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Conflito agrava crise econômica e humanitária no Iêmen

14/12/2018 21h12

Manuel Pérez Bella.

Cairo, 14 dez (EFE).- Em meio a uma grave crise humanitária, o governo do Iêmen e os rebeldes houthis se sentaram à mesa de diálogo em 2018 pela primeira vez em dois anos, sob forte pressão pela comunidade internacional.

Os houthis, aliados do Irã, e o governo iemenita, apoiado por uma coalizão de países árabes capitaneada pelo príncipe saudita Mohammed bin Salman, iniciaram no dia 6 de dezembro uma rodada de contatos de paz na Suécia, que a ONU espera levar a uma futura solução para o conflito, que começou no final de 2014.

A pressão internacional, intensificada mais como um gesto de repulsa pelo assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi do que pelas impactantes imagens de crianças iemenitas esqueléticas, se materializou na decisão de vários países, como Alemanha e Dinamarca, de congelar suas vendas de armas à Arábia Saudita.

Os Estados Unidos, apesar de reiterarem seu apoio incondicional a Riad, anunciaram que não forneceriam mais combustível para os aviões da coalizão árabe em novembro, em plena tempestade pelo caso Khashoggi.

Enquanto não há solução para o conflito, que está estagnado na frente de batalha, a situação humanitária continua se deteriorando rapidamente no Iêmen, que está imerso na crise de fome mais grave do mundo.

Cerca de 17,8 milhões de pessoas se encontram em situação de insegurança alimentícia, o que representa um aumento de 24% em comparação com 2017, segundo cálculos da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Mais de 400 mil crianças de até cinco anos de idade sofrem de desnutrição aguda e 10% delas está em risco iminente de morrer por complicações médicas, segundo números da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os combates e bombardeios causaram diretamente pelo menos 10 mil mortes desde que a guerra começou, mas, de acordo com a OMS, o número de vítimas dispara se forem contabilizadas as milhares de mortes em consequência de doenças que normalmente são tratáveis, mas que se agravaram devido à fome.

A desnutrição é o "fator subjacente" em mais de 60% das mortes por diarreia, pneumonia e em mais de 40% das mortes por sarampo e, além disso, elevou as taxas de mortalidade no parto, segundo a porta-voz da OMS no Iêmen, Christine Cool.

"A desnutrição já existia no Iêmen antes da guerra, mas a guerra piorou a situação de desnutrição para milhões de pessoas. A questão principal aqui é que a crise de desnutrição se dá pelas mãos da crise econômica e da saúde", afirmou Christine.

Metade das instalações médicas do país foi destruída, e aproximadamente metade da população não tem acesso a água potável e a infraestruturas de saneamento básico.

A crise econômica da empobrecida população iemenita se agravou nos últimos meses devido à queda da cotação da moeda local e pela inflação causada pelo quase total bloqueio à importação de alimentos imposta pelas forças da coalizão contra as áreas rebeldes.

O custo da cesta básica de alimentos dobrou em comparação com 2015 e seu valor é inacessível para 78,8% da população que vive abaixo da linha de pobreza e, especialmente, para os mais de dois milhões de deslocados internos.

A situação tem se agravado especialmente em torno de Al Hudaydah, cidade portuária no litoral do mar Vermelho que desde junho é assediada pelas forças governamentais e da coalizão.

A ofensiva foi contida em duas ocasiões nos arredores da cidade, na qual vivem cerca de 600 mil pessoas, para favorecer tentativas da ONU de realizar consultas de paz, a primeira das quais não chegou a acontecer porque os houthis não compareceram à reunião, prevista para setembro em Genebra.

Ambas as partes atenderam à convocação seguinte, e o encontro começou na Suécia em 6 de dezembro com a mediação do enviado especial das Nações Unidas para o Iêmen, Martin Griffiths.

Para favorecer estas consultas, os houthis suspenderam o lançamento de mísseis contra a Arábia Saudita e a coalizão cessou seus bombardeios, dois tipos de ataque que foram considerados potenciais crimes de guerra por parte de um grupo de especialistas da ONU, pois em várias ocasiões tiveram como alvo a população civil.