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Irã comemora 40 anos da Revolução com demonstração de união e força militar

11/02/2019 14h54

Marina Villén.

Teerã, 11 fev (EFE).- Centenas de milhares de iranianos saíram às ruas nesta segunda-feira em resposta à convocação das autoridades para demonstrarem união nacional e apoio ao sistema teocrático do Irã, no 40º aniversário da vitória da Revolução Islâmica.

A Praça Azadi, em Teerã, e os seus arredores foram palco das comemorações, muito grandes neste ano devido ao aumento da pressão dos Estados Unidos contra o regime dos aiatolás.

Como de costume, "Morte aos EUA" foi a mensagem mais pronunciada pelos que marcaram presença, a maioria deles pertencentes aos setores conservadores do país, que criticaram as sanções impostas pelo governo americano no ano passado contra o Irã após os Estados Unidos saírem do acordo nuclear assinado em 2015.

Em discurso diante da multidão, o presidente iraniano, Hassan Rohani, declarou que "a presença do povo nas ruas de todo o Irã significa que se arruinaram as conspirações planejadas pelo inimigo".

Rohani também antecipou que o Irã continuará a desenvolver programas armamentistas, incluíndo mísseis, que são fonte de preocupação para os EUA, a Europa e países da região como Arábia Saudita e Israel.

Como demonstração desse poderio, o Corpo de Guardiões da Revolução expôs hoje nas ruas de Teerã os mísseis Qadr, que possuem um alcance de 2.000 quilômetros; Ghiam, de 700 quilômetros; e Zolfeghar, de 800.

"Não pedimos e não pediremos permissão para fabricar mísseis. Continuaremos o nosso caminho militar e defensivo", ressaltou o presidente, que disse que "o caminho da revolução continuará do mesmo modo que nos últimos 40 anos".

A Revolução Islâmica de 1979, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, pôs fim à monarquia do xá Mohammad Reza Pahlavi, grande aliado dos EUA, que fugiu do Irã acossado pelos protestos em janeiro desse ano.

Após o Exército se declarar neutro, foi proclamado o triunfo da revolução no dia 11 de fevereiro e, dois meses depois, foi aprovado em referendo o estabelecimento do sistema da República Islâmica, que desde as suas origens teve complicadas relações com o Ocidente.

Alguns dos cartazes mostravam as palavras de ordem: "em todas as áreas frustraremos os EUA" e "a união foi a chave do sucesso da nossa revolução".

Essa união foi convocada pelas autoridades em meio a um momento delicado do país, imerso em uma crise econômica que gerou protestos e greves sem precedentes no ano passado.

O Irã acusa os EUA e outros países rivais de incitarem protestos populares e de tentarem dividir a população iraniana e afastá-la do sistema teocrático.

Além disso, o assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, afirmou no ano passado que o Irã não chegaria a comemorar a data neste ano, previsão que foi contra-atacada pelos que marcaram presença nas celebrações de hoje.

"Neste ano nos impuseram muitas pressões econômicas e tentaram destruir a união interna, mas conseguiram o resultado oposto", disse na Praça Azadi o agricultor Abolfazl Hosseini, de 52 anos.

Segundo Hosseini, "quanto mais pressão o inimigo impõe sobre o nosso povo, as pessoas mostram mais união, resistência e coração para defender a revolução".

A confiança de que o Irã conseguirá superar as dificuldades não está em toda a população, cansada de restrições econômicas, mas também sociais.

Um jovem comerciante de 28 anos chamado Ali, que importa produtos da China, explicou à Efe que fechou sua loja por causa da forte desvalorização da moeda nacional, o que inviabilizou o seu negócio.

"Estou a ponto de vender a minha casa e também fazendo os trâmites para emigrar à Europa porque não vejo uma solução para a situação atual", se lamentou. EFE