May quer renegociar 'backstop' irlandês e não descarta um Brexit sem acordo

Londres/Berlim, 20 fev (EFE).- A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, insistiu nesta quarta-feira que renegociará com a União Europeia (UE) o mecanismo de 'backstop' que impede uma fronteira dura entre as Irlandas, o principal obstáculo para que seu acordo do Brexit seja aprovado, e não descartou uma saída do bloco sem pacto em 29 de março.

Em seu comparecimento semanal na Câmara dos Comuns, May expôs suas prioridades na reunião que manterá esta tarde em Bruxelas com o presidente da Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, Jean-Claude Juncker.

Ao ser questionada pelo líder da oposição, Jeremy Corbyn, May explicou que quer obter mudanças no 'backstop' que satisfaçam "o povo da Irlanda e da Irlanda do Norte, e abordem as inquietações do parlamento" em Londres.

"O que interessa são mudanças legalmente vinculativas", para que o acordo possa ser aprovado pela Câmara dos Comuns e o país saia do bloco na data prevista, afirmou a premiê.

May disse que Londres e Bruxelas exploram três possibilidades: substituir a 'backstop' por "regras alternativas" como pediu o parlamento, estabelecer uma data de caducidade para a polêmica cláusula ou introduzir um mecanismo que permita ao Reino Unido rescindi-la de forma unilateral.

Apesar da insistência de Corbyn, a primeira-ministra se recusou a descartar a possibilidade de sair da UE sem acordo.

May ressaltou que há apenas dois caminhos para evitar esse desenlace, aprovar seu acordo - que foi rejeitado pelo parlamento em 15 de janeiro - ou atrasar a data de saída o que, segundo advertiu, significa "permanecer na UE".

A sessão de hoje foi a primeira de perguntas à primeira-ministra após a saída de vários deputados dos dois principais partidos britânicos, o conservador e o trabalhista, por desacordos sobre o Brexit, entre outras coisas.

Isso aumenta a pressão sobre May, que se comprometeu a convocar uma nova votação do Brexit em 27 de fevereiro, tenha ela conseguido ou não mudanças no acordo.

Em Berlim, o ministro das Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, apelou hoje à boa vontade da Alemanha e da União Europeia (UE) para chegar a um compromisso que permita o apoio do parlamento ao acordo.

Trata-se de manter o acordo em sua totalidade e fazer "uma simples e importante" mudança a respeito do 'backstop' que garanta "o futuro do Acordo de Paz de Sexta-feira Santa de Belfast", com o qual o Reino Unido mantém seu compromisso, garantiu Hunt.

Se tal mudança for conseguida, o ministro acrescentou em discurso na Fundação Konrad Adenauer que tanto ele como a primeira-ministra britânica e o governo britânico têm confiança de que o acordo negociado poderá ser aprovado com maioria no parlamento.

"É a única saída para a situação atual", advertiu Hunt, que ressaltou que "ninguém quer como resultado um não acordo".

Para Hunt, ficar sentado esperando que o Brexit se resolva por si mesmo nas próximas semanas não é suficiente, por isso todos têm que fazer o possível por garantir um acordo.

"Ninguém deve duvidar que um fracasso na tentativa de garantir um acordo de saída ratificado entre o Reino Unido e a UE seria profundamente prejudicial, tanto política como economicamente", disse o ministro.

"Conseguir um Brexit suave e ordenado é profundamente necessário se queremos garantir o futuro da ordem mundial", acrescentou o titular de Relações Exteriores.

Hunt lembrou que o Brexit não significa a retirada do Reino Unido do cenário global e o afastamento dos interesses comuns europeus de segurança. EFE