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Convulsão política e judicial sem precedentes marca ano de 2018 no Peru

21/12/2018 23h21

Álvaro Mellizo.

Lima, 21 dez (EFE).- Uma convulsão política e judicial sem precedentes marcou o ano de 2018 no Peru, que teve como destaques a renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski, a posse de Martín Vizcarra, a sucessão e aprofundamento de devastadores escândalos de corrupção e a prisão da líder opositora Keiko Fujimori.

A grande relevância dos eventos políticos e jurídicos, entre eles a tentativa fracassada do ex-presidente Alan García de solicitar asilo político ao Uruguai e um referendo de reforma constitucional, deixaram em segundo plano assuntos como a VIII Cúpula das Américas, a visita do papa Francisco e o histórico retorno da seleção peruana à Copa do Mundo após a participação na edição de 1982.

A corrupção generalizada em todos os setores do Estado peruano e as respostas sociais, jurídicas e políticas foram o fio condutor dos principais temas de interesse público, quase todos vinculados ao gigantesco esquema de pagamento de propinas orquestrado pela construtora brasileira Odebrecht.

O fato mais relevante foi a renúncia de Kuczynski, forçada pela oposição do partido fujimorista Força Popular, majoritário no Congresso, pelos vínculos do presidente com a Odebrecht quando era ministro de Economia do presidente Alejandro Toledo, entre 2004 e 2007.

Kuczynski conseguiu sobreviver no final de 2017 a uma tentativa de cassação graças ao apoio de um grupo de dissidentes fujimoristas liderados por Kenji Fujimori, que pouco depois conseguiu o indulto para seu pai, Alberto Fujimori, condenado em 2007 por crimes contra a humanidade.

Em março, no entanto, Kuczynski não conseguiu apoio suficiente para se manter no cargo em outra tentativa de destituição, cujo trâmite foi agravado por uma trama protagonizada por Kenji Fujimori para comprar votos a seu favor, o que motivou a renúncia de vários ministros, a expulsão de três deputados e o aparente triunfo da linha dura do partido fujimorista.

No final de março assumiu o poder o então vice-presidente Martín Vizcarra, que presidiu a Cúpula das Américas.

Vizcarra, que começou seu mandato praticamente sem aliados, assumiu a luta contra a corrupção como um eixo central de suas políticas.

Em julho, a revelação de um esquema dentro do Poder Judicial de compra e venda de favores legais a empresários e políticos suscitou uma onda de indignação entre a população à qual Vizcarra se incorporou com o anúncio de uma série de reformas constitucionais, iniciativa que deixou seus opositores no Congresso de mãos atadas.

Essas reformas foram aprovadas em dezembro com um arrasador apoio da população, que serviu para dar suporte a Vizcarra e reafirmar o desprestígio do Congresso e seus representantes.

De forma paralela, a oposição fujimorista ficou em interdição pela revelação dos laços estreitos que seus dirigentes tinham com os juízes vinculados à máfia de corrupção, entre eles Keiko Fujimori.

A proteção política que os fujimoristas deram aos protagonistas do caso enfraqueceu o partido e fortaleceu Vizcarra.

Também de forma simultânea, um antigo caso sobre o financiamento irregular do Força Popular foi ganhando força e, com um efeito de bola de neve, colocou os líderes do partido diante da Justiça.

Já em outubro, um juiz ordenou a prisão de Keiko e seus colaboradores mais próximos sob a suspeita de que receberam financiamento irregular da Odebrecht para suas campanhas políticas e criaram um esquema para lavar e ocultar a origem desses ativos.

Para concluir, um juiz peruano reconheceu que o indulto que Alberto Fujimori recebeu de Kuczynski em 2017 foi irregular e ordenou o seu retorno à prisão.

Enquanto o idoso político se refugiou em um hospital, onde ainda continua para evitar sua prisão, muitos peruanos culparam Keiko pela situação, por ter forçado a renúncia de quem indultou seu pai.

A corrupção ficou ainda mais em evidência com o caso de Alan García.

Em meados de novembro, o ex-presidente chegou ao Peru para depor como testemunha em uma investigação e foi impedido de sair do país para ser investigado por crimes financeiros.

Apesar de dizer publicamente que assumiria essa ordem, García tentou internacionalizar seus problemas judiciais e alegou perseguição política para pedir asilo político no Uruguai, que foi negado formalmente.

A poucos dias do fim de 2018, ainda não se sabe o que acontecerá com García.

No entanto, ninguém duvida que em 2019 o Peru estará envolvido em sérias disputas judiciais que afetam toda a classe política, sem que ninguém descarte a existência de novas revelações de consequências incalculáveis. EFE