"Precisamos de uma mulher presidente do Senegal", diz 1ª prefeita da capital
María Rodríguez.
Dakar, 8 mar (EFE).- Soham el Wardini, primeira mulher a dirigir a prefeitura de Dakar, vê essa conquista como uma "honra" e um "orgulho" para as senegalesas, mas disse à Agência Efe que é preciso seguir adiante: "Necessitamos de uma mulher presidente da República".
A também primeira vereadora, de 66 anos, é a 22ª pessoa a ocupar esse posto, mas em 29 de setembro fez história ao se transformar na primeira mulher do Senegal a cuidar das rédeas da Câmara Municipal da capital.
Por isso, quando sua eleição foi divulgada, "todas as mulheres aplaudiram", assegurou El Wardini em entrevista à Agência Efe em seu amplo escritório em Dakar, onde destacam-se as bandeiras da cidade e do país.
"Foi nesta ocasião que fiz um chamado a todas as mulheres para que juntas superemos todos os desafios porque, se a primeira mulher prefeita de Dakar não tiver sucesso, será um assunto polêmico", explicou.
O papel das mulheres nas esferas públicas e políticas do Senegal está muito limitado e continua sendo minoritário, apesar de representarem 50,2% da população.
Por isso, quando sua coalizão, Taxawu Dakar, lhe propôs a candidatura à prefeitura da capital, ela se surpreendeu. "Não esperava - admitiu à Agência Efe -, nem tinha trabalhado com a ideia de ser".
El Wardini comentou que, pelo fato de ser mulher e estar na política, terreno assumido neste país da África Ocidental pelos homens, ela "particularmente" teve "muitíssimas dificuldades", especialmente dentro de seu partido.
Professora de formação, a prefeita decidiu entrar na política em 1999 como militante da Aliança de Forças de Progresso (AFP) de Moustapha Niasse, e em 2009 chegou à Câmara Municipal de Dakar como vice do então prefeito, Khalifa Sall.
No entanto, pelo fato de ser mulher, o caminho não foi simples. "Nossos partidos políticos são muito difíceis para as mulheres. Tínhamos uma responsável que nos dizia: 'se não tem os meios econômicos, fique atrás do responsável masculino de vocês, porque se não, não irão conseguir nada", contou El Wardini.
"Para fazer política aqui é necessário muito dinheiro e, se não for autônomo do ponto de vista financeiro - uma realidade social das mulheres neste país, onde dependem do marido - como vão conseguir?", questionou.
"É por isso que muitas mulheres não querem disputar alguns postos com os homens e, quando se trata de uma posição de responsabilidade, elas se colocam sempre atrás deles, se limitando a fazer parte de movimentos femininos", ressaltou.
No entanto, quando chegou em 2009 à Câmara Municipal, viu que "todos esses problemas no seio do meu partido não existiam aqui".
"Tínhamos um prefeito que nos dizia que fomos eleitos pela população de Dakar, portanto uma vez aqui, deixamos nossos partidos na porta e trabalhamos por Dakar. Isto gerou um ambiente muito bom. Poderia dizer que foi aqui onde me realizei", lembrou a agora prefeita.
A prefeita de Dakar tenta introduzir na agenda política alguns temas relacionados com questões específicas das mulheres, mas, devido ao fato de seu mandato não durar mais do que até dezembro, por ser uma continuidade ao de Khalifa Sall (2009-2018), acusado e preso por corrupção, decidiu se concentrar em três eixos.
Em primeiro lugar, no programa "Dakar, Cidade Limpa", com o objetivo de que "Dakar não se situe entre as cidades mais sujas no mundo".
Em segundo lugar, em um fundo de financiamento para as mulheres e jovens, "porque no nosso orçamento não há um fundo específico para as mulheres".
E, por último, nas escolas. "Vamos tentar reabilitar as escolas porque datam de tempos da colonização e, desde então, não foi feito nada nesse terreno", explicou.
No Senegal foi aprovada em maio de 2010 a Lei de Paridade e nas eleições legislativas de 2012 o número de deputadas passou de 33 a 64 de um total de 150 cadeiras, ou seja, de 22% para 42,6%.
Em 2017, após um aumento no número de deputados a 165, chegaram a ser 70 mulheres, o que se traduziu em uma leve redução de representação (42,4%).
Apesar disso, desde então há mais mulheres na Assembleia Nacional, assim como nos conselhos municipais. "A mulher pode estar ainda muito mais presente na vida política", frisou a prefeita.
Dos 300 partidos políticos existentes no Senegal, apenas três são liderados por mulheres e, sem contar com sua recente designação na capital, só duas mulheres são prefeitas nos municípios de Kaolack e Podor, segundo El Wardini.
"Nas eleições de 24 de fevereiro, nenhuma mulher foi selecionada como candidata presidencial, por isso que ainda há trabalho por fazer para que cheguemos verdadeiramente ao mesmo nível dos homens", assegurou, em alusão ao pleito no qual o presidente senegalês, Macky Sall, conseguiu a reeleição.
"É um combate de todas as senegalesas e acredito que o conseguiremos", previu.
El Wardini deseja que a mulher senegalesa esteja cada vez mais presente na vida política, porque "cada vez mais estão em maior número, sobretudo as mulheres mais jovens, as que se interessam por política".
"Antes era um pouco difícil, as mulheres estavam aí só para aplaudir os homens, mas agora disputam com eles alguns postos, algumas são autônomas e capazes de mobilizar", declarou.
El Wardini assegurou que, ao contrário de Khalifa Sall, que apresentou sua candidatura às recentes eleições presidenciais, embora tenha sido excluído por estar envolvido em um caso de corrupção, não tem essa "ambição".
"Eu ficarei atrás das jovens para apoiá-las. Conto muito com essas futuras dirigentes. Necessitamos de uma mulher presidente da República", insistiu. EFE
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