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Bangladesh vive ano de linha dura contra oposição e liberdade de imprensa

21/12/2018 23h17

Azad Majumder.

Daca, 21 dez (EFE).- Bangladesh termina 2018 com a líder opositora e ex-primeira-ministra Khaleda Zia atrás das grades por corrupção e seu filho e presidente do partido no exílio, o que antecipa para a oposição eleições complicadas no dia 30 de dezembro, em um marco que vai além de ataques à liberdade de imprensa.

No dia 8 de fevereiro, um tribunal especial sentenciou Khaleda a cinco anos de prisão após considerá-la culpada de ter se apropriado de 21 milhões de takas (R$ 970 mil) de um fundo destinado a financiar um orfanato, sentença que foi dobrada no dia 30 de outubro pelo Tribunal Superior de Bangladesh.

A líder do opositor Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), de 73 anos e governante do país em duas ocasiões (1991-1996 e 2001-2006), também foi condenada no dia 29 de outubro a sete anos de prisão por irregularidades no financiamento do Fundo de Orfandade Zia.

Com 17 anos de prisão para cumprir, Khaleda não poderá concorrer às eleições gerais de 30 de dezembro.

O filho da opositora e atual presidente da legenda, Tarique Rahman, está exilado em Londres desde 2008 e também foi condenado em dois casos de corrupção em Bangladesh, aos quais se soma uma pena de prisão perpétua por sua suposta participação em um ataque com granadas em 2004 contra um comício do partido governante Liga Awami.

Com Khaleda e Rahman fora do circuito político, a oposição liderada por um BNP atualmente ausente do Parlamento denunciou a detenção de centenas de líderes e ativistas por diversos casos antes das eleições.

"A maior parte desses casos foram supostamente inventados e pensados para fustigar", afirmou a organização de direitos humanos Odhikar em seu relatório mensal de novembro.

"Entre as pessoas acusadas, alguns estão mortos, deficientes por causa de doenças sérias, de idade avançada e inclusive já detidos em prisões ou vivendo fora do país", acrescentou a ONG.

O governo da primeira-ministra, Sheikh Hasina, teve que enfrentar vários protestos ao longo do ano, organizados em sua maioria por ativistas e grupos não vinculados a partidos políticos, e durante os quais ocorreram ocasionais explosões de violência.

Uns protestos estudantis pela segurança viária, que começaram após a morte de dois jovens em um acidente de trânsito, paralisou a capital do país de 29 de julho a 8 de agosto, durante aa qual uma violenta contramanifestação deixou dezenas de feridos, entre eles 20 fotojornalistas.

Durante os protestos, a polícia prendeu o conhecido jornalista gráfico Shahidul Alam horas depois de ter expressado sua opinião em um programa da emissora de catariana "Al Jazeera", um caso que foi denunciado como um ataque à liberdade de expressão.

Acusado de difamar o governo e divulgar rumores nas redes sociais, o veterano fotógrafo permaneceu preso durante mais de cem dias antes de ser libertado em 20 de novembro em meio a críticas internacionais.

A aprovação de uma polêmica Lei de Segurança Digital no Parlamento em meados de setembro deu novos motivos de preocupação aos defensores da liberdade de expressão.

A regulação prevê penas de prisão por publicar "propaganda" contra o Estado ou pela "difusão de rumores", e inclui penas como prisão perpétua por revelar segredos de Estado e a publicação de informações "falsas ou distorcidas".

Jornalistas e editores de Bangladesh denunciaram uma tentativa de pressionar os veículos de imprensa antes das eleições, e afirmaram também que a legislação pode provocar uma onda de autocensura entre os profissionais da informação, por medo de serem perseguidos legalmente.

Além disso, o país viveu uma dura campanha antidrogas impulsionada pelo governo bengali, comparada por ativistas com a operação impulsionada pelo presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte.

Entre 15 de maio e 31 de outubro, pelo menos 264 pessoas morreram em "tiroteios" ou sob custódia policial por causa da operação em Bangladesh, que ainda continua, segundo a Odhikar.

A nação asiática continua acolhendo mais de 700 mil refugiados rohingyas, que desde 25 de agosto do ano passado fugiram da violência no noroeste de Mianmar ao país vizinho, e cuja repatriação voluntária em discussão. EFE