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Insegurança aumenta no Haiti em meio à tensão política

20/02/2019 18h19

Carmen Jiménez.

Porto Príncipe, 20 fev (EFE).- O clima de insegurança vivido no Haiti tem aumentado em meio à tensão política provocada pelos protestos contra o governo de Jovenel Moise, cuja renúncia é exigida pela oposição, que o responsabiliza pela grave crise econômica.

Desde sábado passado, o Haiti vem retomando uma relativa normalidade e saindo do estado de paralisia no qual se manteve desde o último dia 7, quando milhares de pessoas foram às ruas para exigir a renúncia de Moise, mas setores da oposição pediram o retorno das mobilizações a partir de hoje e convocaram uma manifestação para sexta-feira.

Apesar de o comércio ter voltado a abrir e o transporte público ter sido restabelecido, a tensão na capital é visível e o medo faz com que muitas pessoas ainda prefiram ficar em casa, o que se reflete no pouco movimento nas ruas, inclusive pela falta dos alunos, que ainda estão com as aulas suspensas.

Em Martissant, um dos bairros mais perigosos de Porto Príncipe, um policial e dois motoristas de transporte público morreram hoje, em dois incidentes separados, quando membros de um grupo armado dispararam e fugiram.

O policial estava no seu carro com outros colegas indo para o trabalho, quando foi interceptado por pelo menos 12 integrantes de um grupo armado. De acordo com agentes da polícia, os criminosos exigiram que eles entregassem as armas. Como um deles não entregou, foi baleado, segundo um dos companheiros que viajavam no veículo e que não reagiu.

O corpo foi levado pelos colegas à delegacia de Portail Leogane, no centro da cidade, onde já era aguardado por familiares.

Vários policias dessa delegacia, que recebem o salário mínimo de 15 mil gourdes (R$ 660), explicaram à Agência Efe que as crises na política e na economia fizeram aumentar a insegurança e atiçaram grupos armados.

No tenso panorama vivido no país, a polícia haitiana informou esta semana que cinco americanos, dois sérvios e um haitiano foram detidos por posse ilegal de armas de guerra. Eles tinham várias metralhadoras, pistolas, coletes à prova de bala, drones e telefones, entre outros equipamentos.

Enquanto as autoridades haitianas anunciaram que investigam como chegaram e os motivos que levaram os estrangeiros ao país, o porta-voz do partido opositor Setor Democrático e Popular, André Michel, denunciou ontem que se trata de um grupo de mercenários que trabalha para o governo e que supostamente tem que vigiar dirigentes da oposição.

Segundo Michel, existem pessoas do governo pressionando à polícia para soltar os envolvidos.

O descontentamento popular com a gestão de Moise, que tomou posse em fevereiro de 2017, vem aumentando nos últimos meses por causa da severa crise econômica que se agravou este ano por conta da forte desvalorização da moeda oficial e do aumento galopante da inflação.

O governo haitiano apelou para o diálogo, rejeitado pela oposição, e anunciou uma série de medidas econômicas para diminuir a tensão e para lutar contra a corrupção.

Essas mensagens, no entanto, não chegaram a bairros como Bel Air, um reduto de apoiadores do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, derrotado em uma revolta armada em 2004. Agora, os moradores preparam uma manifestação para a próxima sexta-feira contra o governo de Moise.

Em algumas ruas de Bel Air ainda estão as barricadas colocadas durante os protestos da semana passada, quando pelo menos nove pessoas morreram e onde a polícia não entra.

Kaithine Joseph, que mora no bairro, disse à Efe que a região é muito insegura e que não é recomendado sair de casa depois das 19h.

Enquanto várias crianças brincam pelas ruas, já que as aulas ainda não foram retomadas, ela, que tem quatro filhos, disse acreditar que as mobilizações não vão cessar até que Moise renuncie.

Bel Air é um fiel reflexo do descontentamento popular e da difícil situação econômica do Haiti, onde mais da metade dos 10 milhões de habitantes sobrevive com menos de 160 gourdes por dia (R$ 7,20) e a taxa de desemprego ultrapassa os 50%.

Nesse bairro, onde quase não há trabalho, muitas pessoas resistem graças a dinheiro e produtos enviados por parentes, como contou Kaithine, enquanto os vizinhos gritam frases como "Viva a Rússia! Abaixo os americanos!". EFE