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Aumento de impostos para mais ricos é nova bandeira dos candidatos democratas

19/02/2019 09h54

Alfonso Fernández.

Washington, 19 fev (EFE).- A política tributária, especialmente o aumento de impostos sobre as rendas mais altas, se transformou na principal bandeira dos primeiros pré-candidatos democratas às eleições presidenciais de 2020, e mostra o auge da ala mais esquerdista do partido.

Alexandria Ocasio-Cortez, uma jovem congressista em ascensão dentro do partido, e a senadora Elizabeth Warren revelaram neste mês ambiciosas propostas tributárias que incluem aumentos consideráveis de impostos para os mais ricos, com o objetivo de enfrentar a crescente desigualdade e financiar programas sociais.

Warren propôs algo sem precedentes nos Estados Unidos, um imposto sobre a riqueza, que pretende taxar os patrimônios de mais de US$ 50 milhões com 2% anuais, aos quais seria acrescentado 1% para as fortunas de mais de US$ 1 bilhão.

"Não podemos nos permitir ficar só com remendos - uma isenção fiscal aqui, uma regulação ali. Nossa luta é por uma mudança grande, estrutural", disse a senadora ao lançar no início do mês sua campanha para ser a candidata democrata à presidência em 2020.

"Milhões e milhões de famílias americanas estão lutando para sobreviver em um sistema que é manipulado pelos ricos e poderosos", afirmou Warren, de 69 anos.

Por sua vez, Ocasio-Cortez apresentou o seu chamado "Green New Deal", que consiste em um sistema de bem-estar baseado na saúde pública, na luta contra a mudança climática como prioridade e em uma alta da taxa para 70%, frente aos atuais 37%, sobre as rendas de mais de US$ 10 milhões.

Em apenas um mês no Congresso, a legisladora democrata parece ter conseguido revolucionar a agenda do partido com uma injeção de ideias frescas.

"Há um elemento onde, claro, o povo terá que começar a pagar sua parte correspondente em impostos. Quer dizer que, conforme você sobe a escada (da renda), você deve contribuir mais", explicou Ocasio-Cortez, de 29 anos.

Ambas as congressistas seguem o caminho aberto em 2016 pelo senador Bernie Sanders, que se define como um "democrata socialista", e que disputou até o último momento a candidatura com Hillary Clinton, representante da ala moderada e liberal do partido.

Apesar da derrota, Sanders conseguiu colocar na agenda pública um tema que parecia tabu na sociedade americana até alguns anos atrás: o da saúde universal frente ao atual sistema de mercado de seguros privados, com exceções para os maiores de idade e pessoas de baixa renda.

O veterano senador ainda não confirmou se disputará a candidatura democrata em 2020, mas há rumores de que o fará em breve.

O passo dado por Sanders fez com que outros candidatos democratas da ala moderada expressassem seu apoio à política de saúde pública universal, como é o caso da também senadora democrata Kamala Harris, e sua disposição a discutir sobre o aumento de impostos.

Apesar do forte apoio nas redes sociais e entre os mais jovens, estas abordagens despertaram receios entre os liberais, especialmente alguns que seriam afetados.

Um deles foi o cofundador da Microsoft e segundo homem mais rico do mundo segundo a revista "Forbes", Bill Gates, que comentou na semana passada a proposta de Ocasio-Cortez, sem citar diretamente a congressista.

"Há alguns políticos que são tão extremistas que eu lhes diria: 'Não, isso é ir longe demais'. Isso é criar desestímulos e incentivar a sonegação de impostos e a declarar renda em outros países. Podemos ser mais progressistas sem ameaçar a geração de renda", declarou Gates em entrevista ao portal tecnológico "The Verge",

Por sua vez, o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que está considerando lançar sua candidatura para 2020 pelo Partido Democrata, mostrou suas reservas a tais medidas.

Em um ato em New Hampshire, Bloomberg afirmou estar "um pouco cansado de escutar coisas que são castelos no ar, que nunca serão aprovadas e não podemos assumir".

A questão é até que ponto estas propostas podem atrair os eleitores em 2020 quando os democratas enfrentarão provavelmente o atual presidente, o republicano Donald Trump, que fez da redução de impostos e do ceticismo sobre a mudança climática dois dos seus pilares políticos.

"O ambicioso Green New Deal é visto mais como diretrizes para uma sociedade ideal do que como uma proposta política definida", disse Samantha Gross, pesquisadora do centro de estudos Brookings.

E como tal, para Gross, há diversas interpretações em função do ponto de vista político, o que mostra sua indefinição.

"Alguns democratas o veem como uma prova do compromisso com o clima dos potenciais candidatos para 2020. Outros na esquerda se queixam de que não defende uma total eliminação do uso de combustíveis fósseis. Na direita, por sua vez, é descrito como um exemplo da chegada do socialismo", acrescentou a pesquisadora. EFE