Rússia em 2014.

"Em abril de 2014 foi criado um departamento antiterrorista na Crimeia. Como havia departamento, tinha que haver terroristas para que distribuíssem medalhas (...) e em maio entraram no apartamento de Oleg, mas só estava sua filha de 11 anos", contou sua prima.

Os agentes confiscaram então suas passagens de trem para Kiev, um poema em ucraniano, DVDs sobre o fascismo e a história do Terceiro Reich. Com essas provas construíram a acusação de terrorismo.

Uma vez detido, Sentsov iniciou um périplo administrativo forçado de prisão em prisão até chegar ao presídio siberiano na península de Yamal, ao norte do círculo polar ártico, onde se encontra atualmente.

Em 14 de maio de 2018, Sentsov, de 42 anos, iniciou uma greve de fome e disse que só a interromperia se a Rússia libertasse todos os presos políticos ucranianos.

Após 145 dias, no último mês de outubro, abandonou o protesto para evitar que lhe obrigassem a alimentar-se por sonda.

"Nenhum dos presos foi libertado, mas isso chamou a atenção sobre a questão dos presos políticos da Ucrânia", afirmou sua prima, que destacou que o atual estado de saúde de Sentsov é delicado, já que sofreu complicações em um rim, no fígado e no coração.

Em uma sessão marcada pelo atentado terrorista de ontem à noite em Estrasburgo, que deixou pelo menos três mortos, o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, destacou que Sentsov foi "premiado por seu protesto pacífico contra a anexação ilegal da Rússia da península da Crimeia".

"Condenamos de novo o atentado contra a integridade territorial da Ucrânia", disse Tajani diante de um plenário infestado de cartazes reivindicando a liberdade do ativista.

Os Estados Unidos, a União Europeia, a Anistia Internacional e muitos intelectuais de todo o mundo exigiram em várias ocasiões a libertação de Sentsov, mas o presidente Vladmir Putin nunca reconheceu a existência de presos políticos na Rússia.

O prêmio Sakharov foi entregue durante os últimos 26 anos a personalidades como o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, a jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai e opositores ao regime cubano como as Damas de Branco.