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Trump vai para 2ª reunião com Kim atraído por possível acordo de paz

26/02/2019 15h35

Por Lucía Leal.

Washington, 26 fev (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participará de sua segunda reunião com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, atraído pela ideia de se transformar no artífice de uma possível declaração de paz na península coreana, um desejo que poderia desviar seu olhar do objetivo de desativação do programa nuclear do país asiático.

Oito meses depois de fazer história no primeiro encontro com o líder norte-coreano, Trump vê a cúpula de Hanói (Vietnã) como uma nova oportunidade de assumir o papel de um ator de destaque no cenário mundial, como fiador de uma trégua nuclear e, inclusive, como possível ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

"O primeiro-ministro (japonês, Shinzo) Abe (...) me indicou (para o) Prêmio Nobel. Sabem por quê? Porque tinham foguetes e mísseis voando sobre o Japão, alarmes constantes, e agora, de repente, se sentem seguros. Consegui isso", disse Trump em entrevista coletiva neste mês.

Trump opinou que "provavelmente nunca" ganhará o prêmio que seu antecessor, Barack Obama, conseguiu, mas seu interesse por esse prêmio reflete um desejo de reconhecimento por sua grande aposta diplomática com a Coreia do Norte, a maior em dois anos de governo marcados por guerras comerciais e rupturas de pactos globais.

Para consegui-lo, segundo artigos de imprensa, Trump se interessa em sair da reunião de Hanói com uma declaração de paz na península coreana, que continua tecnicamente em guerra após o armistício de 1953.

Esse documento não seria um tratado vinculativo, mas geraria uma evidente atenção na mídia, por isso que alguns observadores temem que Trump privilegie esse objetivo e deixe de lado a obtenção de compromissos significativos em relação à desnuclearização.

"Trump deseja declarar o fim para a guerra coreana para impulsionar tanto sua campanha de reeleição (em 2020) como um Prêmio Nobel da Paz", disseram à Agência Efe Scott Seaman e Todd Mariano, da empresa de consultoria Eurasia Group.

A Coreia do Norte busca há anos um tratado de paz, e a assinatura dessa declaração não vinculativa poderia "fortalecer o argumento de Pyongyang de que as sanções contra ela são inapropriadas e devem ser eliminadas", acrescentaram os consultores.

No entanto, Mintaro Oba, um ex-funcionário americano especializado na península coreana, não acredita que a assinatura desse documento possa representar uma grande "concessão" por parte dos EUA.

"É só um gesto simbólico que reflete uma realidade: a guerra da Coreia acabou. Não obriga os Estados Unidos a fazer outras concessões mais prejudiciais, como a retirada de tropas da península coreana", disse Oba à Efe.

Fontes oficiais americanas descartaram na última quinta-feira que Washington esteja negociando com Pyongyang a retirada de parte dos 28.500 soldados americanos na Coreia do Sul, mas não falta quem tema que Kim possa tentar persuadir Trump disso durante o encontro que terão a sós.

Alguns analistas com contatos na Casa Branca acreditam que, em troca da declaração de paz, Kim poderia se comprometer a abrir ou inclusive desmantelar algumas instalações nucleares ou de mísseis que já não consideram imprescindíveis.

"Acredito que a Coreia do Norte tem programas os quais estão dispostos a renunciar em Hanói. Mas só renunciarão a coisas do seu passado, enquanto negociam o seu futuro e exigem que EUA se desfaçam de coisas do seu presente", disse Victor Cha, do centro de estudos CSIS, em uma conversa na semana passada.

A Casa Branca insiste que a grande "prioridade" da cúpula será a desnuclearização, e que Trump tentará acertar uma "definição compartilhada" com Kim do que significa esse termo.

O enviado especial dos EUA para a Coreia do Norte, Stephen Biegun, há cinco meses tenta conseguir avanços nesse âmbito, mas o trabalho contrasta com o ceticismo para a diplomacia de John Bolton, o assessor de segurança nacional de Trump, e com o empenho do próprio presidente em ser ele próprio quem negocie um acordo.

"Trump não acredita no processo (diplomático do seu governo). Esse será, realmente, o fator imprevisível na cúpula "de Hanói, concluiu Sue Mi Terry, especialista na Coreia no centro de estudos CSIS, na conferência de sexta-feira. EFE