Falta de alternativa leva rohingyas ao tráfico de drogas em Bangladesh
Azad Majumder.
Daca, 22 fev (EFE).- Diante da falta de dinheiro e de trabalho nos campos de refugiados de Bangladesh, alguns membros da minoria rohingyas que fugiram da violência em Mianmar estão entrando para o mundo do tráfico e se tornando alvo de uma campanha antidroga nacional inspirada na idealizada pelo presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, e que já deixou quase 300 mortos.
Pelo menos 11 representantes desta minoria muçulmana morreram em trocas de tiros das forças de segurança com traficantes nos últimos dez meses, em casos envolvendo o contrabando de metanfetamina entre Bangladesh e Mianmar, segundo dados da obtidos pela Agência Efe.
O caso mais recente aconteceu no último dia 13, quando um rohingya morreu em um tiroteio em Teknaf, no distrito de Cox's Bazar, na fronteira com Mianmar, quando estava sob custódia da Guarda de Fronteira de Bangladesh (BGB).
Jafar Alam tinha sido preso no dia anterior com tabletes de yaba - mistura de metanfetamina com cafeína - e levado pelos agentes a um suposto ponto de encontro de traficantes, de acordo com o tenente-coronel do BGB em Teknaf, Asaduzzaman Chowdhury.
A versão policial é a mesma de tantas outras mortes em custódia.
"Quando nossa equipe encontrou o grupo (de traficantes), eles começaram a disparar, nos obrigando a sair. Nos reagrupamos e respondemos. Ao amanhecer, com a luz do dia, encontramos o seu corpo", disse o tenente à Efe.
Outros dez refugiados da minoria étnica morreram de forma semelhante em tiroteios e incidentes entre grupos de traficantes rivais nos últimos meses, segundo o chefe da Polícia de Teknaf, Pradip Kumar.
O início de uma ofensiva militar do Exército de Mianmar em agosto de 2017 fez com que cerca de 738 mil rohingyas fugissem para Bangladesh. A Organização das Nações Unidas (ONU) qualificou a ação de tentativa de limpeza étnica.
Divididos em acampamentos - no maior deles moram 620 mil pessoas -, os rohingyas precisam driblar a escassez de recursos e a falta de perspectivas imediatas de voltar para casa, após várias tentativas fracassadas de repatriação.
"A quantidade de ajuda que os rohingyas recebem dificilmente pode ser considerada suficiente. Então, é normal que tentem buscar outras formas para se manter", explicou o ativista bengalês Nur Khan Liton.
De acordo com Liton, os refugiados estão se envolvendo cada vez mais no contrabando de drogas entre a Mianmar e Bangladesh, mas seria injusto colocá-los como únicos culpados.
"Estão sendo usados principalmente como mulas neste negócio ilegal por moradores locais", disse ele à Efe.
Além disso, o transporte da droga até os principais centros urbanos do país está nas mãos dos próprios habitantes, segundo o especialista.
Teknaf tem a duvidosa reputação de ser o principal centro de contrabando do país. O governo lançou uma grande campanha de combate às drogas em maio do ano passado, comparada por associações de direitos humanos como a feita por Duterte.
Pelo menos 292 pessoas morreram em operações policiais de maio a dezembro. A maioria em trocas de tiros com as forças de segurança ou quando estavam sob custódia policial, de acordo com a organização de direitos humanos Ain o Salish Kendra (ASK).
Grande parte dos casos aconteceu em Teknaf.
De acordo com Chowdhury, muitos traficantes se esconderam durante as operações, deixando o caminho livre para os rohingyas. Segundo ele, nos últimos meses, 26 refugiados foram detidos na fronteira com tabletes de yaba.
"Eles costumam atravessar a fronteira na parte da noite, já que ainda têm alguns familiares lá. Antes, eram utilizados basicamente como mulas, mas desde que alguns traficantes importantes passaram a se esconder, os rohingyas tomaram à frente", argumentou.
O porta-voz da Polícia de Cox's Bazar, Iqbal Hossain, ainda lembrou que os rohingyas podem atravessar mais facilmente a fronteira do que os moradores de Bangladesh, por isso são utilizados para transportar drogas.
"Os traficantes de yaba se aproveitam e os utilizam como mulas. Como os rohingyas não têm muito o que fazer no acampamento e não têm fonte de renda, acabam se envolvendo no tráfico de drogas", afirmou à Efe.
Segundo Hossain, no entanto, apesar de a Polícia costumar encontrar tabletes de yaba nos campos de refugiados, a situação ainda não chegou a um nível alarmante. EFE
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