Emigração, uma opção difícil, mas em crescimento no Irã por causa da crise
Marina Villén.
Teerã, 2 fev (EFE).- Pedir asilo político ou religioso, comprar uma casa e abrir uma empresa são algumas das fórmulas usadas pelos iranianos para emigrar e conseguir residência em outro país, uma alternativa cada vez mais comum para escapar da crise no Irã.
"Não há futuro no Irã". Esta é a frase mais repetida por todos os iranianos entrevistados pela Agência Efe que planejam deixar seu país ou que o fizeram recentemente.
As principais razões desse desespero são o aumento da inflação, a desvalorização da moeda nacional, o desemprego elevado - principalmente entre os jovens - e a incerteza criada pelo retorno das sanções americanas contra o Irã.
A isso se soma o fato de que muitos dos que desejam emigrar não concordam com o sistema islâmico que governa o Irã há 40 anos e estão fartos das restrições sociais existentes e da falta de liberdades.
"A situação é complicada tanto em nível social como econômico. A vida no Irã já era difícil pelas restrições, e agora, além disso, tudo encareceu bastante", lamentou Sara, uma tradutora de francês de 35 anos que quer emigrar para o Canadá, onde espera encontrar um bom trabalho e continuar sua formação.
Sara, que está estudando inglês para conseguir um certificado que lhe permita conseguir a almejada residência, explicou para a Efe que, apesar de ela e seu marido terem um emprego, seu poder aquisitivo "caiu consideravelmente" nos últimos meses.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que a economia iraniana vai encolher 3,6% este ano e que a inflação superará os 30%, enquanto a moeda nacional, o rial, perdeu desde abril do ano passado 60% de seu valor em relação ao dólar.
"Não acredito que a situação melhore no Irã", disse a tradutora, para quem deixar seu país é "uma decisão muito difícil", mas se vê influenciada pela determinação de seu marido, que se recusa a ter filhos no Irã.
O casal ainda tem muitos anos de carreira pela frente e planos de futuro. No entanto, não são apenas os menores de 40 anos que tentam emigrar, já que esta ideia também circula entre idosos já aposentados.
É o caso de Sepideh e Reza, um casal de 65 anos com boa situação econômica. Apesar de terem várias propriedades alugadas em Teerã e uma pequena companhia de petróleo, decidiram deixar o país.
Primeiro, alugaram uma casa na Espanha e solicitaram uma residência não lucrativa, que não obtiveram, por isso optaram por registrar uma empresa na Geórgia com o objetivo de conseguir a residência no país.
"Se conseguirmos a permissão, pelo menos poderemos desfrutar do tempo que nos resta com mais tranquilidade, já que não precisamos trabalhar porque nossa renda é suficiente", disse Reza à Efe.
Os dois também encorajaram seus filhos a seguirem seu exemplo, já que temem a explosão de "uma guerra" no país, um risco comentado por muitas pessoas devido à retórica belicista que Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel utilizaram contra o Irã no último ano.
O número de iranianos que compraram casas na Geórgia e na Turquia para obter permissão de residência disparou no último ano. Segundo dados oficiais, no caso turco, as aquisições de imóveis triplicaram em comparação com 2017.
Os países vizinhos são uma alternativa mais simples, mas a maioria dos iranianos prefere o Canadá e a Austrália, destinos para os quais muitos deles já emigraram, alguns em situação irregular, assim como a Europa, principalmente a Alemanha.
Segundo diplomatas europeus consultados pela Efe, o número global de iranianos que pediram asilo ou permanecem na Europa em situação irregular não aumentou em comparação com os outros anos, mas em termos proporcionais sim, já que as embaixadas estão emitindo menos vistos.
Um dos que já se encontram na Alemanha é Ali (nome fictício por seu caso delicado), um jovem de 32 anos de boa família, mas desempregado, que decidiu pedir asilo religioso, embora seja muçulmano e não tenha se convertido para outra religião oficialmente, algo que é proibido por lei no Irã.
Ali chegou inclusive a planejar um casamento arranjado com uma alemã de 60 anos para conseguir a residência, tudo para deixar para trás um país no qual considera que "não tem chance de prosperar" com a crise atual.
As autoridades alemãs lhe negaram o asilo e agora ele espera a decisão sobre seu recurso. Ali tem consciência de que o fato de ter alegado motivos religiosos dificulta um eventual retorno ao Irã, mas acredita que é melhor.
"Não quero cometer o erro de voltar por sentir falta da minha família", afirmou. EFE
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.