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Rússia lembra 30 anos da retirada soviética do Afeganistão

15/02/2019 14h29

Moscou, 15 fev (EFE).- A Rússia lembrou nesta sexta-feira o 30º aniversário da retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, ao final de dez anos de uma invasão que custou à extinta União Soviética (URSS) 16.000 mortos, marcou toda uma geração e levou à condenação de grande parte da comunidade internacional.

No dia 15 de fevereiro de 1989 o general Boros Gromov, comandante do contingente militar soviético destacado no Afeganistão cruzava como último homem dessa força a passagem de Termez (na fronteira entre Uzbequistão e Afeganistão) e colocava fim a uma guerra que alguns chamaram de Vietnã da URSS.

"Atrás de mim não resta nem um soldado nem um oficial nem um suboficial", disse então Gromov, ao transmitir ao alto comando o boletim sobre o cumprimento da retirada.

A campanha do Afeganistão terminou quando faltavam menos de três anos para a morte oficial da URSS e foi, na opinião de muitos analistas, um dos fatores que a precipitou.

O homem que deu a ordem de retirada, o então presidente soviético Mikhail Gorbachov ressaltou, em entrevista publicada hoje pela agência russa "RIA Novosti", que essa decisão foi adotada após "longas deliberações" e respaldada por todos os membros da cúpula comunista e da chefia das Forças Armadas.

Segundo Gorbachov, todos concordaram em que "o problema afegão não tinha solução militar" e compartilhavam sua visão de que o envio do contingente militar soviético ao Afeganistão tinha sido um erro.

Neste sentido, lembrou a resolução adotada então pelo Congresso dos Deputados do Povo da URSS que condenou "moral e politicamente" o envio de tropas ao Afeganistão.

Ao mesmo tempo, o ex-líder soviético destacou que essa avaliação em nenhum caso menospreza a honra dos militares, que cumpriram seu dever.

Nesta quarta-feira, o presidente da Duma ou Câmara de Deputados da Rússia, Viacheslav Volodin, afirmou que a invasão soviética do Afeganistão não pode ser interpretada de outra forma a não ser como uma "façanha".

Ao mesmo tempo que destacou a importância de defender a "verdade histórica", Volodin ressaltou que, ao tomar a decisão sobre o envio das tropas soviéticas, o Kremlin "defendeu os interesses do país fora de suas fronteiras".

"Muitos deram a sua vida e devemos fazer todo o possível para que tal façanha seja imortal", afirmou Volodin.

O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, disse hoje que o Kremlin não vai entrar em um debate sobre esse período histórico, pois se trata de algo que está fora da sua agenda.

"Para nós o importante é lembrar os heróis que cumpriram com seu dever internacional e fizeram tudo o que deviam fazer de conformidade com seu juramento. O importante é não esquecer estes heróis, e ninguém os esquece", ressaltou Peskov.

As palavras do porta-voz do Kremlin foram corroboradas pouco depois pela publicação de um decreto do presidente russo, Vladimir Putin, pelo qual impôs o título de Herói da Rússia a Vladimir Kovtun, um oficial dos serviços de inteligência militar que participou da guerra do Afeganistão.

Kovtun ganhou a máxima distinção da Rússia por ter participado em uma operação na província afegã de Kandahar na qual um comando de inteligência capturou um foguete americano terra-ar "Stinger" e uma maleta com documentação, que incluía os endereços postais dos fornecedores.

"Até hoje tenho sonhos com o Afeganistão. Eu consegui superá-lo, mas nem todos o conseguiram", disse o tenente-general Ruslan Aushev, veterano dessa guerra e Herói da União Soviética.

Aushev, que após a desintegração da URSS foi presidente da república da Inguchétia, se queixou que a Rússia não conte com um ministério para assuntos dos veteranos de guerra.

"Considero que deve haver um programa estatal para a reabilitação dos veteranos", disse o militar, já aposentado, à "RIA Novosti".

Segundo dados oficiais, mais de meio milhão de soviéticos participaram da campanha do Afeganistão, dos quais um em cada dez ficou ferido. EFE