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Produção e distribuição de notícias falsas vira negócio familiar na Macedônia

27/01/2019 10h03

Imane Rachidi.

Haia, 27 jan (EFE).- O comércio de notícias falsas é "um negócio familiar" na Macedônia do Norte, onde uma rede de parentes e amigos elaboram informações inventadas e as distribuem nas redes sociais em busca de lucros publicitários, explicou à Agência Efe o pesquisador da Universidade holandesa de Leiden Peter Burger.

"Trata-se de um punhado de amadores, no sentido de que eles têm um trabalho e fazem isso só por dinheiro. Chegam a milhões de pessoas, mas não têm intenção de influenciar uma audiência, o que os diferencia dos 'trolls' russos, que têm um objetivo político claro", explicou o pesquisador à Efe.

Burger e seu colega belga Maarten Schenk pesquisaram durante os últimos dois anos, com a ajuda de programas de verificação, esta rede batizada como "Kumanovo", que mantém em circulação notícias falsas sobre imigrantes e discursos de ódio que chegaram a milhões de pessoas no mundo todo.

O eixo da rede é um soldado macedônio que divulga as informações em seu tempo livre, e quando não tem tempo, um "bom amigo e sua esposa" continuam produzindo conteúdo, advertiu o pesquisador.

"Eles não se importam com o efeito de suas histórias, só se importam em aumentar seus lucros" em publicidade, afirmou Burger.

"Este é um exemplo, mas são muitos mais. Não fomos capazes de obter um número exato. Existem dez ou 20 páginas privadas abertas só para este propósito e as informações são obtidas de outras fontes, o que também os indica que tipo de notícias são de interesse das pessoas e lhes darão mais clicks", acrescentou Burger.

As mensagens são geralmente em inglês, pois assim chegam a um público mais amplo, mas "não são escritas por eles porque este não é seu primeiro idioma". São obrigados a copiar os textos de outras páginas ou veículos de imprensa, com erros de ortografia e misturando parágrafos sem coerência, e os distribuem no Twitter e no Facebook através de usuários falsos.

O público, que poucas vezes percebe a incoerência dos textos ou a confiabilidade da fonte, vai desde cristãos conservadores, xenófobos, homofóbicos, partidários do presidente americano, Donald Trump, populistas de diferentes países e até fanáticos de teorias de conspiração.

Quando os internautas chegam a estes sites, a rede que distribui a informação recebe dinheiro em conceito de publicidade porque os sites estão conectados à rede de propaganda Google AdSense, e o processo "é fácil assim", ressaltou Burger.

A primeira pista sobre os produtores de notícias falsas do sudeste europeu surgiu em 2016, depois das eleições presidenciais nos EUA, quando foi divulgado que dezenas de adolescentes tinham ganhado milhares de euros em publicidade por distribuírem mensagens falsas no Facebook.

Estes dois pesquisadores, que administram dois sites desmentido as informações - "Nieuwscheckers" e "LeadStories" - conseguiram agora mapear a categoria desta rede com maior precisão e identificar as pessoas por trás das páginas, que já não são adolescentes, mas pessoas de meia idade e seus familiares e amigos.

Os operadores da rede investigada são funcionários de empresas privadas e inclusive militares e criaram mais de 70 páginas desde 2016, que geraram 7,16 milhões de comentários e reproduções no Facebook e no Twitter.

No relatório os pesquisadores mostram, como exemplo, uma das publicações mais famosas do Facebook, que foi compartilhada mais de 630 mil vezes, com o título: "Uma muçulmana: Queremos ter menus sem porco ou iremos para os EUA. Como responderia a isto?".

Outro texto afirma que "um agente secreto britânico confessou em seu leito de morte que tinha assassinado a princesa Diana por ordem do príncipe Philip, o marido da rainha Elizabeth II" e a notícia falsa vem acompanhada de uma foto de 2010 que mostra um paciente em um hospital australiano.

Para se ter uma ideia, aponta o relatório, o jornal holandês "Telegraaf" alcança 15,7 milhões de interações ao ano, mas precisa de dez vezes mais artigos e uma grande equipe jornalística profissional.

Depois de terminar o relatório e antes de publicá-lo, os pesquisadores entraram em contato com Twitter, Facebook e Google para oferecer o resultado do trabalho e para que isso os obrigue a manter um maior controle sobre os sites envolvidos.

"Eles nos disseram que estão muito comprometidos com este assunto, reconheceram que as coisas que descobrimos vão contra suas normas e depois vimos que tinham fechado algumas das contas que tínhamos incluído na lista. Também fecharam as contas de Adsense vinculadas a este site, mas também não fizeram grandes comentários", lamentou Burger. EFE