Presidente "incorruptível", Buhari decepciona por não cumprir promessas
Paul Okolo.
Abuja, 15 fev (EFE).- O presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, que concorre à reeleição no pleito deste sábado, tem fama de disciplinado e "incorruptível", virtudes que não evitaram o desencanto de muitos nigerianos por não cumprir suas promessas.
Aos 76 anos, ele chega às eleições gerais com a imagem afetada pela sombra da corrupção ainda crescente no país, uma taxa de desemprego galopante, uma economia - a maior da África - titubeante e a incapacidade para derrotar o grupo jihadista Boko Haram.
Há quatro anos, o presidente - que nestas eleições enfrenta 72 candidatos, sendo o principal deles Atiku Abubakar - prometeu resolver esses problemas, o que lhe rendeu muitos votos.
Líder do partido Congresso de Todos os Progressistas (APC), Buhari chegou ao poder em 2015 após três tentativas frustradas (2003, 2007 e 2011) e depois de derrotar o então chefe de Estado, Goodluck Jonathan, em uma vitória histórica por ser a primeira vez que um opositor vencia um presidente em exercício.
O novo vencedor demorou seis meses para formar um gabinete ministerial, o que lhe rendeu o apelido de "Baba Go Slow" ("Papai vai devagar").
A vitória eleitoral aconteceu, em grande medida, por sua promessa de acabar com o terrorismo do Boko Haram.
Em janeiro, o presidente reconheceu, no entanto, que tinha dado um passo atrás na luta contra o grupo terrorista, já que os jihadistas continuam sua ofensiva no nordeste do país.
"Aceito a responsabilidade que me corresponde - admitiu -, mas em situações de emergência é preciso ter cuidado, e acredito que existe certa cansaço entre os soldados".
O nordeste da Nigéria está há anos imerso em um estado de violência provocado pelas ações do Boko Haram, que desde 2009 luta para impor um Estado islâmico no país, que tem maioria muçulmana no norte e predominantemente cristão no sul.
Este conflito deixou mais de 20 mil mortos e provocou o deslocamento de cerca de dois milhões de pessoas.
Esta situação de insegurança se soma também à violência entre os pastores armados nômades da etnia fulani e os agricultores na região central e sul do país, majoritariamente cristã.
Pertencente à etnia fulani, uma das mais numerosas do norte do país, Buhari ingressou nas Forças Armadas quanto tinha 19 anos e ocupou postos de comando.
Em dezembro de 1983, foi um dos líderes militares que orquestraram o golpe de Estado contra o presidente Shehu Sahagari, que deu lugar a um governo no qual exerceu como chefe de Estado até 1985, quando foi desbancado por outro levante militar.
Sua aversão à corrupção e à falta de disciplina ficou latente nesta época, quando seu regime prendeu políticos, empresários e funcionários por se enriquecerem às custas dos cofres públicos.
Buhari entrou na política com esta reputação e uma grande popularidade entre os nigerianos, que desejavam disciplina e honradez no espaço público. O caso é que a corrupção continua castigando o país, mas, conforme ele disse no mês passado, "o sistema judicial é o responsável pela lentidão na luta contra a mesma e na dificuldade para desmantelar suas garras".
O presidente também chega para as eleições após uma série de episódios nos últimos tempos que suscitaram dúvidas sobre seu estado de saúde.
Em 2017, Buhari foi obrigado a cancelar compromissos oficiais por um problema de saúde cujas causas não foram reveladas e que o levou a ficar internado durante seis meses em Londres.
Em dezembro do ano passado, o próprio Buhari chegou a desmentir ser um dublê de si mesmo, diante dos rumores de que tinha morrido.
"Posso garantir a todos que sou o verdadeiro eu. No final deste mês vou comemorar 76 anos. E ainda estou forte!", afirmou, com bom humor, em um encontro com a comunidade nigeriana na Polônia, onde participou da Cúpula sobre a Mudança Climática (COP24).
Quando muitos já esperavam sua aposentadoria, Buhari surpreendeu ao apresentar a candidatura à reeleição e, durante a campanha, não mostrou nenhum sinal de problemas de saúde.
Buhari é casado com a esteticista Aisha Halilu, com quem tem cinco filhos, fora os outros cinco do primeiro casamento.
Sua esposa atende compromissos oficiais no escritório da primeira-dama da Nigéria, instituição não contemplada na Constituição que o presidente disse que aboliria em 2014, outra promessa de Buhari que não foi cumprida. EFE
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