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Juan Guaidó, o líder opositor "acidental" que desafia Maduro

23/01/2019 21h29

Ron González.

Caracas, 23 jan (EFE).- O jovem deputado Juan Guaidó, atual líder do parlamento da Venezuela, transformou nesta quarta-feira sua acidental liderança no maior desafio enfrentado por Nicolás Maduro desde que chegou ao poder em 2013, ao assumir as competências da presidência do país.

Sua ação, respaldada de maneira imediata por Estados Unidos, Brasil e vários governos da região, é outro episódio da longa crise política que assola a Venezuela, e o maior ato de negação da legitimidade de Maduro.

Guaidó baseou sua reivindicação de poder na suposta ilegitimidade do novo mandato que Maduro jurou há quase duas semanas diante do Tribunal Supremo, depois de ganhar com folga os pleitos de maio do ano passado diante da ausência da oposição.

Estes pleitos foram tachados de "fraudulentos" pela oposição e por boa parte da comunidade internacional, o que transforma Maduro em um "usurpador" aos olhos dos seus opositores.

Mas o jovem que hoje desafia Maduro é quase um recém-chegado na política, que não se intimidou diante da ausência forçada das principais figuras do seu partido, o Vontade Popular (VP), que enfrentam a prisão, o asilo ou o exílio.

Após o triunfo eleitoral que lhes permite controlar o parlamento desde 2015, os principais agrupamentos da oposição venezuelana decidiram rotar entre eles a presidência do Legislativo a cada ano.

Em 2019, a chefia do parlamento corresponde ao VP, o partido do líder opositor preso Leopoldo López, do asilado Freddy Guevara e do exilado Carlos Vecchio, seus dirigentes mais experientes e representativos.

Desse trio, apenas Guevara não estava processado judicialmente antes de 2015, e pela sua ascendência dentro do VP estava destinado a tomar as rédeas do Legislativo este ano, mas se asilou na embaixada do Chile em Caracas para evitar a Justiça, que investiga seu papel nos protestos violentos de 2017, que se saldaram com mais de 100 mortos.

Dessa forma, Guaidó, um engenheiro de 35 anos com mestrado em Administração Pública, chegou à presidência do parlamento e açambarcou os focos, convertendo-se rapidamente no novo líder do antichavismo.

Este legislador eleito pelo litorâneo estado de Vargas, próximo a Caracas, é definido como de centro pelos seus colaboradores, apesar de militar em um agrupamento que é membro pleno da Internacional Socialista e que porta-vozes do governo de Maduro localizam, como forma de insulto, na direita do espectro político.

Na sua adolescência, Guaidó sobreviveu à "tragédia de Vargas", como ficaram conhecidas as chuvas e inundações que deixaram milhares de mortos e desaparecidos em 1999.

O opositor deu demonstrações de sua personalidade quando em 2015 participou de uma greve de fome para exigir que se fixasse a data dos pleitos parlamentares, nos quais foi eleito com mais de 97.000 votos.

Guaidó iniciou sua carreira política como líder estudantil, vinculado com a social democracia, na Universidade Católica Andrés Bello, até que se uniu ao VP, no qual figura como membro fundador, em 2009.

Sua primeira cadeira no parlamento foi como deputado suplente para o período 2010-2015, e depois foi designado como candidato a legislador principal pelo seu partido nesse último ano.

No seu trabalho parlamentar defendeu a soberania da Venezuela sobre o Essequibo, uma região em disputa com a Guiana e que representa um terço do território deste país, e denunciou o entrecruzado de corrupção governamental no caso Odebrecht, que segundo uma investigação do Legislativo deixou a Venezuela com perdas patrimoniais milionárias.

O 2018 de Guaidó, pai de uma menina de pouco mais de um ano e amante de beisebol, esteve marcado por uma intensa atividade social e o encontro com ativistas sociais de distintas tendências, uma das suas paixões segundo disseram à Efe integrantes de sua equipe de trabalho.

Como é comum entre os engenheiros, o novo presidente do parlamento venezuelano tem uma mentalidade estruturada e pontual e é assinalado como um homem tolerante.

Esta última caraterística será imprescindível para que Guaidó leve adiante o projeto que apregoa quase desde que lhe apontaram os refletores: a cessação da "usurpação" efetuada por Maduro, a instalação de um governo de transição e a convocação a novas eleições. EFE