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Bouteflika desiste de concorrer à reeleição na Argélia em meio a protestos

11/03/2019 16h40

Argel, 11 mar (EFE).- O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, desistiu nesta segunda-feira de apresentar sua candidatura à reeleição nos pleitos de abril, os quais também adiou para instalar um período de transição.

Sua decisão é anunciada em meio a uma onda de protestos em todas as partes da Argélia e entre rumores sobre seu verdadeiro estado de saúde, já que o governante, de 82 anos, esteve internado em um hospital da Suíça durante 15 dias até este domingo.

Em comunicado lido no principal telejornal noturno do país, Bouteflika anunciou também o adiamento das eleições presidenciais previstas para o próximo dia 18 de abril e a abertura de um período de transição que permita escolher um substituto nas urnas.

O processo de transição será dividido através da convocação de uma conferência nacional "independente e inclusiva", cujos detalhes não ofereceu, e da formação de um governo de união nacional que tutele todo o processo.

Neste sentido, a desistência de Bouteflika, que estava há duas décadas no poder, para concorrer a um quinto mandato consecutivo chega acompanhada da renúncia do primeiro-ministro, Ahmed Ouyahia, e de todo seu gabinete.

A decisão é anunciada menos de três semanas depois que centenas de milhares de argelinos saíram pacificamente às ruas do país para exigir a renúncia do governante e a queda de regime, que acusam de ser corrupto.

As mobilizações começaram há vários meses nos campos de futebol e saltaram às ruas do país no último dia 22 de fevereiro, dois dias antes que o presidente fosse levado a Genebra para ser hospitalizado e antes que o regime suspendesse a inauguração do novo aeroporto de Argel.

Desde então foram crescendo a cada sexta-feira e mutando para passar de ser um protesto contra o quinto mandato de Bouteflika a se transformar em um clamor popular de centenas de milhares de pessoas contra a corrupção de um regime dominado pelo exército e os serviços secretos desde a independência da França em 1962.

Na presidência desde 1999, Bouteflika sofreu em 2013 um "derrame cerebral" que minou suas faculdades físicas e que já lhe impediu de fazer campanha nas eleições presidenciais do ano seguinte, embora mesmo assim tenha vencido o pleito.

Desde então não fala em público, se locomove em uma cadeira de rodas empurradas pelo seu irmão Said e suas aparições públicas são escassas, reduzidas às imagens gravadas pela emissora estatal por conta dos conselhos de ministros ou de visitas de altos dignatários estrangeiros.

Além disso, há meia década Bouteflika não viaja para o exterior e nos dois últimos anos cancelou de última hora, por "recaídas de saúde", reuniões já confirmadas com dirigentes como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman. EFE