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Campanha ucraniana balança entre promessas econômicas, surpresas e desencanto

09/02/2019 19h39

Nadjejda Vicente.

Kiev, 9 fev (EFE).- A campanha para as eleições presidenciais na Ucrânia, que acontecerão em 31 de março e das quais participarão nada menos que 44 candidatos, balança entre as promessas econômicas, os candidatos-surpresa e o desencanto dos eleitores.

A Comissão Eleitoral Central da Ucrânia confirmou na sexta-feira a inscrição de um recorde de candidatos a ocupar a presidência ucraniana, ainda que a disputa esteja restrita a poucos: o atual presidente, Petro Poroshenko, a ex-primeira-ministra, Yulia Timoshenko, o ator e comediante Vladimir Zelenski e, provavelmente, o pró-Rússia Yuri Boiko, ex-ministro de Energia.

A alta porcentagem de indecisos, cerca de 20%, segundo as últimas pesquisas, permite prever uma campanha acirrada e um mais que provável segundo turno em abril.

Zelenski é, sem dúvida, o candidato inesperado nesta campanha e, enquanto Timoshenko liderou as pesquisas durante várias semanas, na frente de Poroshenko, nos últimos dias o ator superou os dois candidatos com um apoio de 19%, frente a 18% e 15%, respectivamente, dos outros dois candidatos e 10% de Boiko.

Os quase 36 milhões de ucranianos com direito a voto chegam às eleições cinco anos depois da revolução conhecida como Euromaidan, quando maciços protestos contra o governo provocaram o colapso do regime pró-Rússia de Víktor Yanukovich (2010-2014).

Embora o movimento tenha trazido consigo um ressurgimento da união nacional e um forte ativismo social, muitos ucranianos manifestam hoje seu descontentamento diante da ausência de mudanças significativas nas suas vidas.

"Sou muito cética a respeito destas eleições. Acho que os candidatos veteranos da política não darão oportunidade às novas gerações para abrir passagem", disse à Agência Efe Katerina Joma, professora de 38 anos.

Poroshenko promete à população grandes melhorias econômicas, um objetivo que vincula também a um futuro ingresso do país na União Europeia (UE) e na OTAN.

Este objetivo é compartilhado por praticamente todos os políticos ucranianos, uma vez que nesta semana aprovaram por grande maioria no parlamento emendas que consagram a via europeísta e euroatlântica na Constituição.

Ao contrário de seus rivais, Boiko não menciona no seu programa nem a UE nem a OTAN, mas defende proporcionar "neutralidade real e a não alienação da Ucrânia".

Durante um discurso hoje no Fórum Diálogo Aberto em Kiev, Poroshenko sustentou que pertencer ao clube comunitário e à Aliança Atlântica não só implica em garantir a segurança nacional, a liberdade e a independência da Ucrânia frente à vizinha Rússia, mas também "resistir à pobreza".

O atual presidente quer conseguir isso mediante a promoção da indústria agrícola, da tecnologia da informação, da engenharia em maquinaria, das infraestruturas, da logística e do turismo.

Timoshenko, por sua vez, quer aproximar o salário médio da Ucrânia ao da Polônia, que é 3,5 vezes maior que o ucraniano, um sistema de previdência justo, reduzir os preços do gás e incentivar fiscalmente os empregadores a contratar recém-formados.

Já Zelenski promete "uma economia orientada às necessidades de cada cidadão".

Boiko, por sua parte, pretende aumentar o crescimento econômico entre 5% e 7% anual por meio do desenvolvimento de altas tecnologias, do apoio estatal efetivo ao produtor de artigos básicos e do desenvolvimento empresarial.

A luta contra a corrupção também é uma das grandes reivindicações dos eleitores e uma bandeira ostentada tanto por Timoshenko como pelo ator e comediante.

"Eu gostaria que o futuro presidente fizesse mais para enriquecer o país e não a si mesmo", disse a esse respeito à Efe a dona de casa Natalia Zakalshnuik.

Na campanha eleitoral também exerce um importante papel a postura de cada candidato em relação à Rússia, qualificada como "Estado agressor" por Poroshenko, que disse hoje que o presidente russo, Vladimir Putin, tenta "recuperar a influência sobre a Ucrânia".

Javier Larrauri, professor de espanhol residente em Kiev há sete anos, opina que "os jovens ucranianos não querem estar sob a influência de Moscou".

"O exemplo de progresso econômico e social da Polônia nos seus anos de filiação à UE é o exemplo a seguir", completou.

Tanto Timoshenko como Zelenski e Poroshenko querem que a Rússia devolva os territórios ocupados e ainda obrigar "o agressor" a reembolsar os danos causados à Ucrânia pela intervenção militar no leste do país e pela anexação da península da Crimeia.

"Tomara que algum dia a Crimeia se transforme em uma área neutra sob controle internacional", disse à Efe a jurista Anna Lukinova, que deixou a Crimeia com sua filha após a anexação. EFE