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Trudeau tenta controlar crise que ameaça derrubá-lo do poder no Canadá

05/03/2019 21h02

Julio César Rivas.

Toronto, 5 mar (EFE).- O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, se reuniu nesta terça-feira com seus principais colaboradores para tentar controlar a crescente crise aberta após a renúncia de duas ministras, que denunciaram ter sofrido pressão política para favorecer uma empresa.

Trudeau cancelou uma visita que faria à cidade de Regina, na região central do país, para realizar uma série de reuniões fechadas com seus assessores mais próximos sobre o escândalo.

A mudança na agenda ocorreu ontem após a renúncia inesperada da ministra do Tesouro, Jane Philpott, que alegou ter perdido a "confiança no governo" depois das pressões políticas sobre a ex-ministra de Justiça, Jody Wilson-Raybould.

Philpott disse em carta que decidiu deixar o posto por não conseguir defender todas as ações da gestão de Trudeau.

Hoje, os principais comentaristas políticos do país destacaram a excepcionalidade das renúncias na histórica da política do país.

No passado, outros importantes ministros deixaram o governo canadense após divergir dos respectivos primeiros-ministros. Mas ninguém se lembra de um escândalo como o atual, agravada pela renúncia ter sido provocada por questões tão fundamentais.

O desafio imposto pelas duas ministras, que até a renúncia eram consideradas duas das pessoas mais importantes do gabinete, colocou Trudeau em uma saia justa e ameaça o futuro do governo.

O primeiro-ministro, agora, precisa pensar com cuidado as decisões que tomará no futuro. Uma das primeiras ações que precisarão ser tomadas é expulsar Wilson-Raybould e Philpott do Partido Liberal, liderado por ele, já que elas informaram que pretendem seguir trabalhando em favor da legenda.

"As duas ex-ministras seguem sendo liberais de carteirinha, permanecendo no grupo parlamentar e essencialmente desafiando Trudeau a expulsá-las pelas declarações públicas de falta de confiança no primeiro-ministro", afirmou Susan Delacourt, uma das principais comentaristas políticas do Canadá.

Por enquanto, Trudeau escolheu manter uma imagem de normalidade. Ontem, realizou um comício nos arredores de Toronto para defender o plano de seu governo de lutar contra a mudança climática.

Diante de centenas de simpatizantes, o primeiro-ministro agradeceu pelo trabalho de Philpott no governo e continuou o discurso, afirmando que havia preocupações mais importantes.

Uma postura similar foi adotada pela ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, considerada por muitos como a vice-premiê extraoficial do governo de Trudeau.

Em entrevista coletiva concedida em Montreal, Freeland elogiou o trabalho de Philpott e, na sequência, declarou apoio ao chefe.

"Quero ressaltar que ela é minha amiga", disse a chanceler, acrescentando ter "total confiança" em Trudeau.

Apesar da estratégia, as renúncias de Wilson-Raybould e Philpott após as denúncias da ex-ministra da Justiça de que foi pressionada para favorecer a maior construtora do país, a SNC-Lavalin, estão prejudicando a imagem do primeiro-ministro.

Pesquisa divulgada nas últimas horas e realizada entre sexta-feira e ontem indica que o Partido Liberal só tem o apoio de 31% dos canadenses, três pontos percentuais a menos que há duas semanas, e abaixo dos 40% do opositor Partido Conservador.

Se a queda não é suficientemente preocupante para os liberais faltando sete meses para as próximas eleições gerais, outra pesquisa publicada nos últimos dias mostra que Trudeau está perdendo apoio até dentro de seu núcleo de eleitores.

Segundo pesquisa do Instituto Angus Reid, a distância entre Trudeau e o líder conservador, Andrew Scheer, entre as eleitoras mulheres, uma das chaves da vitória do primeiro-ministro em 2015, caiu apenas para seis pontos percentuais. EFE