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Decisão de Morales de entregar Battisti à Itália causa polêmica na Bolívia

14/01/2019 18h52

La Paz, 14 jan (EFE).- A decisão do presidente da Bolívia, Evo Morales, de entregar Cesare Battisti à Itália provocou grande polêmica no país, dividindo aqueles que apoiam a ação e os que criticam a medida tomada pelo governo local.

Depois de fugir do Brasil no ano passado, Battisti foi preso na noite de sábado na região de Santa Cruz de la Sierra e entregue ontem à Interpol. Ele é foi condenado a prisão perpétua na Itália pelo assassinato de quatro pessoas, na década de 1970, quando fazia parte do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC).

O ministro de governo da Bolívia, Carlos Romero, explicou nesta segunda-feira que a decisão ocorreu porque Battisti não tinha entrado legalmente no país e que a Comissão Nacional dos Refugiados (Conare) havia negado pedido de refúgio feito por ele.

A presidente da Comissão de Política Internacional e Proteção aos Imigrantes da Câmara dos Deputados, a governista Valeria Silva, defendeu que o governo atuou de acordo com a legislação.

"Infelizmente, o italiano não seguiu os procedimentos corretos no nosso país e não podemos pedir que o Estado viole a legislação porque o Conare negou o status de refugiado a ele", afirmou.

Já o deputado David Ramos, líder do governo na Câmara, afirmou que Morales se limitou a cumprir os procedimentos jurídicos para esse tipo de situação.

No entanto, vozes do próprio governo questionaram a decisão. Entre um dos críticos está o Raul García Linera, irmão do vice-presidente do país, Álvaro García Linera, que classificou como "injusta, covarde e reacionária" as ações de Morales no caso.

O dirigente da Juventude do MAS, partido de Morales, em Santa Cruz de la Sierra, Rolando Cuellár, disse que Romero é o responsável pela extradição de Battisti e exigiu sua renúncia. Para ele, o ministro agiu como um "braço operador da direita".

"Ele é um Judas no MAS, um traidor do presidente Morales. Todos os distritos, as organizações sociais, vão ignorá-lo", afirmou.

Já o senador Oscar Ortiz, um dos principais nomes da oposição para as próximas eleições presidenciais, disse que Morales decidiu entregar Battisti para melhorar sua imagem na comunidade internacional após ir à posse do "ditador" Nicolás Maduro.

O ex-presidente Jorge Quiroga criticou o fato de "um execrável terrorista, assassino e criminoso como Battisti" ter pensado que poderia "viver tranquilo" na Bolívia.

No entanto, Quiroga afirmou que "qualquer criminoso, por mais desagradável que seja, merece o direito de ter o devido processo". Por esse motivo, o ex-presidente acha que Morales deve explicar porque Battisti teve seu pedido de refúgio negado e porque decidiu enviá-lo à Itália. EFE