ONU desafia o mundo a andar 2 bilhões de quilômetros para apoiar refugiados
Antonio Broto.
Genebra, 8 jan (EFE).- As Nações Unidas calculam que os refugiados de guerras e conflitos caminham dois bilhões de quilômetros a cada ano, e decidiu desafiar voluntários de todo o mundo a igualar essa distância por solidariedade.
Com esta intenção nasceu nesta terça-feira a campanha "Caminhe com os refugiados", na qual os participantes verão seus passos serem contabilizados pelo celular e se somarão a um marcador mundial com o qual o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) espera que aumente a conscientização sobre a dura vida dos deslocados.
"A campanha encorajará as pessoas a dar seu apoio aos refugiados com algo que já fazem: caminhar, pedalar, correr", destacou a alta comissária adjunta do ACNUR, Kelly Clements, que afirmou que esta e outras iniciativas buscam "lembrar as perigosas travessias que os deslocados se veem obrigados a realizar".
"Em solidariedade com eles, e em um momento no qual cada vez há mais crises globais que forçam as pessoas a deixar seus lares, nos unimos para homenagear sua resistência e determinação em manter suas famílias seguras", acrescenta o Alto Comissariado no site criado para a ocasião, o stepwithrefugees.org.
Para participar da campanha, basta entrar nessa página, registrar-se e baixar um dos aplicativos para celular que colaboram na iniciativa (Strava ou Fitbit), com o qual cada quilômetro que o inscrito caminhar se somará a um marcador mundial.
Este marcador já somava nos primeiros momentos da campanha cerca de 70.000 quilômetros andados, mas ainda se situa longe dos dois bilhões que se busca alcançar, equivalentes a 50.000 voltas ao mundo.
A marca a ser atingida foi calculada multiplicando os refugiados sírios (mais de seis milhões) pelos 240 quilômetros que muitos deles precisaram percorrer até chegar à Turquia, os 640 que viajam em média os 2,4 milhões de deslocados no Sudão do Sul até o Quênia e o êxodo de 80 quilômetros de um milhão de rohingyas de Mianmar até Bangladesh, entre outras distâncias.
O ACNUR encoraja que alguns dos participantes busquem patrocinadores para os desafios individuais que se fixem dentro da campanha, e com isso busca obter mais de US$ 15 milhões para financiar centros de amparada de refugiados, alimentos, medicamentos e outras vias de ajuda humanitária para estes.
O organismo da ONU com sede em Genebra conta para a campanha com a participação de celebridades como o ator americano Ben Stiller, que se comprometeu a unir-se na caminhada mundial.
"Muitas famílias se veem obrigadas a fugir da violência e da perseguição, assumindo esforços extraordinários para sobreviver. Correm para salvar suas vidas, para ter um teto seguro, um lugar onde não tenham que viver com medo", destacou o ator nova-iorquino.
"Por isso vou caminhar junto aos refugiados, vou unir-me à campanha dos dois bilhões de quilômetros, e peço a todos que me sigam", acrescentou Stiller em comunicado divulgado pelo ACNUR, onde o ator atua como embaixador da boa vontade.
Stiller e o ACNUR pedem voluntários para honrar êxodos como o de Opani, uma mãe do Sudão do Sul que percorreu 96 quilômetros a pé em sete dias, dormindo ao relento até chegar a Uganda, onde com ajuda do organismo da ONU recebeu um pedaço de terra para poder refazer sua vida.
Ou o de Alin Nisa, da etnia muçulmana rohingya, cujo povo foi atacado por homens armados e teve que caminhar 106 quilômetros em 10 dias junto ao seu marido, seus dois filhos e sua sogra, cruzando montanhas e rios dia e noite até deixar Mianmar e chegar a Bangladesh.
Estes casos, ou a espetacular travessia de 154 quilômetros de uma mulher síria cuja casa foi bombardeada e fugiu para a Jordânia, são os exemplos que o organismo mostra para animar a pessoas a andar e correr este ano em solidariedade com os deslocados.
Segundo números do ACNUR, quase 70 milhões de pessoas no mundo se viram obrigadas a deixar seus lares fugindo da violência e dos conflitos, somando 40 milhões de deslocados internos, 25,4 milhões de refugiados que viajam para outros países e 3,1 milhões de solicitantes de asilo. EFE
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