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Reino Unido se despede de um dos anos mais conturbados asfixiado pelo Brexit

23/12/2018 15h46

Paula Baena Velasco.

Londres, 23 dez (EFE).- O último ano inteiro do Reino Unido como membro da União Europeia (UE) acabou sendo um dos mais conturbados dos últimos tempos, marcado por uma grande instabilidade política envolvendo o governo da primeira-ministra britânica, Theresa May.

Com um governo dividido entre os favoráveis a um Brexit duro, que rompa totalmente os laços com o bloco, e os partidários de uma saída "suave" da UE, May teve que lidar com ambos os setores ao mesmo tempo que administrava árduas negociações com Bruxelas.

No mês de julho, a primeira-ministra conseguiu materializar uma proposta, conhecida como plano de Chequers, que contemplava a criação de um mercado comum de bens britânico-comunitário com equivalência de legislação.

Embora tenha recebido o apoio do governo em bloco em um primeiro momento, poucas horas após a divulgação do polêmico projeto o ministro para o Brexit, David Davis, e o das Relações Exteriores, Boris Johnson, renunciavam aos cargos.

Ambos pertenciam à poderosa minoria de ministros pró-Brexit duro e consideraram os planos de May complacentes demais com os 27 Estados-membros da UE.

Diante desse revés, a primeira-ministra decidiu, antes do recesso de verão, assumir pessoalmente o controle das negociações com a Comissão Europeia, conduzidas anteriormente por Michael Barnier.

As conversas entre ambos os blocos entraram pouco depois em um impasse por conta, sobretudo, dos desacordos existentes sobre as garantias para evitar uma fronteira dura entre Irlanda e Irlanda do Norte.

May cedeu para incluir o chamado "backstop", uma garantia que prevê que o Reino Unido permaneça na união aduaneira e que a Irlanda do Norte também esteja alinhada com certas normas do mercado único até que seja estabelecida uma nova relação comercial entre ambas as partes, negociada no período de transição - entre 29 de março de 2019 e finais de 2020.

Essa concessão rendeu a terceira grande renúncia do ano, a do ministro para o Brexit, Dominic Raab, quase cinco meses depois de ter assumido o cargo, por considerar a cláusula inaceitável.

Contudo, no dia 25 de novembro, a primeira-ministra conseguiu fazer com que os 27 Estados-membros - incluindo a Espanha, que tinha ameaçado vetar o acordo por desavenças a respeito de Gibraltar - apoiassem em um Conselho Europeu o Acordo de Saída e a Declaração Política.

Passado esse obstáculo, May ainda tinha pela frente outro mais complicado: receber o apoio da Câmara dos Comuns. Sabendo que a oposição votaria contra o acordo, assim como o setor mais eurocético do próprio partido, ela decidiu cancelar a votação prevista para 11 de dezembro e passá-la para a semana de 14 de janeiro.

A manobra visava ganhar tempo para conseguir da UE concessões e garantias ao pacto que ajudem na aceitação parlamentar, embora os países tenham antecipado que mantêm as portas fechadas para renegociações.

A oposição aos planos de Theresa May neste ano não vieram só da União Europeia ou das formações políticas rivais em Westminster, mas também dos próprios aliados.

Em dezembro, o Partido Conservador propôs uma moção de confiança à líder, que conseguiu se salvar por 200 votos a favor e 117 contra.

Em meio a tudo isso, cada vez mais pessoas pedem um segundo referendo, muitas delas através da campanha People's Vote, que já organizou mais de mil reuniões em diversos cantos do Reino Unido.

Há algumas semanas, o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) decidiu que o Reino Unido poderá suspender unilateralmente o processo de saída da UE em qualquer momento até a meia-noite de 29 de março de 2019, data prevista para a consumação do Brexit.

O governo insistiu que a prioridade é o Parlamento aprovar o acordo, mas terminou o ano confirmando que intensificou o planejamento para uma possível saída abrupta da UE, planos aos quais destinará 2 bilhões de libras esterlinas.

Enquanto isso, o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, espera que o pacto seja rejeitado em janeiro, de modo a apresentar uma moção de censura ao governo e forçar eleições gerais. EFE