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Díaz-Canel diz que EUA não têm prestígio para criticar votação em Cuba

27/02/2019 14h02

Havana, 27 fev (EFE).- O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, afirmou nesta quarta-feira que os Estados Unidos não têm "prestígio nem moral" para criticar a validade do referendo no qual foi aprovada a nova Constituição cubana, opiniões que o governo de Havana tachou de "desrespeitosa intromissão" em assuntos internos.

"Repudiamos energicamente a desrespeitosa intromissão do desacreditado Departamento de Estado dos EUA ao questionar o referendo constitucional, livre e soberanamente realizado pelos cubanos", escreveu Díaz-Canel em sua conta oficial no Twitter.

Horas antes, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pence, criticou em comunicado a votação realizada no domingo passado em Cuba por considerá-la um "teatro político" que só serve de pretexto para perpetuar uma ditadura de partido único.

"Pompeo e o governo americano não gozam de prestígio nem moral para questionar o referendo constitucional livre e soberanamente realizado pelos cubanos em 24 de fevereiro. Eles são falcões da guerra, da mentira e da ingerência", respondeu Díaz-Canel, que assumiu o poder em abril de 2018.

Para o governante cubano, a maioria dos votos pelo sim à nova Constituição, que molda as reformas econômicas da última década, mas não modifica o sistema político na ilha, significa um apoio "à Revolução, ao socialismo, à independência e à soberania", afirmou em outro tweet.

Com 86,85% dos votos a favor, os cubanos aprovaram a nova Constituição que substitui a vigente de 1976. O texto reconhece a propriedade privada e considera necessário o investimento estrangeiro, embora mantenha o Partido Comunista de Cuba (PCC, único legalizado) como "força dirigente superior" e ratifica o comunismo como aspiração.

Devido a este último trecho, Pompeo argumentou que o referendo de domingo só serviu para "perpetuar o pretexto para a ditadura de partido único do regime" e não garante as "liberdades fundamentais" dos cubanos.

"O povo cubano falou alto e claro em 24 de fevereiro. O Departamento de Estado deve cessar a prática de se intrometer nos assuntos internos de outros Estados e interferir nos processos eleitorais ou de votação de outras nações", afirmou o Ministério das Relações Exteriores cubano em comunicado.

A reclamação de Cuba chega um dia após o chanceler da ilha, Bruno Rodríguez, lembrar aos EUA que Donald Trump chegou ao poder com "46% dos votos e três milhões a menos que Hillary Clinton", sua rival democrata e ganhadora do voto popular.

Esta nova troca de acusações acontece em um momento de tensão nas relações entre EUA e Cuba, aguçada entre outros fatores pela crise na Venezuela. O governo cubano apoia incondicionalmente Maduro, enquanto Washington respalda o líder do Parlamento, Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino.

Desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2017, Trump endureceu a política em relação a Cuba com mais restrições para as viagens à ilha, reduções na delegação diplomática e sanções aos hotéis cubanos, agravando os efeitos do embargo econômico e comercial que EUA mantêm há quase seis décadas. EFE