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Congresso peruano investigará empresa de presidente por obra da Odebrecht

16/01/2019 17h56

Lima, 16 jan (EFE).- A Comissão de Fiscalização do Congresso do Peru aprovou nesta quarta-feira a investigação do consórcio Conirsa, que construiu a estrada Interoceânica Sul com participação da Odebrecht, pela contratação, entre 2006 e 2008, de uma companhia do atual presidente do país, Martín Vizcarra.

A investigação foi aprovada com os votos dos fujimoristas Rosa María Bartra, Héctor Becerril, Esther Saavedra e Marco Miyashiro, além dos de Mauricio Mulder, da Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra) e de Hernando Cevallos, da Frente Ampla.

Votaram contra o parlamentar Roberto Vieira (sem partido) e Yonhy Lescano (Ação Popular), enquanto a governista Janet Sánchez, do Peruanos pela Mudança, se absteve.

Lescano disse, em entrevista à emissora de televisão "Canal N", que "no fundo, a investigação que está sendo aprovada é contra Vizcarra", pois sua empresa de engenharia "não interessa muito e, como políticos, sabemos qual é a intenção destes pedidos".

Para ele, fujimoristas e apristas querem o impeachment de Vizcarra por ter empreendido a luta contra a corrupção no âmbito político e judicial.

O parlamentar afirmou que "este é um acordo inconstitucional" porque a Constituição Política não permite uma acusação ao presidente por uma questão deste tipo, dado que só pode ser denunciado por traição à pátria, impedir o pleito ou funcionamento de outros poderes do Estado.

No entanto, os legisladores que aprovaram a investigação afirmam que a Constituição não lhes proíbe de abrir uma contra o presidente por um suposto ato de corrupção.

O programa de televisão "Panorama" denunciou no último domingo que a empresa de Vizcarra, a CyM Vizcarra, fechou contrato com o Conirsa entre 2006 e 2008, quando esse consórcio obteve a licitação para construir a estrada Interoceânica Sul com a Odebrecht e outras companhias peruanas.

Vizcarra disse inicialmente que sua empresa nunca teve contrato com a Odebrecht, imersa em um grave caso de corrupção na região, mas depois se corrigiu dizendo que seu vínculo foi com o Conirsa e que ao início não sabia quem integrava o grupo.

Hoje, o presidente peruano afirmou que "(o povo) sabe que há intenção de confundir, não de investigar, porque se investigarem vão ver que não há absolutamente nada irregular, porque quando se deram os serviços em 2006, 2007 e 2008 eu não tinha nenhum cargo político".

"Se alguém acredita que tem alguma dúvida ou base, que (a investigação) proceda. Não tememos absolutamente nada", acrescentou Vizcarra.

O chefe de Estado comentou que o fato de "algum político questionar as ações do governo não preocupa em nada".

"Temos a solidez de um trabalho correto e honesto", ressaltou.

A investigação sobre a contratação da empresa de Vizcarra foi aprovada em um momento no qual o Ministério Público investiga a líder opositora Keiko Fujimori por supostamente ter recebido propinas da Odebrecht para sua campanha eleitoral de 2011 e o ex-presidente Alan García pelos pagamentos de propina da construtora brasileira para ganhar a licitação da construção da linha 1 do metrô de Lima.

A estrada Interoceânica Sul atravessa o território peruano desde a costa do oceano Pacífico até a fronteira com o Brasil, e foi uma obra licitada durante o governo do ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006).

Por sua vez, Toledo é investigado por supostamente ter recebido US$ 20 milhões da Odebrecht em troca de favorecimento na licitação de vários trechos da Interoceânica Sul, através do consórcio Conirsa.

Toledo, que vive nos Estados Unidos, é acusado pelos crimes de colusão, tráfico de influência e lavagem de dinheiro, por isso a Justiça peruana solicitou sua extradição para que cumpra uma ordem de prisão preventiva por 18 meses. EFE