Homem que denunciou crime de honra é assassinado no Paquistão
Islamabad, 7 mar (EFE).- Um cidadão que denunciou aos tribunais do Paquistão o suposto assassinato de quatro mulheres jovens que apareceram em 2012 dançando em um vídeo ao lado de homens foi assassinado a tiros na cidade de Abbottabad, no norte do país, informaram nesta quinta-feira à Agência Efe diversas fontes.
"Homens armados não identificados abriram fogo contra Afzal Kohistani às 20h30 de quarta-feira (12h30, em Brasília) na ponto de ônibus Gami de Abbottabad. Morreu no ato enquanto dois transeuntes ficaram feridos pelos tiros", indicou o oficial da polícia local Gul Afridi.
Além de elevar o tom contra a suposta execução ordenada por um tribunal tribal que considerou imoral o vídeo das jovens, Kohistani era irmão de dois meninos que apareciam no vídeo, explicou Farzana Bari, membro de uma das comissões constituídas pelo Supremo Tribunal para investigar o caso.
De acordo com a também ativista, os acusados e a corte afirmaram que as meninas estavam vivas, mas em janeiro a polícia corroborou durante um julgamento a morte não só destas quatro jovens, mas também de uma quinta e de outros três homens relacionados com o caso.
"Kohistani vivia com medo constante da morte e se movia de um lado para outro pelas ameaças de morte. Me disse muitas vezes que estava recebendo ameaças e que tinha pedido proteção policial, mas ninguém deu muita atenção e hoje está morto", alertou Bari.
A fonte lembrou que Kohistan, o local onde ocorreu o suposto assassinato das jovens, registra frequentemente crimes de honra e ninguém se manifestava contra eles, com exceção de Kohistani.
As autoridades detiveram até o momento três pessoas relacionadas com as supostas execuções das meninas e o principal órgão judicial constituiu três comissões investigadoras para esclarecer os detalhes dos fatos diante da insistência dos acusados de que as jovens estão vivas.
Os chamados "crimes de honra" são muito frequentes no sul da Ásia e costumam envolver homens de uma família que vingam o que consideram uma afronta que transgride a conservadora moral familiar das sociedades locais.
Segundo dados da ONG Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (HRCP), entre 2004 e maio de 2018 ocorreram no país 17.628 crimes de honra, mas acredita-se que o número real possa ser muito mais alto devido à falta de denúncias e porque em muitos casos são cometidos por familiares próximos.
O Governo paquistanês aprovou em 2016 uma lei que proíbe os perdões dos familiares das vítimas neste tipo de crimes, uma brecha legal com a qual muitos homens ficavam livres após matar uma mulher, em geral uma irmã ou uma esposa.
No entanto, grupos de direitos humanos e ativistas advertiram que a lei teve pouco causo impacto na hora de frear estes crimes. EFE
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