Ucrânia apresenta decreto sobre nova igreja, um fato histórico e político
Kiev, 7 jan (EFE).- O metropolitano Epifânio e o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, apresentaram nesta segunda-feira na missa de Natal os "tomos" (decretos) que garantem a independência da Igreja Ortodoxa Ucraniana de Moscou após mais de 330 anos de subordinação, um acontecimento histórico que tem também contexto político e eleitoral.
Fiel ao lema "Exército, Língua e Fé" da Ucrânia que, sob a liderança de Poroshenko, quer romper todos os laços com a Rússia, o presidente tomou pessoalmente as rédeas para conseguir a ruptura da Igreja Ucraniana com o Patriarcado de Moscou.
Por isso, Poroshenko também esteve neste fim de semana em Istambul ao lado de Epifânio, quando o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, assinou e entregou ao metropolitano os "tomos" que certificam a separação da Igreja Ortodoxa Ucraniana da russa, à qual estava vinculada desde 1686.
Lá, o presidente equiparou a autocefalia da Igreja Ucraniana à declaração de independência da Ucrânia, em 1991.
Poroshenko também participou hoje em Kiev na liturgia de Natal oficiada por Epifânio, assumindo um papel ativo e apresentando os "tomos" aos fiéis ucranianos.
O pergaminho foi exposto em um lugar de destaque na catedral de Santa Sofia, reservada apenas para grandes eventos.
"Nos libertamos finalmente do cativeiro moscovita", disse hoje Poroshenko na presença de sua esposa e de seus filhos, membros do seu gabinete, do presidente do parlamento Andrei Parubiy e do ex-mandatário Viktor Yushchenko, entre outros.
Diante da proximidade das eleições presidenciais na Ucrânia, que serão realizadas em 31 de março, a Igreja Ortodoxa Russa e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusaram Poroshenko de promover a autocefalia por motivos políticos.
O patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa criticou hoje a "interferência política sem precedentes em assuntos da Igreja" por parte do governo de Kiev, ao ignorar o princípio da separação entre Igreja e Estado, segundo a agência russa "RIA Novosti".
O presidente ucraniano, que ainda não disse publicamente se concorrerá à reeleição, mas cuja candidatura é considerada praticamente certa, recuperou posições nas pesquisas nas últimas semanas, após o incidente naval no Mar Negro com a Rússia, de maneira que está agora em segundo lugar, com 14% das intenções de voto, atrás da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, que oscila entre 16% e 18%.
As pesquisas ainda não refletem o possível impacto no eleitorado da liderança de Poroshenko nos esforços para conseguir a independência da Igreja Ortodoxa Ucraniana, mas Timoshenko tem se apressado a garantir que ela "sempre" defendeu que a Ucrânia tivesse uma igreja independente.
O passo dado por Poroshenko e Bartolomeu I não gerou apenas aplausos, mas também críticas.
O responsável do Departamento de Relações Externas da Igreja Ortodoxa Russa, o metropolitano Hilarion, comparou a desvinculação da Igreja Ucraniana da de Moscou com o Grande Cisma de 1054, a separação entre o que hoje se conhece como a Igreja Católica Romana e a Ortodoxa.
O patriarca ortodoxo grego de Antioquia e todo o Oriente, João X, afirmou em carta dirigida a Bartolomeu I - que a partir de agora supervisiona 15 igrejas ortodoxas separadas de Istambul - que o passo dado não vai trazer paz nem harmonia à Ucrânia ou ao restante do mundo ortodoxo.
E o patriarca sérvio, Irineu, afirmou, segundo a imprensa russa, que a assinatura dos "tomos" sobre a autocefalia viola o princípio da conciliação e advertiu para a possibilidade de um novo grande cisma na Igreja Ortodoxa.
Talvez, por isso, o presidente ucraniano pediu hoje às igrejas ortodoxas do mundo que "reconheçam como irmã" a nova instituição independente.
Epifânio, de 39 anos, também se mostrou consciente do desafio que enfrenta a recém-criada igreja independente.
O religioso afirmou que "ainda há muito trabalho para fortalecer a unidade" de nova instituição religiosa e pediu aos fiéis que rejeitem eventuais atos de violência e continuem "orando pela Igreja, para superar a hostilidade e multiplicar o amor".
Por enquanto, a Igreja Ortodoxa Ucraniana fiel ao Patriarcado de Moscou não quer saber de Epifânio e o arcebispo Clemente declarou que não realizará missas conjuntas com a recém-criada igreja independente. EFE
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