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Em Lisboa, Jean Wyllys afirma que sua causa "não precisa de mártires"

27/02/2019 16h52

Lisboa, 27 fev (EFE).- O ex-deputado federal Jean Wyllys, que abriu mão do seu mandato em janeiro por ser alvo de ameaças, afirmou nesta quarta-feira em Lisboa que sua saída era imperiosa porque as causas que defende "não precisam de mártires, precisam de ativistas vivos".

Wyllys, que disse recentemente que estabeleceu residência em Berlim, ofereceu hoje na capital portuguesa uma conferência rodeada de expectativa e que foi assistida por cerca de 280 pessoas, enquanto outras 100, que não conseguiram entrar no local, acompanharam sua fala do lado de fora.

Nos arredores também se reuniram cerca de 30 membros do Partido Nacional Renovador, uma legenda de extrema direita de Portugal, separados pela polícia dos apoiadores do ex-deputado brasileiro.

Wyllys foi prestigiado, entre outros, pela viúva e gerente do legado do Nobel português de Literatura José Saramago, a espanhola Pilar del Río, que disse ao público que estavam ali reunidos "pela razão e pela consciência".

"Somos a resistência, somos melhores, somos mais bonitos", acrescentou.

Wyllys relatou a esse público como começou a sofrer ameaças já em 2011 e descreveu uma escalada da homofobia no Brasil.

"O primeiro deputado que me insultou em uma comissão é hoje presidente da República", ressaltou, em alusão a Jair Bolsonaro.

No seu relato, Wyllys identificou como um momento-chave o assassinato em março de 2018 da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro.

"A partir daí ficou claro para mim que este era um jogo pesado", comentou emocionado.

Após o assassinato de Marielle, Wyllys contou que passou a andar com escolta e reduziu a intensidade das suas atividades como parlamentar, algo que fez se sentir deprimido.

"Tinha a certeza que morreria, se não assassinado, doente, não aguentava essa vida", comentou.

Seu discurso acabou com um incidente entre o público, de onde surgiu um homem que gritou palavras de ordem a favor de Bolsonaro e que foi expulso da sala enquanto outros presentes lhe chamavam de "fascista".

A confusão de hoje se tornou mais um episódio da agitada passagem de Wyllys por Portugal, após a conferência que deu ontem em Coimbra e na qual tentaram atingi-lo com ovos, em uma "tentativa de ataque instrumentalizada pela extrema direita brasileira", segundo afirmou hoje. EFE