Primeira piloto de avião leve sem braços, Jessica Cox dá aula de superação
María León.
Tucson (EUA), 4 mar (EFE).- Desde a infância, a americana Jessica Cox odiava a palavra "deficiente". Ter nascido sem braços para ela é mais uma "vantagem" do que uma "desvantagem", algo que a levou a se tornar na primeira piloto sem braços de aeronaves leves e o primeira licenciada em todo o mundo.
"Quando eu voo, me sinto livre, independente e sob controle", disse à Agência Efe, Jessica, de 36 anos, nascida em Sierra Vista, no Arizona.
Ela nasceu sem braços devido a uma condição congênita rara. No entanto, isso não tem sido um obstáculo para realizar atividades diárias com os pés, como se vestir, comer, escrever e se maquiar.
Desde pequena, procura ser independente, apesar dos olhares curiosos das pessoas, às quais, ela diz, está acostumada.
"Algumas pessoas ficam surpresas ao me ver, outras apenas querem olhar para dentro. Há até quem sinta rejeição, pois não está acostumada a ver os pés fazendo as funções das mãos", relatou a jovem piloto.
"Alguns acreditam que os pés são sujos, pois tocam o chão ou estão dentro dos sapatos. Há toda uma gama de reações", acrescentou.
Jessica Cox não usa próteses desde os 14 anos de idade. Ela é capaz de dirigir seu carro, que não tem nenhum equipamento especial. Também possui uma licença de dirigir sem restrições e escreve 25 palavras por minuto no teclado.
Seguindo o conselho de seu pai, a jovem decidiu aceitar o convite feito em 2005 para voar, apesar do medo de aviões.
Desde aquela primeira vez que voou em um pequeno avião, ela diz ter sido "fisgada", então, de volta ao solo, sabia que a próxima coisa que faria seria aprender a pilotar.
Depois de três anos de treinamento e vários instrutores, Jessica obteve sua licença de piloto em outubro de 2008, desde então ela está qualificada para pilotar aeronaves esportivas leves que alcançam uma altitude de até 10 mil pés.
Licenciada em Psicologia pela Universidade do Arizona, Cox dedica-se a fazer turismo pelos Estados Unidos e o resto do mundo, compartilhando sua história de superação pessoal.
Suas conversas lhe permitiram visitar 23 nações diferentes.
"É importante para mim compartilhar minha história, acho que fui abençoada com a oportunidade de influenciar as pessoas em um nível mais profundo", diz.
Enquanto toma café da manhã e põe manteiga com seus pés, assegura: "Ter nascido sem braços foi mais uma vantagem do que uma desvantagem".
Em 2015, Jessica publicou o livro autobiográfico "Disarm Your Limits" ("Desarme seus Limites", em português), onde narra os problemas que enfrentou e como os superou.
Um desses empecilhos foi a decisão de abandonar as próteses.
Ela garante que "as odiava" porque eram muito pesadas e também causavam de brincadeiras de mau gosto na escola, onde a chamavam, entre outros apelidos, "menina robô" e "Capitão Gancho".
Quando sua família se mudou para Tucson, ela estava prestes a começar a oitava série, e decidiu ser a "verdadeira Jessica". E a "Jessica real não usa prótese".
Aos 10 anos, ela começou a treinar taekwondo. Aos 14 conseguiu a sua primeira faixa preta, tornando-se na primeira mulher sem braços com faixa desta cor na Associação Americana de Taekwondo.
Com seu marido, Patrick Chamberlain, ela forma uma dupla de embaixadores da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada em 2006 pelas Nações Unidas.
"Infelizmente, os Estados Unidos não fazem parte deste acordo", lamentou Cox.
Para ela, é muito importante não apenas que pessoas com deficiências físicas sejam respeitadas, mas também que tenham melhores oportunidades, especialmente no mercado de trabalho.
"Minha mensagem principal para pessoas que têm algum tipo de deficiência física é que não importa os obstáculos, há uma fórmula para 'administrá-los', que inclui desejo, coragem, inovação e acima de tudo perseverança", afirmou.
Jessica Cox, que além de praticar ciclismo, agora aprende a caminhar sobre a corda bamba. Ela indica que sua fé católica a inspirou a melhorar a si mesma e tentar ajudar os outros a superar seus próprios obstáculos.
E sua vida inspirou o documentário "Right Footed", dirigido por Nick Spark, em 2015.
"Atualmente posso dizer que a única coisa que preciso de ajuda é fazer um rabo de cavalo no meu cabelo, mas estou trabalhando nisso", finalizou. EFE
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