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Famílias separadas no êxodo espanhol aos EUA se reencontram um século depois

08/01/2019 10h02

Helen Cook.

Nova York, 8 jan (EFE) - Quando a miséria e a fome castigavam a população espanhola entre meados do século XIX e princípio do século XX, milhares de pessoas decidiram ir aos Estados Unidos em busca de trabalho, e famílias foram inesperadamente separadas para sempre.

Embora inicialmente a grande maioria partisse com a esperança de melhorar de vida e voltar à Espanha, muitos não conseguiram. Agora, um século depois, algumas dessas famílias estão se reencontrando.

As reunificações estão sendo possíveis graças às pesquisas de James Fernández, professor do Departamento de Línguas e Literaturas Espanhola e Portuguesa da Universidade de Nova York. Há anos ele tenta reconstruir a história desse movimento migratório reunindo documentos e fotos que netos e bisnetos dos expatriados guardam.

O trabalho não é simples. Só em 1918, 100 mil espanhóis decidiram viajar para os Estados Unidos em busca de um futuro melhor. Logo depois, anualmente, de 20 mil a 30 mil fizeram o mesmo percurso.

"Se quisermos conhecer a história perdida deste pequeno episódio temos que ir às casas. A história mora lá. Não há livros", destacou Fernández à Agência Efe sobre as questões que ele e o jornalista Luis Argeo abordam no livro "Invisible Immigrants: Spaniards in the US (1868-1945)" (sem versão para o português até o momento).

E foi para evitar que um importante trecho da história desapareça com o passar do tempo que ele decidiu criar uma página no Facebook, inicialmente para informar sobre o seu projeto. Rapidamente, porém, ela se transformou em uma fonte de informação valiosíssima.

"A quantidade gente se apresentado através desta plataforma não dá nem para contar", disse ele sobre a "Spanish Immigrants in the United States", que tem mais de 15 mil curtidas.

Segundo o pesquisador, quando alguém publica no grupo uma foto e pede uma informação "em 15 minutos já aparecerem pelo menos quatro respostas". Através da publicação de imagens, vários casos de reunificações familiares estão acontecendo.

"Tínhamos uma foto com duas famílias. Quem postou foi a família da direita, mas não sabíamos quem era a família da esquerda. Em 15 minutos, alguém comentou 'mas esses são os meus avôs', e em dois meses as duas famílias se encontraram em Long Island", contou.

Além dos encontros entre parentes distantes, que em muitos casos levavam anos questionando o que teria acontecido com o antepassado que emigrou, estão sendo descobertos casos de bigamia, histórias de homens que deixavam uma família na Espanha e formavam outra nos EUA.

"Já aconteceu duas ou três vezes de descobrimos, sem querer, casos de bigamia. Gente que saía da Galícia, por exemplo, deixava a família lá e vinha para Nova York. Nunca voltava e montava outra família aqui. Nós inocentemente postamos as fotos, porque as famílias daqui não sabem que existe a família da Espanha. E alguém comenta 'esse é o meu avô, que foi embora em 1924 e nunca soubemos mais dele.' É muito impactante", revelou.

Mas o tempo faz com que este tipo de descoberta não seja marcada pelo drama, já que os casos aconteceram há praticamente 100 anos.

"As pessoas geralmente aceitam isso com certa tranquilidade, pelo menos as notícias que recebemos são de reuniões cordiais", disse.

Fernández, que tem vários livros publicados e documentários sobre o fenômeno da migração espanhola, disse acreditar que seu projeto "não tem fim", afinal novas fotos e documentos aparecem o tempo todo. "Abrimos uma caixa de pandora", admitiu o professor. EFE