"A primeira coisa foi me chamar de mentiroso", diz vítima de abusos do clero
Cidade do Vaticano, 21 fev (EFE).- "A primeira coisa que fizeram foi me chamar de mentiroso", disse em mensagem uma das vítimas dos abusos cometidos pelo clero, durante a reunião da hierarquia da Igreja Católica no Vaticano para abordar os casos de pedofilia.
Os 190 representantes da Igreja Católica presentes, entre eles 114 presidentes ou vice-presidentes das conferências episcopais, puderam ver cinco vídeos com os testemunhos de vítimas violentadas por padres durante sua infância e das quais suas denúncias foram ignoradas.
"Chamaram-me de mentiroso, me deram as costas e disseram que eu e outros éramos inimigos da Igreja", explicou uma vítima latino-americana, segundo a transcrição divulgada pelo Vaticano.
"Eu sei que estão lá falando, sobre como terminar e como começar de novo e como reparar todo este dano. Primeiro, perdões falsos, perdões à força já não funcionam. As vítimas devem ser respeitadas, respeitá-las, cuidá-las e repará-los. É preciso reparar as vítimas, é preciso estar com elas, é preciso acreditar nelas, é preciso acompanhá-las", disse a vítima.
Ela pediu que "ouçam o que o santo padre quer fazer, não concordem com a cabeça e depois façam outra coisa".
Uma mulher africana relatou que desde que tinha 15 anos foi obrigada a manter relações sexuais com um sacerdote.
"Fiquei grávida três vezes, ele me fez abortar três vezes. Simplesmente porque ele não queria um preservativo nem um método anticoncepcional. No início tinha tanta confiança nele, que não sabia que podia abusar de mim. Tinha medo dele. E de cada vez que me negava a ter relações. Ele me batia", se escutou na sala onde se reúnem os bispos.
A mulher afirmou que sua vida ficou "arruinada" e que sofreu tantas "humilhações" que não sabe como será seu futuro, e pediu à Igreja para se "comportar com responsabilidade, como pessoas sensatas".
Um sacerdote da Europa do Leste que tem agora 53 anos contou como no seminário um superior entrava na sua cama e o tocava.
Mas que o que o feriu profundamente foi que depois de muitos anos ele contou o caso para o bispo e este não lhe respondeu por muitos anos. Quando o fez o atacou sem tentar entendê-lo.
Este sacerdote pediu aos bispos: "Que escutem estas pessoas, que aprendam a escutar as pessoas que falam. Eu queria que alguém me escutasse, que se soubesse quem é esse homem".
Um americano denunciou como os abusos o fizeram perder "a inocência da sua juventude" e como para ele e família continua doendo "a traição" e "a manipulação" desse homem.
A quinta vítima, um homem procedente da Ásia, explicou que toda vez que falou com os responsáveis "todos encobriram praticamente cada assunto, encobriram os autores..."
"Se querem salvar a Igreja, temos que agir juntos e fazer com que os abusadores sejam vencidos", acrescentou a vítima. EFE
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